Catequese |
Diretório para a Catequese
A revelação de Deus e a resposta humana da fé
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A primeira parte do Diretório para a Catequese, intitulada A catequese na missão da Igreja, serve de fundamento a todo as outras partes do documento. À semelhança do anterior Diretório, o primeiro capítulo refere-se à dinâmica da revelação divina e à sua transmissão. Todavia, ligada à identidade da catequese (Capítulo II) destaca-se a relevância do catequista (Capítulo III), bem como a importância da sua formação (Capítulo IV). Retomando a intuição presente na Constituição Dogmática Dei Verbum, apresenta-se uma relação mais clara entre a revelação de Deus, o conteúdo da revelação divina e aqueles que recebem o ofício de a transmitir (cf. DV 7), do que nos diretórios anteriores.

O primeiro capítulo, A revelação e a sua transmissão, parte de um dado elementar presente na teologia da revelação, ou seja, o desejo de Deus de revelar-nos a sua vontade e de comunicar-se a si mesmo (cf. DC 11). No centro da dinâmica desta revelação, sem menosprezar as etapas da história da salvação prévias, está a pessoa de Cristo, no qual «Deus manifesta e realiza o seu desígnio de maneira nova e definitiva» (DC 12). Neste sentido, Jesus é apresentado como revelador e revelação do Pai. Quer isto dizer que ambas as pessoas divinas se revelam mutuamente: Jesus é a revelação do Pai, aquele que Deus envia e mostra ao homem, e, ao mesmo tempo, Ele revela o Pai. No coração da revelação subsiste uma intercomunicação das pessoas divinas, na qual ambas se apresentam uma à outra, estando implicadas no mesmo serviço e missão de se revelarem e se darem a conhecer a nós.

Esta missão é confiada pelo Espírito Santo à Igreja que, em virtude da sua vocação evangelizadora, comunica o desígnio divino presente na revelação. O documento define este desígnio divino como um mistério de amor pela humanidade que, descobrindo-se amada, responde a Deus com e por amor; como a revelação da verdade íntima de Deus como comunhão trinitária e a vocação do homem a uma vida filial em Cristo; como a oferta gratuita da salvação a todas as pessoas, em virtude do mistério pascal de Cristo e do perdão dos pecados e, finalmente, como um chamamento a congregar a humanidade dispersa na fraternidade da Igreja.

Partindo destas dimensões da intencionalidade salvífica da revelação, destaca-se a centralidade da pessoa de Cristo na orgânica da revelação. Jesus é apresentado como anunciador do Evangelho da salvação: «Com a sua vida, Jesus Cristo é a plenitude da revelação: é a manifestação plena da misericórdia de Deus e, ao mesmo tempo, do chamamento ao amor que está no coração do homem» (DC 15). No seu seguimento, e em virtude do dom do Espírito Santo, a Igreja é enviada a continuar a missão de Cristo no mundo. A estreita ligação entre a evangelização de Cristo e dos seus enviados constitui a matriz identificadora do anúncio cristão para todos os tempos: o primado do Espírito Santo, o reconhecimento da presença e ação de Deus no coração de cada pessoa e a oferta da salvação e abertura universal a todas as pessoas. Estes traços distintivos do anúncio fazem da evangelização «realidade rica, complexa e dinâmica» que envolve diversas modalidades complementares e interligadas entre si: testemunho de vida, anúncio explícito, escuta da palavra de Deus e celebração dos sacramentos, conversão e mudança interior e, finalmente, compromisso e transformação social (cf. DC 16).

Tendo em conta estes pressupostos da revelação divina, a fé surge como a resposta humana ao diálogo que Deus deseja estabelecer com cada pessoa. Com uma clara influência de Santo Agostinho, a vocação humana ao amor é descrita tendo por base um duplo movimento de inquietude que habita o coração do homem, mas, ao mesmo tempo, um desejo de verdade e de absoluto que o levam a querer compreender-se a si próprio e aos outros, superando os limites da sua condição. À luz da concentração cristológica da revelação, Jesus Cristo surge como a chave de compreensão da antropologia: «em Cristo, cada pessoa consegue compreender-se plenamente a si mesma» (DC 17). Nesta lógica dialogal entre cristologia e antropologia, a fé, enquanto resposta à revelação de Deus, permite que a pessoa encontre de forma desmesurada e abundante o que sempre desejou: «conhecer a verdade sobre Deus, sobre a própria pessoa e sobre o destino que a espera» (DGC 55). É nesta linha que o documento apresenta a síntese de uma teologia da fé cristã, apresentando a fé como:

- Acolhimento amoroso à revelação do Deus de Jesus Cristo, uma «adesão sincera à sua pessoa e decisão livre de o seguir» (DC 18);

- Dom de Deus ou virtude sobrenatural que visa a conversão do coração à verdade revelada (cf. DC 19);

- Obediência a Deus que em nada ofusca a luz da razão, antes promotora de um equilíbrio entre fé e razão, evitando tanto o fideísmo, como o fundamentalismo (cf. DC 19);

- Transformação existencial da pessoa abarcante de todos os aspetos da sus vida (cf. DC 20);

- Uma escolha pessoal, mas com um caráter relacional e comunitário e, por isso, mesmo eclesial (cf. DC 21);

Estes aspetos introdutórios, relacionados com a revelação divina e a aceitação humana pela fé da revelação, preparam uma determinada visão do processo de transmissão da revelação, como se verá no próximo artigo.

texto pelo P. Tiago Neto, diretor do Sector da Catequese de Lisboa
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