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P. Manuel Barbosa, scj
Sínodo para encontrar, escutar, discernir
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A Igreja, sinodal por natureza, está em processo sinodal à luz dos dinamismos de comunhão, participação e missão. Processo que vem dos inícios, não é apenas de agora. Basta acenar aos Atos dos Apóstolos na realização do primeiro concílio no contexto da essência sinodal da Igreja. É certo que ao longo dos tempos este dinamismo permanente se foi perdendo. Porém, o Concílio Vaticano II veio retomar, com toda a força do Espírito, esta dimensão fundamental. Não é por acaso que, em 1965, São Paulo VI institui o Sínodo dos Bispos na vida da Igreja como fruto da última sessão conciliar. Desde então as várias assembleias gerais do Sínodo são processos de uma vida eclesial sempre sinodal.

O processo sinodal 2021-2023 iniciou-se neste mês de outubro: no dia 10, em toda a Igreja universal com o Santo Padre em Roma; no dia 17, em quase todas as Dioceses. No Patriarcado de Lisboa, o início da fase diocesana será amanhã, dia 25, para coincidir com a Dedicação da Sé Catedral.

É bom lembrar que todos estão convocados, ninguém deveria ficar ou ser posto fora deste processo, particularmente os “afastados”. Tudo deve acontecer na escuta do Espírito, para perceber o que nos diz para renovar a Igreja hoje, e na escuta mútua caminhando juntos como irmãos, próximos e afastados.

Na abertura do processo, à luz do Evangelho que narra o episódio do jovem rico que vai ao encontro de Jesus com a questão decisiva sobre a vida eterna, o Papa Francisco aponta três verbos do Sínodo: encontrar, escutar, discernir.

ENCONTRAR. Um encontro pode mudar a vida. Os encontros de Jesus com as pessoas, sem pressas e sem olhar para a agenda, são decisivos para transformar as suas vidas. Diz o Papa: «Somos chamados a tornar-nos peritos na arte do encontro; peritos, não na organização de eventos ou na proposta duma reflexão teórica sobre os problemas, mas, antes de mais nada, na reserva dum tempo para encontrar o Senhor e favorecer o encontro entre nós: um tempo para dar espaço à oração, à adoração, àquilo  que o Espírito quer dizer à Igreja; para fixar-se no rosto e na palavra do outro, encontrar-nos face a face, deixar-se tocar pelas perguntas das irmãs e dos irmãos, ajudar-nos a fim de que a diversidade de carismas, vocações e ministérios nos enriqueça». Um encontro com abertura, coragem e disponibilidade, sem relações formais nem máscaras de ocasião, sem fingimentos nem maquilhagens.

ESCUTAR. Jesus escuta o jovem rico com o coração, não apenas com os ouvidos, dá-lhe todo o tempo para se sentir acolhido e contar a sua história de vida, escuta sem julgamentos nem preconceitos. O Papa questiona-nos quanto a este itinerário sinodal: «Como estamos quanto à escuta? Como está “o ouvido” do nosso coração? Permitimos que as pessoas se expressem, caminhem na fé mesmo se têm percursos de vida difíceis, contribuam para a vida da comunidade sem ser estorvadas, rejeitadas ou julgadas?» Escutar sem procurar respostas artificiais, e “pronto-a-vestir”, sem insonorizar o coração.

DISCERNIR. O encontro e a escuta conduzem ao discernimento espiritual e eclesial, à decisão, ao compromisso. O Sínodo é um acontecimento da graça, sob a orientação do Espírito, que faz com que não seja «uma convenção eclesial, um convénio de estudos, um congresso político ou um parlamento».

 

E o convite final do Papa: «Sejamos peregrinos enamorados do Evangelho, abertos às surpresas do Espírito Santo. Não percamos as ocasiões de graça do encontro, da escuta recíproca, do discernimento. Com a alegria de saber que, enquanto procuramos o Senhor, é Ele quem primeiro vem ao nosso encontro com o seu amor».

Tanta variedade no muito que se diz e escreve sobre o processo em curso pode descentrar a nossa atenção do essencial. Julgo que estas indicações, breves mas preciosas, do Papa Francisco contribuem para que levemos na mente e no coração o processo sinodal, em particular nestes meses, poucos mas incisivos, da fase diocesana.