Artigos |
P. Manuel Barbosa, scj
Desafios sinodais
<<
1/
>>
Imagem

Estamos a viver plenamente o mistério do Natal e a iniciar mais um ano civil com a Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus, Dia Mundial da Paz. Continuamos ainda empenhados no processo sinodal proposto pelo Papa Francisco.

Seria normal partilhar algumas notas meditativas sobre estes tempos tão intensos. No entanto, preferi trazer aqui, quase transcrevendo, algumas indicações da Assembleia Eclesial do CELAM (Conselho Episcopal Latino-Americano), que decorreu em finais de novembro, sob a égide.

Os 12 desafios e orientações pastorais da mensagem final, fruto da voz do Espírito no diálogo e discernimento dos participantes, são inspiradores de esperança eclesial em dinamismo sinodal: trabalhar para o encontro renovado de todos com Jesus Cristo encarnado na realidade; acompanhar e promover o protagonismo dos jovens; dar adequada atenção às vítimas de abusos ocorridos em contextos eclesiais e comprometer-se com a sua prevenção; promover a participação ativa das mulheres nos ministérios e em espaços de discernimento e decisão eclesial; promover a vida humana, desde a sua conceção até ao seu fim natural; formar na sinodalidade para erradicar o clericalismo; promover a participação dos leigos em espaços de transformação cultural, política, social e eclesial; escutar e acompanhar o clamor dos pobres, excluídos e descartados; renovar os programas de formação nos seminários para que assumam a ecologia integral, o valor dos povos indígenas, a inculturação e a interculturalidade, e o pensamento social da Igreja como temas necessários, e tudo o que contribui para a formação adequada da sinodalidade; renovar, à luz da Palavra de Deus e do Vaticano II, o nosso conceito e experiência do Povo de Deus; reafirmar e dar prioridade à experiência dos sonhos da Querida Amazónia; acompanhar os povos indígenas e afrodescendentes na defesa da vida, da terra e das suas culturas.

12 desafios que a todos nos provocam com urgência, mesmo que alguns sejam mais específicos para a realidade da América Latina.

Como segundo desafio, realço a criação da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Menores na Igreja Católica (CIEASMIC). A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) convidou o psicopedagogo Pedro Strecht para constituir uma equipa, a qual vai tratar desta questão durante 2022. Destaco excertos da apresentação deste trabalho em conferência de imprensa na Gulbenkian, no dia 2 de dezembro.

Dirigindo-se aos membros da CIEASMIC, afirmou D. José Ornelas, Presidente da CEP: «Queremos que sejais livres, com a vossa competência e humanismo, para encontrar os caminhos e as metodologias adequadas, a fim de iluminar estas situações dolorosas com a luz da justiça e da verdade, que é fonte de verdadeira transformação, como diz Jesus: “conhecereis a verdade e a verdade vos fará livres” (Jo 8,32). Que este seja um caminho de verdade, sem preconceitos nem encobrimentos, mas de autêntica libertação, autenticidade e dignidade para todos».

Palavras “sinodais” do Dr. Pedro Strecht, coordenador da Comissão, que se organiza de forma autónoma e independente da própria Igreja Católica: «É para isso que aqui estamos, a dar início a um trabalho que naturalmente se prevê complexo, longo, difícil de definir quanto a resultados finais, mas que verdadeiramente teria que ser feito, mesmo que ainda assim venha a ser olhado como origem de outros que se lhe possam vir a seguir no futuro, procurando sempre a necessidade de reforço de verdadeiras políticas de proteção e promoção da infância e adolescência, contribuindo assim para sociedades mais justas, saudáveis e livres num futuro melhor que tanto desejamos construir».

Que estes desafios da CELAM e da CIEASMIC contribuam para celebrarmos com alegria o Natal e vivermos sinodalmente o novo Ano que se inicia, abençoado pelo Deus da Paz que, no seu Filho Jesus Cristo, é para nós Caminho, Verdade e Vida.

 

foto por Agência Ecclesia