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Missa no 50.º aniversário da entrada solene na Sé de D. António Ribeiro como 15.º Patriarca de Lisboa
“Agradeçamos a Deus ter-nos dado tão grande pastor”
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O Cardeal-Patriarca de Lisboa recordou como o Cardeal Ribeiro foi pioneiro e assertivo no seu pontificado e ressalvou a “convicção que mantinha e nos ajudava a manter da verdade cristã”. “Saibamos honrar o legado que deixou”, encorajou D. Manuel Clemente, na Missa no 50.º aniversário da entrada solene na Sé de D. António Ribeiro como 15.º Patriarca de Lisboa.

 

“Revivemos hoje o cinquentenário da entrada nesta Sé de D. António Ribeiro, como Patriarca de Lisboa. Mantendo bem vivas na nossa memória tantas qualidades pessoais e pastorais que o ornavam, ressalta decerto a da convicção que mantinha e nos ajudava a manter da verdade cristã, viesse o que viesse. Lembro como insistia em que, além de sinceros, importava sermos verdadeiros”, salientou o atual Cardeal-Patriarca, na Missa a que presidiu no final da tarde do passado dia 21 de novembro, na Sé Patriarcal.

Foi também a 21 de novembro, mas de 1971, que D. António Ribeiro entrava solenemente na diocese. Então, como agora, a celebração teve lugar na Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, com D. Manuel Clemente a recordar, na sua homilia, que “os anos setenta foram caraterizados pela receção do Concílio, que ele nunca hesitou em levar por diante, no respeitante à vida eclesial em si mesma e na relação com o mundo”, mas “resistindo sempre à intromissão de critérios mundanos na esfera eclesial propriamente dita”. Nesta década, no Patriarcado, “foram anos de relançamento da formação sacerdotal e de planificação pastoral alargada, para corresponder ao que o Concílio indicara e as novas condições sociais e políticas exigiam”, lembrou o Cardeal-Patriarca. “Serenamente, convictamente, D. António Ribeiro nunca deixou de prosseguir nessa senda”, sublinhou.

 

Pioneiro e assertivo

Prosseguindo uma ‘viagem’ temporal no pontificado do Cardeal Ribeiro, D. Manuel Clemente lembrou como “os anos oitenta, entre tudo o mais, foram muito férteis no campo da pastoral juvenil”. “Quando nos preparamos agora para a próxima Jornada Mundial da Juventude, cabe relembrar que o método de convocar periodicamente um grande número de jovens para se confirmarem na fé e celebrarem em uníssono a presença de Cristo neles e para todos foi ensaiado aqui pelo Cardeal Ribeiro e pode não ter sido alheio à iniciativa das Jornadas, como São João Paulo II as alargou depois”, observou.

Na década seguinte, os anos noventa, “subiram de tom e mau efeito as propostas fraturantes, atingindo o âmago da vida de cada um, da conceção à morte natural, e das próprias bases familiares da sociedade”. “Mas também no largo campo das necessidades humanas, outras tantas fronteiras onde o Reino de Cristo nos coloca. Nunca nos faltou a sua palavra certa, a lucidez da análise e o testemunho pastoral. Sereno e convicto como sempre”, frisou, nesta celebração na Sé que o Cardeal Ribeiro “tanto serviu e honrou”.

 

«Cristãos entre os cristãos»

