As medidas adequadas no combate à crise climática exigiam uma resposta satisfatória em todos as frentes: mitigação, adaptação, financiamento e justiça climática. Em nenhuma delas esta COP cumpriu inteiramente. Ficámos bem aquém de assegurar uma trajetória que garantisse um aquecimento não superior a 1,5°C em relação à era pré-industrial. Trata-se de um status quo iníquo, para a resolução do qual a 26ª Cimeira do Clima não deu os contributos necessários. Contudo, se o texto final não agrada inteiramente a ninguém, não deixa de ser uma base para progressos futuros.
No final, a emenda proposta pela Índia de considerar a redução do uso de carvão ao contrário da sua eliminação é lamentável e mostra a enorme dependência de muitos países deste combustível fóssil em particular que é um elemento fundamental da descarbonização global.
Esta COP não assegurou 1,5°C, mas deixou uma porta entreaberta para tentarmos lá chegar. A COP26 vai assim a prolongamento na Cimeira do Clima no Egito em 2022, tempo extra que temos o dever de usar sabiamente.
12 dias em Glasgow e uma 25ª hora
A ZERO, a Oikos e a Fundação Fé e Cooperação (FEC) estiveram presentes na 26ª Cimeira do Clima, a COP26, que começou com o mundo a caminho de um aumento de temperatura de 2,4°C devido às emissões de gases de efeito de estufa e uma intensificação de eventos climáticos extremos ligados às alterações climáticas – incluindo inundações, furacões e incêndios florestais. Os países do mundo juntaram-se nesta cimeira organizada pelas Nações Unidas para traçar uma ação coletiva urgente para fazer face à catástrofe climática iminente, fazendo cumprir o Acordo de Paris assinado em 2015, o qual visa manter o aquecimento global “bem abaixo” de 2°C, idealmente 1,5°C. Nesta COP pedia-se a 196 países e à União Europeia que apresentassem planos de redução de emissões até 2030, com o objetivo de continuar a reduzi-las até se atingir a neutralidade climática global em 2050.
A primeira semana foi marcada pelos discursos dos líderes políticos, quer em presença, quer por videoconferência, com destaque para os discursos dos chefes de Estados e primeiros-ministros dos países mais relevantes, quer em termos do peso das suas economias, quer em termos de responsabilidade histórica nas emissões que contribuem para o aquecimento global. Houve também discursos marcantes de pequenos países já fortemente afetados pelas alterações climáticas, com o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, a repetir a palavra “basta”, apelando à necessidade de mudarmos um curso que coloca em perigo a humanidade.
A confirmação da ausência na cimeira do presidente Chinês Xi Jinping e a falta de novos compromissos significativos da parte da China na redução das emissões, nomeadamente já a partir de 2025 como a ciência indica ser imprescindível, foi uma desilusão. Os presidentes da Rússia e do Brasil também decidiram não comparecer, o que não ajudou em termos do sinal que os líderes devem passar sobre a importância deste problema e destas negociações decisivas.
A segunda semana foi marcada pelas negociações técnicas por parte das delegações dos países e pela chegada dos ministros do ambiente, energia e clima e outros membros governamentais para tomarem as rédeas da componente política das negociações.
A presença de Barack Obama na cimeira no início da segunda semana, afirmando que o planeta está fora de rumo e apelando aos jovens para se manterem firmes na luta climática, e o regresso de Boris Johnson na quarta-feira dessa semana com um apelo desesperado aos negociadores para um verdadeiro progresso nas conversações, foram mais um estímulo político para acelerar as negociações.
António Guterres voltaria ainda na quinta-feira, penúltimo dia do calendário da COP26, para elogiar os negociadores pelos seus esforços, mas advertindo que o processo estava ainda muito longe do ambicionado, dizendo que o pior seria chegar a um acordo em que o mínimo denominador comum não respondesse aos enormes desafios enfrentados.
Ambição climática: um copo meio vazio
Na frente da ambição, eram precisas medidas de mitigação para conter o aquecimento do planeta em 1,5°C, o limite máximo de segurança para evitar um aumento dramático de fenómenos climáticos extremos.
O acordo alcançado de redução até 2030 das emissões de metano, o segundo gás mais importante em termos de emissões e responsável por cerca de 30% do aquecimento global, foi um passo muito significativo, pois este gás é uma peça chave para reduzir as emissões até 2030. O metano é um gás com um potencial de aquecimento mais de 80 vezes superior ao do dióxido de carbono a 20 anos, mas com um tempo de vida média na atmosfera muito mais curto que o dióxido de carbono: só cerca de 12 anos, em comparação com os mais de 100 anos do dióxido de carbono, pelo que só cortando nas emissões de metano se consegue reduzir o efeito de estufa rapidamente.
Contudo, apesar de o acordo do metano ser um bom passo, a verdade é que houve importantes países que ficaram de fora, como a China, a Índia e a Rússia, além de a redução anunciada, de 30%, ser pequena; a ZERO e organizações da sociedade civil entendem que deveria ser de pelo menos 50%, pois o metano é gás natural, e tem, portanto, um valor económico, pelo que reduzir as suas emissões, por exemplo evitando fugas, é fácil e custo eficaz.
Outro marco foi a adesão ou o assumir de maior ambição de 23 novos países num acordo que assume o fim do uso de carvão na produção de eletricidade. Este acordo inclui a Polónia, um país fortemente dependente do carvão, mas com centrais cujo funcionamento está planeado até 2049. Note-se que, face à dimensão deste país, a eliminação do uso do carvão deveria ter lugar no máximo até 2040. Há também outros países, como a China, Índia e os Estados Unidos, que lamentavelmente ficaram de fora.
Um acordo a merecer especial atenção é o das florestas, em que mais de 100 países, incluindo o Brasil, se comprometem a acabar com a desflorestação até 2030. O conjunto destes países representa cerca de 85% das florestas mundiais. O acordo contempla um financiamento importante, público e privado, de cerca de 20 mil milhões de dólares para pagar a proteção das florestas. Trata-se de um acordo relevante, embora um anterior, também no âmbito da Convenção Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas, alcançado em 2014, tenha falhado nos seus objetivos.
Artigo completo em www.fecongd.org
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