Lisboa |
I Jornadas da Casa São Francisco de Assis, antiga Casa do Gaiato de Lisboa
Um “despertador social”
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O Cardeal-Patriarca comparou as instituições como a Casa São Francisco de Assis (antiga Casa do Gaiato de Lisboa) a um “despertador social” que quebra “bloqueios” e “mostra que é possível” ultrapassar desafios, por maiores que eles sejam. Ao Jornal VOZ DA VERDADE, a diretora geral da instituição, Maria Teresa Antunes, explica o que mudou com a nova designação e assegura que a instituição terá “um estado de prontidão para as crises sociais que existirem”.

 

O mês de outubro assinalou o início da nova designação da antiga Casa do Gaiato de Lisboa. Por sugestão direta do Papa Francisco, passou a chamar-se Casa São Francisco de Assis e teve, no dia 12 de novembro, as primeiras jornadas com o objetivo de marcarem a nova etapa desta instituição tutelada pelo Patriarcado de Lisboa desde 2006. Na sessão solene, o Cardeal-Patriarca começou por agradecer e reconhecer o trabalho “extraordinário” desempenhado pela atual direção da instituição, particularmente pela diretora geral, Maria Teresa Antunes, e “todos os que têm colaborado com ela, nesta magnífica ressurreição de uma ideia bonita dos anos 40, 50 – nessa altura, protagonizada pelo padre Américo, de saudosa e feliz memória – e, agora, relançada, desde que, em 2006, o Patriarca de Lisboa de então – também saudoso, D. José Policarpo – tomou conta desta casa”. “Tudo o que se tem feito desde esse tempo para cá, concretamente desde que eu pude acompanhar mais de perto a instituição – desde 2013 – tem rostos concretos, tem uma enorme boa vontade, competência e uma dedicação inexcedível de todos que, nesta casa, dão o melhor do seu coração, da sua inteligência, da sua dedicação”, reforçou D. Manuel Clemente.

 

É possível

Na sua intervenção, o Cardeal-Patriarca de Lisboa comparou esta obra social, e outras semelhantes, a um “despertador social” que pode pôr fim aos “bloqueios” que surgem quando se enfrentam “desafios de toda a ordem, problemas internos e externos”. “O que é normal, na reação humana, perante a imensidão dos problemas é um certo bloqueio, pensando no que posso fazer para resolver questões tão complexas e que me ultrapassam infinitamente. Isto, tanto a nível particular, como a nível institucional, como a nível do próprio Estado – que somos todos nós, politicamente organizados. Neste contexto, instituições como esta Casa São Francisco de Assis é aquilo a que eu posso chamar um ‘despertador social’. Uma instituição como esta, e com o que tem acontecido aqui, é um ‘despertador social’, porque é como um toque que nos acorda e debloqueia e mostra que é possível”, garantiu D. Manuel Clemente, apelando a não desistir. Outra das consequências deste ‘despertador social’, enumeradas pelo Cardeal-Patriarca, é a de fazer com que “muitas boas vontades, que também estavam mais ou menos bloqueadas, concorram para o mesmo objetivo”. Quando esta dinâmica inicia, mesmo que seja “muito pouco, onde se está, e com os meios que nem se tem, o mundo desperta, as boas vontades aparecem e as obras ultrapassam tudo aquilo que tínhamos projetado, até nos nossos melhores momentos”, garantiu D. Manuel Clemente, no término da sessão solene, que contou com as presenças do presidente da Câmara Municipal de Loures, Ricardo Leão, e da procuradora coordenadora da Comarca de Lisboa Norte, Maria de Lurdes Rodrigues Correia, e que teve ainda uma mensagem vídeo do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa (ver caixa).

 

Ponto de partida

Para a diretora geral da Casa São Francisco de Assis, Maria Teresa Antunes, o dia em que se assinalou o culminar de sete anos desde que o processo de refundação teve início foi “surpreendente”, pela “quantidade de pessoas, a representar tantas instituições, que estiveram connosco ao longo destes anos”. Durante o dia 12 de novembro, a capela da instituição, em Santo Antão do Tojal, recebeu vários oradores que, a partir do tema ‘Com Francisco, no centro das periferias’, refletiram sobre a proteção das crianças e jovens, a pobreza e a aceitação das limitações. “É sempre bom que confirmem que estão connosco neste caminho, agora, com esta alteração de nome que surge como o culminar de um conjunto de mudanças que têm vindo a ser implementadas desde 2014 e como desafio de uma abertura constante do que poderá vir, com um estado de prontidão a que somos chamados a estar”, salienta, ao Jornal VOZ DA VERDADE.

Maria Teresa Antunes acompanha a instituição praticamente desde o primeiro dia em que esta passou a ser tutelada pelo Patriarcado de Lisboa, em 2006, embora só em 2014 tivesse começado a ter funções executivas. Esteve na apresentação da proposta de refundação da antiga Casa do Gaiato de Lisboa e descreve como decorreu este processo. “Começámos por um estudo prévio do que era necessário. Tínhamos, na altura, três respostas, sendo que uma para licenciar – a resposta matriz sobre o tratamento de crianças e jovens em perigo. Depois, outras que iam ao encontro das necessidades e projetos de vida que eles queriam. E havia ainda a necessidade de criar um apartamento de autonomização e também uma residência autónoma para jovens que, estando connosco desde pequenos, tinham algumas limitações do desenvolvimento cognitivo que os impedia de pensarmos numa autonomia a curto prazo”, começa por explicar.

