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Pe Peter Stilwell
“Vimos a sua estrela no Oriente e viemos honrá-lo” (Mt 2,2)
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Foi ao Conselho das Igrejas do Médio Oriente, sediado no martirizado Líbano, que coube este ano escolher o tema para a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Ao optar pelo episódio dos Magos, essa rede de comunidades antigas quis evocar a missão que nos cabe de sermos luz para as mulheres e homens de boa vontade, seja qual for a sua proveniência étnica ou religiosa, orientando-os ao encontro de Jesus.

Não nos percamos nas diferenças históricas, culturais, teológicas e litúrgicas que nos separam, por muito importantes que sejam.  O quadro da Epifania que este ano nos é proposto lembra-nos que a luz primeira, a Palavra primordial, o sentido último de quanto existe emana do presépio, não da estrela nem do seu percurso. Como anotava um sábio metropolita ortodoxo, nos anos 20 do século passado: “Os muros que nos separam não chegam ao Céu”.  Que ninguém, nem nenhuma comunidade, por mais venerável que seja a sua tradição, presuma acantonar para si em exclusivo a santidade, que é o testemunho vivo do Evangelho.

O recém-falecido arcebispo anglicano Desmond Tutu, a quem uma rede de entidades católicas norte-americanas atribuiu, em 1987, o prestigiado prémio Pacem in Terris, pode servir-nos este ano de exemplo, provando como são ténues as fronteiras entre tradições cristãs e rico o património comum de um só batismo, e de um mesmo Espírito “distribuindo os dons a cada um conforme Lhe agrada” (1Cor 12,11).  Nascido numa família cristão metodista, Tutu ponderava ingressar num seminário católico quando se apaixonou e casou com uma católica. O jovem Desmond optou então por cursar os estudos eclesiásticos anglicanos, findo os quais foi ordenado, apesar de lhe terem notado sintomas de “febre romana” e de nunca ter escondido a devoção profunda que nutria por Santa Teresinha do Menino Jesus.  Anos depois, já arcebispo anglicano, quando Denis Hurley, arcebispo católico de Durban, foi processado por condenar o apartheid, Tutu apresentou-se no tribunal para o apoiar. A sua coragem, a sua alegria contagiante, o seu humor efervescente brilharam, de facto, como estrela na consciência de muitos, seduzidos ou abalados por um regime que se pretendia fundado numa leitura escandalosamente sectária da Bíblia; e após a instauração da democracia, com o mesmo espírito evangélico, não só promoveu a inovadora Comissão de Verdade e Reconciliação como denunciou com frontalidade e sem partidarismo o compadrio e a corrupção.

A partir de 18 de janeiro, dedicaremos oito dias à oração mais intensa pela unidade dos cristãos. No dia 22, a diocese promoverá uma Vigília Ecuménica Jovem, na igreja do Colégio de São João de Brito. Lembraremos de modo especial as Igrejas do Médio Oriente. O desafio que nos lançam é ele próprio uma lição. Nasceu do “ecumenismo do sangue”. Após anos de sofrimento, mas confirmadas agora na sua missão pela recente visita papal ao Iraque, e confortadas pelos gestos de fraternidade entre o Papa Francisco e altos dirigentes muçulmanos sunitas e xiitas, essas Igrejas não pedem para si próprias senão que saibam orientar para Cristo a atenção todos; e para os foragidos, presos, doentes ou despojados que ontem e hoje assinalam a sua presença. Com efeito:

[…]

Ao lado do hospital e da prisão

Entre o agiota e o templo profanado

Onde a rua é mais triste e mais sozinha

E onde tudo parece abandonado

Um lugar pela estrela foi marcado

Sophia de Melo Breyner, “A Estrela” (1967)

 

texto pelo Pe Peter Stilwell, diretor do Departamento das Relações Ecuménicas e do Diálogo Inter-Religioso do Patriarcado de Lisboa

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