Domingo |
À procura da Palavra
Um profeta de fogo
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DOMINGO II ADVENTO Ano C

“…todo o homem que acredita n’Ele não pereça,

mas tenha a vida eterna.”

Jo 3, 15

 

Não seria certamente uma figura agradável a de João Baptista, nem alguém a convidar para um banquete de festa. Com a austera indumentária, o corpo tisnado pelo sol e a areia do deserto o olhar penetrante, que parecia ver os outros por dentro certamente provocavam reacções. E quando as suas palavras começaram a ter o tom dos profetas, que há muito já não eram escutadas, que efeitos desencadearam? Que dizer também daquele gesto de mergulhar no Jordão para limpar os pecados, como se nos lavássemos para acolher alguém que vai chegar? Quem o começa a seguir está sedento de uma mudança, talvez julgue que Ele é o Messias, sente-se insatisfeito com o rumo do mundo.

 

Curiosamente, no início do evangelho de hoje, são anunciados os poderosos do tempo: Tibério, Pilatos, Herodes e Filipe, Lisânias, Anás e Caifás. Talvez sonhassem também com mudanças, mas daquelas aumentassem mais ainda o seu poder! Não é quase sempre assim? Quem começa por ter poder para servir o povo e cuidar do bem comum, à medida que mais poder vai tendo, mais se esquece de onde veio e para o que veio! Quem faz os montes e vales desta vida de classes e distinções tão graves, e porque é que os caminhos tortuosos e as veredas escarpadas são, quase sempre, para os mesmos?

 

Nos nossos “Natais delico-doces”, atafulhados de coisas e de necessidades que nem julgávamos ter, com muitas luzes a encher ruas e algumas casas, João Baptista é uma figura que destoa. Não diz frases bonitas nem conhece cânticos natalícios, mas sabe dizer que é preciso alisar os caminhos desta terra derrubando montes e alteando vales. São os caminhos interiores, estas “voltinhas do Marão” em que a alma às vezes anda, sem termos a coragem de obras de fundo e caminhos rectos. Mas são também os caminhos das cidades e dos lugares habitados, onde a injustiça e o acomodamento enregelaram os corações, a indiferença e o acomodamento religioso alimenta ritos sem vida e distância com deus e com os irmãos. João traz a luz em forma de fogo que aquece e transforma, que faz nascer e crescer, como o retrata Giovanni Papini: “João, de corpo queimado pelo sol do deserto, de alma queimada pelo desejo do Reino, é o anunciador, o fogo. No Messias que vai chegar vê ele o Senhor da chama.”

 

Andamos às voltas com o convite do Papa a prepararmos o Sínodo dos Bispos de 2023. Mais do que muitas palavras e intenções bonitas, creio que é um desafio como o fogo que saía da boca e dos gestos de João Baptista. Claro que temos medo de nos “queimarmos” e, também por isso, será mais fácil passar ao lado. Aqui fica a sugestão de lermos o que o Papa disse aos fiéis da sua Diocese a 18 de setembro passado: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2021/september/documents/20210918-fedeli-diocesiroma.html. Talvez reacenda o fogo que está adormecido em nós!

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