Podem estranhar o título destas linhas. Mas o que quero dizer – lendo a Mensagem do Papa Francisco para o próximo Dia Mundial do Doente – é que a leio a partir da minha condição de doente oncológico. Escrevo, por isso, “do lado de dentro”, mas de janela aberta.
1. Confesso plena adesão à afirmação determinante do Papa: Deus «cuida de nós com a força de um pai e a ternura de uma mãe, sempre desejoso de nos dar vida nova no Espírito Santo».
A doença não é castigo. Aliás, não gostando mesmo nada de sofrer, afirmo um balanço pessoalmente positivo desta meia dúzia de anos de luta, nas suas perdas purificadoras (e tantas foram!) e nas luminosas descobertas (e tantas foram!).
É certo que algumas terapias perderam validade e, passo a passo, sei para onde caminho. Mas caminho, pois me recuso a ser levado: a disponibilidade é uma coisa e a resignação dorida e disfarçadamente contrariada é outra.
Sim; sei-me amado de Deus, presente na minha determinação para todos os tratamentos razoáveis – e apenas para esses!… Por uma graça que não mereço nem sei explicar, não sofro o medo. Rezo, por isso, muitas vezes esta convicção: «Sou um frágil vime. Mas se Teus olhos se atam nos meus, saber-me-ei mais seguro que agarrado ao tronco de um cedro do Líbano!…»
2. Aprofundei a gratidão a muitas pessoas. Mormente aos profissionais da saúde que fazem da sua presença uma missão. É verdade – e volto a citar Francisco – que «podem ser sinal das mãos misericordiosas do Pai». E são-no mediante a amabilidade que deixa falar e perguntar; a explicação paciente e delicada de cada fase de tratamento e suas consequências; a alegria com que anunciam que foi autorizado o protocolo A ou B. São-no, ainda, quando – escondendo-o – fazem o luto quando perdem um de nós!…
Quanta proximidade manifestam, por exemplo, na curiosidade que demonstram em relação aos nossos tempos livres e ambiente familiar. É a tal «singular atenção à particularidade», pois a enfermidade não passa de uma circunstância. Decisivo é quem a sofre!
Que bem o diz o Santo Padre quando escreve: «O doente é sempre mais importante do que a sua doença, e por isso qualquer abordagem terapêutica não pode prescindir da escuta do paciente, da sua história, das suas ansiedades, dos seus medos. Mesmo quando não se pode curar, sempre é possível tratar, consolar e fazer sentir à pessoa uma proximidade que demonstre mais interesse por ela do que pela sua patologia».
Quem não entende isto fica – porventura com a melhor das intenções – a carregar-nos de perguntas, olhares e lamentos, roubando-nos a coragem dos sorrisos e embaciando a esperança. Ou mata-nos antes do tempo, tornando-nos invisíveis, senão inexistentes… Mais: quem não entende isto e aceita o isolamento e a marginalização dos enfermos afasta-se da condição de Discípulo.
Sei que custa acompanhar e servir a fragilidade. O meu coração transborda, por isso, de gratidão quando constato a proximidade de uma visita («ministério da consolação»); assim como o acolhimento, o pormenor dos espaços e o Evangelho a acontecer nas «casas de misericórdia», que não podem ser armazéns de dores ou velharias; nem sítios de entrega de pessoas/fardos – mas «estalagens do bom samaritano», onde os cuidados têm de contemplar todas as dimensões.
A mensagem do Papa lembra-o oportunamente. Não o dizendo, as suas palavras podem ser um alerta para uma espécie de falso pudor que adia os cuidados espirituais e escusa o pensamento lúcido sobre a finitude.
Francisco fala mesmo de «discriminação», quando aos doentes não se oferece «a proximidade de Deus, a sua bênção, a sua Palavra, a celebração dos Sacramentos e a proposta dum caminho de crescimento e amadurecimento na fé».
3. «Sede misericordiosos», pede a mensagem do Santo Padre aos profissionais, familiares e agentes da pastoral da saúde.
Mas, lida a partir de dentro, penso que também os doentes são chamados a ser agentes e não meros beneficiários da misericórdia. Como?… Não se entregando ao desânimo, ao descuido e à tentação de tudo esperar; compreendendo as dores de quem cuida e desculpando alguma manifestação de natural fadiga; agradecendo as suas horas e insónias.
Pessoalmente, não quero que a doença me anoiteça. Procuro, por isso, as palavras luminosas que nela se escondem: amor, amizade, confiança, esperança, amanhã...
Estas palavras são como aves, com ninho no coração de Deus. Ele lhes dá asas e céu; vento e ramos onde poisar. Ele mandou – sei que mandou – que cada uma delas voe até à sebe dos meus olhos e cante no quintal do meu coração. Por isso não anoiteci e me recuso a anoitecer.
Na mão de Deus durmo de luz acesa!...
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