Lembrando o ministério patriarcal de D. António Ribeiro, o Cardeal-Patriarca citou depois palavras deste seu antecessor sobre a “identidade e missão” dos sacerdotes. “A dificuldade está na escolha, pois são muitos e luminosos os trechos que dedicou ao tema. Como o que segue, de redobrada atualidade, para não dizer profecia. É da Missa Crismal de 19 de abril de 1973, ainda nos começos do seu ministério patriarcal: «O problema da identidade e da missão do sacerdote só se esclarece à luz da fé. Não conseguirá ver o padre quem para ele dirigir apenas os olhos míopes de um pensamento crítico e racionalista que liminarmente rejeita toda a presença sobrenatural de Deus na história dos homens e reduz o cristianismo a uma moral universal. […] Quando se pretende reduzir Jesus Cristo à dimensão do simples homem, embora genial, e a Igreja à categoria sociológica de mera agremiação humanitária, ainda que credora de relevante papel no desenvolvimento da consciência moral, de admirar seria que a imagem do padre, moldada em Cristo e na Igreja, não sofresse o impacto da mesma agressão.» Não poderia ser mais lúcido o diagnóstico, nem mais certeira a conclusão. Não para afastar o padre da humanidade que compartilha, nem para o afastar do todo eclesial, mas sim para o habilitar no serviço próprio que Cristo lhe confia, para o bem de todos”, recordou, citando depois outra homilia do Cardeal Ribeiro, na Missa Crismal de 13 de abril de 1995: “«A afirmação clara da alteridade do padre não o segrega, nem o desvincula do conjunto dos fiéis. Os padres não constituem uma tribo, nem são membros de uma casta seleta. São cristãos entre os cristãos e para estes são padres»”.

 

Corresponder ao anseio juvenil

As palavras do Cardeal Ribeiro aos jovens não foram esquecidas por D. Manuel Clemente. “Quando tudo nos encaminha sobremaneira para a próxima Jornada Mundial da Juventude em Lisboa, deixemos ainda ecoar a voz de D. António Ribeiro, em 1995, a propósito de idêntica realização. Reparemos como é sempre da verdade que ele trata, como havia de ser para cada jovem e de cada um deles para todos, jovens e outros em geral: «Sei que tendes fome e sede de verdade. O vosso coração anda inquieto e por vezes perturbado, sem saber em quem confiar, em quem pôr a sua esperança, em quem lançar a sua aposta. […] Não vos esqueçais, todavia de que a Igreja é vossa companheira de viagem. Quer caminhar convosco e convida-vos a meter os pés ao caminho […]. A Igreja tem para vos oferecer o que de melhor podeis encontrar: Jesus Cristo e o seu Evangelho. E confia-vos a tarefa, realmente apaixonante, de levardes Cristo e a sua mensagem aos homens e mulheres do nosso tempo.» Reparemos na sequência programática, para o que havemos de fazer também: Corresponder ao anseio juvenil com a verdade evangélica e mobilizar os jovens para a levar a todos. É esta a verdade e o exercício do Reinado de Cristo”, assegurou.

 

A última frase

D. Manuel Clemente concluiu a homilia partilhando a “última frase” que escutou do Cardeal Ribeiro. “Termino com a última frase que ouvi ao Cardeal Ribeiro, já no seu leito de enfermo: «Estou à espera que Ele venha…». Lembrar-se-ia então da promessa que escutámos há pouco, no Apocalipse: «Ei-Lo que vem entre as nuvens, e todos os olhos O verão…». E assim aconteceu com ele, para agora nos inspirar a nós. Agradeçamos a Deus ter-nos dado tão grande pastor e saibamos honrar o legado que deixou”, convidou o atual Cardeal-Patriarca, na celebração que assinalou os 50 anos da entrada solene de D. António Ribeiro na Sé Patriarcal como 15.º Patriarca de Lisboa.

 

 

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“São muito oportunos estes textos da pastoral juvenil do nosso querido e saudoso Cardeal Ribeiro”

O Cardeal-Patriarca de Lisboa sublinhou a atualidade do livro ‘O Cardeal Ribeiro com os Jovens - Excertos de comunicações do Cardeal-Patriarca Dom António Ribeiro aos jovens da diocese de Lisboa’, que reúne um conjunto de textos, na sua maioria homilias, dirigidos aos jovens, numa “linguagem clara, sistemática” e “cheio de ensinamentos”. A obra foi preparada pelo Cabido da Sé, para a comemoração dos 50 anos da entrada solene na Sé de D. António Ribeiro como 15.º Patriarca de Lisboa, e foi coordenada pelo cónego Luís Aberto Martins de Carvalho. “Quero anunciar a publicação, e agora a venda e distribuição, deste belo livro que o nosso Cabido teve a boa ideia de editar, com textos do Cardeal Ribeiro exatamente sobre os jovens. Ele dedicou uma especialíssima atenção a esta realidade juvenil e ao relançamento da pastoral juvenil. Isso mesmo está aqui espalhado nestes textos, sempre com aquela linguagem clara, sistemática e cheio de ensinamentos, que são tão importantes hoje, para a nossa pastoral com os jovens, como eram na altura em que foram ditos e depois transcritos. A oportunidade é boa, nestes curtíssimos 20 meses que nos separam da realização da Jornada Mundial da Juventude. São muito oportunos estes textos da pastoral juvenil do nosso querido e saudoso Cardeal Ribeiro”, referiu D. Manuel Clemente, no final da Missa na Sé, a propósito da obra publicada pela Lucerna.

