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A história de Farah Shaheen, uma jovem cristã raptada no Paquistão
Cinco meses de terror
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Tinha apenas 12 anos quando o seu mundo infantil desabou por completo. Raptada, forçada a converter-se ao Islão e a casar, a cristã Farah Shaheen viveu como escrava durante cinco longos meses, tendo sido violentada, algemada e forçada a trabalhar em pocilgas. O seu testemunho faz parte do relatório da Fundação AIS em que se denuncia uma face oculta da perseguição religiosa contra a comunidade cristã…

 

Tinha apenas 12 anos, vivia em Faisalabad, com o pai, o avô, três irmãos e duas irmãs, quando a 25 de Junho de 2020 foi raptada. Farah Shaheen estava em casa. O seu testemunho é uma peça essencial no Relatório da Fundação AIS sobre o rapto e violência que tem atingido raparigas e mulheres cristãs e de outras minorias religiosas em vários países. O Relatório “Oiçam os Gritos delas” revela que em todos os casos analisados está o facto de os raptores pertencerem à comunidade muçulmana e olharem para as mulheres e raparigas cristãs com total desprezo. Foi o que aconteceu nesse dia de Junho com Farah. Bateram à porta e o avô foi abrir. Ninguém poderia imaginar o que ia suceder… Três homens entraram de rompante na casa, agarraram em Farah e arrastaram-na para fora, indiferentes aos gritos da menina, às súplicas do avô e dos irmãos. Levaram-na e obrigaram-na a entrar numa carrinha que estava estacionada na rua.

 

Sentimento de horror

Imagina-se o sentimento de terror e de impotência de toda a família quando a carrinha desapareceu no confuso trânsito da cidade. O pai de Farah não estava em casa na altura do rapto. Quando regressou do trabalho, Asif Masih deparou-se com a família prostrada num mar de lágrimas e de revolta. Foram à esquadra mais próxima. Era preciso fazer alguma coisa, era preciso denunciar o rapto às autoridades. “Chamaram-me ‘chuhra’ – um insulto que significa sujo –. A polícia recusou-se a ouvir-me. Empurraram-me e agrediram-me.” Os agentes da polícia agiram com o pai de Farah como se ele fosse o culpado ou então um estorvo, como se a sua angústia não tivesse razão de ser. A insensibilidade e arrogância das autoridades feriram profundamente Asif Masih. Não bastava o rapto da filha, ele próprio estava a ser tratado com desdém, com indiferença. Mas demorou pouco tempo até terem notícias sobre a menina. Os raptores mandaram dizer que Farah se tinha convertido ao Islão, que passara a ser muçulmana, e que se tinha casado. Diziam até o nome do “marido”: Khizar Amad Ali.

 

“Rezava todas as noites…”

Seriam necessários três meses até a polícia concluir um primeiro relatório sobre o rapto. Um “relatório de ocorrência”, na gíria oficial. Mas só em Dezembro, ou seja, cinco meses depois de ter sido levada à força, é que Farah foi descoberta. Estava em casa de Amad, no bairro de Hafizabad, a pouco mais de 10 km de distância. Quando foi descoberta, a menina estava com os tornozelos feridos com marcas de correntes. O relato de Farah Shaheen é uma das peças principais do Relatório “Oiçam os Gritos delas”, da Fundação AIS, que recuperou o seu testemunho aos microfones da BBC. “Estava acorrentada a maior parte do tempo... Foi terrível. Puseram-me correntes nos tornozelos e amarraram-me com uma corda. Tentei cortar a corda e arrancar as correntes, mas não consegui. Rezava todas as noites, dizendo: ‘Deus, ajuda-me, por favor’.” Asif Masih descreveu à Fundação AIS o suplício da sua filha. “Farah disse-me que foi tratada como uma escrava... Foi forçada a trabalhar o dia todo, a limpar o estrume num terreno para o gado”.

 

Investigação médica

Quando a polícia a encontrou, Farah foi colocada num centro de acolhimento para mulheres e jovens. Era preciso dar tempo ao Tribunal para decidir o que fazer, pois o raptor alegava que ela tinha 16 anos, a idade mínima legal para casar no Paquistão. Apesar de a família ter exibido uma certidão de nascimento que atestava que ela tinha apenas 12 anos, o juiz ordenou uma investigação médica. A conclusão não podia ser mais desarmante: os médicos que analisaram a rapariga concluíram, quase como se fosse uma provocação, que ela teria 16 ou mesmo 17 anos… Foi preciso esperar até Fevereiro do ano passado para que um juiz olhasse de novo para o processo e concluísse o óbvio: Farah teria, como os pais sempre haviam afirmado, 12 anos, e como tal teria de regressar a casa.

 

Revolta e frustração

O pai de Farah não esconde a sua revolta e frustração. Até hoje, não foi tomada qualquer medida pela polícia ou pelas autoridades judiciais contra o homem que raptou e violentou a sua filha. Trata-se de mais um crime sem castigo no Paquistão. A investigação da Fundação AIS permite concluir que esta é uma realidade de tal forma dramática que se pode falar mesmo em “catástrofe” ao nível dos direitos humanos. A história de Farah Shaheen mostra uma face oculta da perseguição contra as minorias religiosas, da perseguição contra os Cristãos. Aconteceu no Paquistão, podia ter sido no Iraque, Síria, Egipto, Nigéria ou Moçambique… Não podemos mesmo é ficar indiferentes a esta realidade.

 

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Relatório “Oiçam os Gritos Delas”

O rapto, conversão forçada e violência sexual contra mulheres e raparigas cristãs

Formato revista, 36 páginas, 10¤. Encomendas 217544000 |apoio@fundacao-ais.pt

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
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