O processo passou por estabelecer uma série de contactos com a comunidade local, nomeadamente a autarquia lourense. “Fomos desafiados a ir mais além das três respostas porque o Município de Loures não tinha, na altura, um lar residencial e um centro de atividades ocupacionais. Portanto, nenhuma resposta de acolhimento e de ocupação para as pessoas adultas e com deficiência cognitiva”, revela.

 

Resposta a uma realidade dinâmica

Em 2015, o “forte apelo do Papa Francisco” para o acolhimento de refugiados que chegavam à Europa, maioritariamente vindos da Síria, recebeu resposta imediata por parte da instituição do Patriarcado de Lisboa. “Espaço não nos faltava e começámos, desde essa altura, a fazer parte da PAR - Plataforma de Apoio aos Refugiados enquanto instituição anfitriã”, descreve. No ano seguinte, nasceu a ‘Casa Mundo’ e foram abertos o ‘Apartamento da Autonomização’ e a ‘Residência Autónoma’, ainda sem os acordos de cooperação com a Segurança Social, que só viriam a ser assinados em 2018, também para a ‘Casa de Acolhimento de Crianças e Jovens’.

A ‘Casa Mundo’ continua a contar com o apoio da PAR e, entretanto, “houve um aumento dos pedidos para acolher crianças dos PALOP, acompanhadas pelas mães, que estão em Portugal para receberem tratamento médico”. São “situações de nenhuma retaguarda logística e residencial – apenas o apoio médico providenciado pelo Estado Português”, conta a diretora geral da instituição, avançando que, desde 2016, já passaram por esta valência 29 pessoas, sendo 9 dos PALOP e 20 refugiados.

Outras das respostas sociais da instituição é a ‘Casa Papa Francisco - Lar Residencial’ e o ‘Centro de Atividades Ocupacionais’, abertas em “plena pandemia”, durante o ano 2020. “Paralelamente a estas respostas, estamos também com alguns projetos sociais, orientados para o exterior, através dos contratos locais de ação social, em consórcio com outras instituições. Sempre no eixo do combate à pobreza infantil”, reforça Maria Teresa Antunes. Para o futuro mais próximo, esta responsável revela que a instituição está “muito perto” de ter uma nova resposta a um “fenómeno crescente”: os jovens, menores, não acompanhados.

Por último, Maria Teresa Antunes garante que se pode esperar desta instituição “um estado de prontidão para as crises sociais que existirem”. “Preservámos da inspiração e missão do padre Américo esta abertura às situações sociais de maior necessidade, mais críticas. A realidade é dinâmica e temos como missão acompanhar esse dinamismo de resposta a essas necessidades”, garante a diretora geral da agora Casa São Francisco de Assis.

 

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“Uma mudança com sentido”

Numa mensagem vídeo, o Presidente da República salientou a importância da cerimónia que decorreu na Casa São Francisco de Assis por esta marcar “um reinício mais ambicioso, mais abrangente”, da instituição. “Durante os anos de mudança passados, a Casa São Francisco de Assis soube modernizar-se naquilo que é edificado, mas, sobretudo, nas respostas sociais que disponibiliza”, sublinhou Marcelo Rebelo de Sousa, que não pôde estar presente por “motivos imperativos de agenda”.

A “mudança” na designação da instituição, que agora acontece “inspirada pelo desafio direto do Papa Francisco”, está, na opinião do Presidente da República, “totalmente de acordo com os objetivos e a missão da obra social desenvolvida”. “Uma mudança com sentido, tendo em conta todo o caminho percorrido, mas, sobretudo, o que está ainda por percorrer. Portugal pode contar convosco, com o vosso esforço, o vosso trabalho diário, nesta Casa São Francisco de Assis”, reconheceu Marcelo Rebelo de Sousa, terminando com o apelo a “uma sociedade mais justa e mais fraterna”. “É esse o apelo de hoje, será essa a vossa resposta de amanhã”, concluiu.

 

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O programa é a “Fraternidade”

Numa intervenção que visou sobre ‘O que pode ser hoje uma casa de São Francisco de Assis’, frei Isidro Lamelas apresentou a “fraternidade” como resumo do “programa identitário”, proposto a todos os que estão ligados à instituição tutelada pelo Patriarcado. Nesse sentido, este membro da Ordem dos Frades Menores enumerou “as 7 cores do arco-íris da Fraternidade franciscana”: ‘Gratuidade; Fratelli Tutti: todos iguais, todos diferentes; Fraternidade inclusiva: acolher e amar o irmão como ele é; Reciprocidade e corresponsabilidade; Pobreza, fonte de riqueza; Uma Fraternidade vivida, real e concreta; A misericórdia que cura’. No final da intervenção, frei Isidro Lamelas deixou ainda a sugestão a todos os que estão ligados à instituição para fazerem da oração atribuída a São Francisco a sua oração diária, um hino e um “comum programa de vida”.

 

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“Para nos encontrarmos nos outros”

No final das I Jornadas da Casa São Francisco de Assis, o Cardeal-Patriarca de Lisboa apelou à entrega aos outros como caminho de encontro com Deus. “Somos pessoas, seres de relação, vivemos para a relação, e, aqui, esse relacionamento é constante e como nós acreditamos, sabemos e Jesus Cristo nos ensina: é precisamente quando nos perdemos para nos encontrarmos nos outros que nos perdemos em Deus para nos salvar para sempre”, frisou D. Manuel Clemente. “É na medida que nos damos às coisas e, nas coisas, às pessoas, que nós nos ganhamos. Não temos medo, porque amamos!”, concluiu o Cardeal-Patriarca, na homilia da celebração que foi animada pelos jovens que estão ligados à instituição.

texto e fotos por Filipe Teixeira
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