Informações: www.lucernaonline.pt/o-cardeal-ribeiro-com-os-jovens

 

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D. ANTÓNIO RIBEIRO | 15.º Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. António Ribeiro nasceu em São Clemente, Celorico de Basto, a 21 de maio de 1928. Frequentou os seminários de Braga, foi ordenado a 5 de julho de 1953, com 25 anos, e foi enviado para Roma, onde se doutorou, com a tese ‘A Doutrina do Evo em São Tomás de Aquino. Ensaio sobre a duração da alma separa’, na Universidade Pontifícia Gregoriana.

De 1959 a 1964, apresentou o programa ‘Encruzilhadas da Vida’, na RTP, aos sábados, onde debateu temas da atualidade, frequentemente sugeridos pelos próprios telespetadores. Nos três anos seguintes (1964/67), foi o rosto do programa ‘Dia do Senhor’.

Foi nomeado Bispo Auxiliar de Braga a 8 de julho de 1967, com 39 anos, tendo a ordenação episcopal decorrido no mês de setembro do mesmo ano. Foi assistente nacional e diocesano da Liga Universitária Católica e ainda das associações profissionais de médicos, farmacêuticos, juristas, engenheiros e professores, além de professor de Filosofia Social, Filosofia Moral e Psicologia Social e diretor do Instituto de Cultura Superior Católica.

A 6 de junho de 1969, é nomeado Bispo Auxiliar de Lisboa e, a 13 de maio de 1971, foi nomeado 15.º Patriarca de Lisboa, sucedendo ao Cardeal D. Manuel Gonçalves Cerejeira. O Papa Paulo VI elevou-o à dignidade cardinalícia, com o título de Santo António in urbe, no Consistório de 5 de março de 1973. “Foi o Cardeal-Patriarca da transição entre a ditadura e a democracia em Portugal. Neste período, a sua coragem pastoral e mesmo lucidez política foram importantes para definir o espaço da Igreja no novo contexto social”, refere uma nota histórica, publicada no site do Patriarcado de Lisboa (www.patriarcado-lisboa.pt). Na diocese, o pontificado do Cardeal Ribeiro “coincide com o período de adaptação do Concílio Vaticano II”. “Definição da corresponsabilidade dos leigos na ação pastoral da Igreja, incentivo à ação social como expressão organizada da caridade, consciência de que a missão é da Igreja enquanto enviada ao mundo”, destaca a nota. Por duas vezes, D. António Ribeiro foi presidente da Conferência Episcopal Portuguesa.

O Papa Paulo VI confiou-lhe a presidência do último Sínodo dos Bispos que convocou, e São João Paulo II nomeou-o seu enviado especial às comemorações do V Centenário da Evangelização de Angola e às comemorações do V Centenário da Ratificação do Tratado de Tordesilhas. O 15.º Patriarca de Lisboa participou em dois Conclaves: em agosto de 1978, na eleição do Papa João Paulo I, e dois meses depois, em outubro, na eleição do Papa João Paulo II.

D. António Ribeiro faleceu no dia 24 de março de 1998, na capital portuguesa, e está sepultado no Panteão dos Patriarcas, no Mosteiro de São Vicente de Fora, em Lisboa.

 

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As fotografias da celebração estão disponíveis em www.flickr.com/patriarcadodelisboa/albums

texto e fotos por Diogo Paiva Brandão
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