Família |
‘Amoris Laetitia’
Crescer a partir do Amor
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O Papa Francisco está bem ciente e quis que ficasse expresso na ‘Evangellii Gaudium’: “Não ignoro que hoje os documentos não suscitam o mesmo interesse que noutras épocas, acabando rapidamente esquecidos. Apesar disso sublinho que, aquilo que pretendo deixar expresso aqui, possui um significado programático e tem consequências importantes” (EG 25).

Pelo mesmo motivo, e pela enorme relevância do tema, quis o Papa que, cinco ano depois, regressássemos à Exortação Apostólica ‘Amoris Laetitia’, sobre o amor na família. Com a mesma determinação de sempre, voltou a desafiar-nos: “Convido a um impulso pastoral renovado e criativo para colocar a família no centro das atenções da Igreja e da sociedade” (Angelus, 14/03/2021). Surge, assim, o ‘Ano Amoris Laetitia’.

Dedicar o primeiro capítulo da Exortação convidando a ler a realidade familiar “à luz da Palavra” não se trata de uma mera formalidade na estruturação de um documento pontifício. É deixar que a Luz da Sagrada Escritura ilumine a realidade tão humana e simultaneamente tão divina, da vida familiar. Sem esta Luz, clara e reveladora, facilmente se cairia em critérios ideológicos ou sociológicos. A Bíblia pode ser lida seguindo o entrelaçado de fios luminosos e sombrios das alegrias e dos dramas familiares. No centro da obra da Criação está o casal humano que, no seu amor e na vida que geram, “é a verdadeira escultura viva capaz de manifestar Deus criador e salvador”. Se os pais são como que os alicerces da casa, escreve o Papa, os filhos constituem “pedras vivas” da família. Neste horizonte do amor, destaca-se a virtude da ternura, tantas vezes esquecida. Em várias passagens da Escritura a união entre o fiel e o Senhor é expressa numa linguagem envolta em ternura e afeto, expressos nos traços do amor paterno e maternal. Mas a Sagrada Escritura não nega, antes integra, o “rasto de sofrimento e sangue”, a presença do mal e da violência que dilaceram a vida da família. Jesus conhece e acolhe estes dramas e lutas familiares e também neles realiza a sua missão libertadora e salvífica. Também a família precisa de ser redimida do pecado que perpassa nos seus membros e resgatado o sonho de Deus que a criou.

No capítulo II da Exortação, o Papa analisa exaustivamente a situação atual da Família, recordando que as realidades que nos preocupam são desafios e que não devemos “cair na armadilha de nos consumirmos em lamentações autodefensivas, em vez de suscitar uma criatividade missionária”.

Mas antes, com grande coragem e lucidez, convida-nos a fazer uma “salutar autocrítica” sobre a forma temos vindo a acompanham e a propor aos casais a beleza do Evangelho da Família. E reconhece que, por vezes, a nossa maneira de apresentar as convicções cristãs e a forma como tratamos as pessoas ajudaram a provocar aquilo de que hoje nos lamentamos. Que não temos conseguido fazer um bom acompanhamento dos jovens casais nos seus primeiros anos, com propostas adaptadas aos seus horários, às suas linguagens, às suas preocupações mais concretas. Que, por vezes, apresentámos um ideal teológico do matrimónio demasiado abstrato, construído quase artificialmente, distante da situação concreta e das possibilidades efetivas das famílias tais como são e esta excessiva idealização, sobretudo quando não despertámos a confiança na Graça, não fez com que o matrimónio fosse mais desejável e atraente; muito pelo contrário. Que, durante muito tempo, pensámos que, com a simples insistência em questões doutrinais, bioéticas e morais, sem motivar a abertura à Graça, já apoiávamos suficientemente as famílias, consolidávamos o vínculo dos esposos e enchíamos de sentido as suas vidas compartilhadas, o que não é verdade. Que nos custa deixar espaço à consciência dos fiéis, que muitas vezes respondem o melhor que podem ao Evangelho no meio dos seus limites e são capazes de realizar o seu próprio discernimento perante situações onde se rompem todos os esquemas. Que muitas vezes, escreve ainda o Papa, agimos na defensiva e gastamos as energias pastorais multiplicando os ataques ao mundo decadente, com pouca capacidade de propor e indicar caminhos de felicidade.

Recolhendo as intervenções dos Padres Sinodais, o Papa fala do crescente perigo representado por um individualismo exagerado que desvirtua os laços familiares transformando a família num “lugar de passagem” e onde se transpõe para as relações afetivas o que acontece com os objetos e o meio ambiente: tudo é descartável, destinado a usar e deitar fora. Fala de uma cultura que impele os jovens a não formarem uma família, porque lhes rouba o futuro e que precisamos de encontrar as palavras, as motivações e os testemunhos que nos ajudem a tocar as cordas mais íntimas dos jovens, onde são mais capazes de generosidade, de compromisso, de amor e até mesmo de heroísmo, para os convidar a aceitar, com entusiasmo e coragem, o desafio de matrimónio.

“A força da família reside essencialmente na sua capacidade de amar e ensinar a amar. Por muito ferida que possa estar uma família, ela pode sempre crescer a partir do amor”.

texto por D. Daniel Batalha Henriques, Bispo Auxiliar do Patriarcado de Lisboa
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