Lisboa |
As celebrações pascais em diferentes realidades
Há Páscoa!
<<
1/
>>
Imagem

Como se vive a Páscoa num estabelecimento prisional, numa congregação religiosa feminina e na Casa São Francisco de Assis - antiga Casa do Gaiato de Lisboa? Três textos mostram como a Cruz de Cristo é carregada diariamente, na vida de cada um e em diversos contextos, mas sem perder o horizonte de celebrar, por estes dias, a Alegria e a Esperança.

 

A Páscoa de Jesus no EP da PJ

Quando entrei no estabelecimento prisional da PJ em Lisboa nunca tinha estado numa prisão. E foi com apreensão e surpresa que fui descobrindo por trás dos muros e das grades, homens e mulheres que vivem diariamente uma autêntica Via Sacra. Encontrei gente condenada, gente que carrega a sua cruz e o fardo das suas más escolhas e gente que, como Jesus, caiu várias vezes.

Vi homens e mulheres que são verdadeiros Cireneus, pondo as suas competências ao serviço do bem comum e destes reclusos, carregando tantas vezes as suas próprias cruzes. Vi gente que, como Verónica, é capaz de ver o belo e a dignidade da pessoa escondida no rosto e no coração destes homens.

Mas o mais impressionante é ver acontecer na vida destes meus amigos reclusos as 7 palavras de Jesus na Cruz!

“Pai perdoa-lhes...” e como é difícil esse caminho do perdão aos outros, às circunstâncias e a si mesmo… mas quando vivido, é incrível verificar o quanto é transformante e libertador.

“Hoje estarás comigo no paraíso.” – a promessa de Jesus a um condenado à morte abre-os (a nós!) à esperança de que o mal não tem de ter a última palavra, e que Deus nunca desiste de nós.

Encontrei homens que, como Jesus, diziam: “Tenho sede”. Sede de sentido para a vida, sede de esperança e de futuro; sede de serem reconhecidos pelo que são e não pelo que fizeram; sede de Deus. Gente que tomou a palavra de Jesus: “Eis a tua mãe” à séria e encontrou na relação com Maria consolo e reconforto.

“Meu Deus porque me abandonaste?” é o grito de tantos destes corações, sentido como revolta pelas circunstâncias e pela solidão de quem sofre sozinho.

Que alegria ver que alguns, progressivamente, seguindo o caminho do perdão e da confiança, se entregam nas mãos de Deus. “Pai nas tuas mãos entrego o meu espírito”, entrego o meu passado, o meu presente e o meu futuro.

Mas não é só a Via Sacra que se vive ali. Há Páscoa; há tantas “passagens”, tantas Páscoas: passagem da revolta e da autoacusação ao perdão pedido e dado aos outros e a si mesmo; passagem do desespero à esperança, passagem da indiferença à fé.

O EP da PJ não é, não tem que ser apenas lugar de Sexta-feira Santa. É também espaço de Ressurreição, de boa nova! As partilhas no Curso Alpha que ali fizemos foram lugares de ressurreição. Os momentos de oração juntos e uns pelos outros são passagem da tristeza à alegria. O sacramento da reconciliação e a eucaristia foram passagem da morte à vida.

Mas de todas, a mais impressionante é a “passagem” de Jesus nos nossos corações transformando-nos e fazendo de nós amigos e irmãos que caminham juntos para a vida e para a libertação! É por isso que, depois de cada visita ao EP da PJ, regresso a casa cheio de alegria, como em dia de Páscoa!

Pe. Paulo Araújo, capelão do estabelecimento prisional da Polícia Judiciária em Lisboa

 

A Vivência Pascal para a CONFHIC

A Páscoa não é somente um tempo litúrgico, sabemos; faz parte da condição humana, encontrando o seu significado pleno em Jesus Cristo. Neste entendimento vivemos, como pessoas cristãs, a nossa consagração religiosa num permanente dinamismo pascal, focadas na realização desta síntese da nossa fé: Jesus, Filho de Deus, por nós homens e para a nossa salvação desceu dos céus e encarnou, pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria e Se fez homem... Da encarnação do Verbo estriba a nossa missão e espiritualidade conforme no-las transmitiram, pela vida e escritos, os nossos Fundadores, Beata Maria Clara do Menino Jesus e Frei Raimundo dos Anjos Beirão, que se inspiraram no itinerário pascal de Francisco, Clara de Assis e Isabel da Hungria. Entre o já e o ainda não da nossa existência pascal, trazemos as marcas de Jesus na nossa forma de vida penitente franciscana, sobretudo o Seu Coração, nessa cruz, todo abrasado de amor por nós, que, contemplado e guardado sempre na memória, como convida o Frei Raimundo dos Anjos, suscita a nossa contínua conversão ao Seu Evangelho, procurando, exorta a Beata Maria Clara, arrancar de nós tudo o que desagrada a Nosso Senhor, renovando-nos no espírito do Homem Novo. Tudo por amor, do Amor não amado, lamentava Francisco de Assis, ao contemplar a Grandeza admirável, a condescendência assombrosa, a Humildade sublime de Deus e Filho de Deus que Se esconde na nossa humanidade e nas aparências de um bocado de pão, para nossa salvação. Com efeito, a Irmã Franciscana Hospitaleira da Imaculada Conceição vive em Páscoa a sua vocação na do Verbo, acolhendo os desígnios do Pai, de partilhar com todos a vida de Deus, a Sua misericórdia e cuidado, a exemplo do bom Samaritano, humanizando em todas as vertentes, num acolhimento incondicional e personalizado ao Verbo humanado em toda a pessoa, com igual ternura, profunda humildade e total gratuidade de Maria Imaculada, a Nova Eva.

Ir. Ndira da Cruz, fhic (Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição)

 

Páscoa na Casa São Francisco de Assis

A Páscoa na Casa São Francisco de Assis - antiga Casa do Gaiato de Lisboa é extraordinariamente central no enorme significado que dá às nossas vidas, e daqueles que nos são confiados, na importante missão de formação humana e espiritual que desejamos percorrer em conjunto, acreditar que na vida tudo tem sempre um sentido, onde tem lugar o Mistério. Os sofrimentos, os caminhos de momentos escuros podem abrir incríveis janelas de infinita claridade, na certeza de sermos amados, tão amados, e a Alegria e a Esperança são para todos. A Páscoa é um tempo oportuno de refletirmos que não há acontecimentos maus ou bons em si, que determinem de modo irreversível a nossa vida. Tudo depende do rumo que lhes conseguimos dar. E precisamos sempre dos outros. Por isso vivemos este tempo em ritmo familiar e comunitário, trabalhadores, voluntários, amigos, residentes e até familiares, num conjunto de momentos de reflexão, preparação e celebrações. Na celebração dos Ramos, na Paixão, morte e Ressurreição de Jesus, o sofrimento é tocado com maior intensidade, entre cuidadores e feridos, sem distinção de quem é quem.

Começamos a Semana Santa com a celebração de Ramos, ramos feitos pelos residentes da Casa Papa Francisco, do que a nossa quinta oferece: oliveiras, loureiros, alecrim e palmeiras, e iniciamos o encontro junto ao Cruzeiro da quinta, seguindo todos até à capela, recordando a alegria daquele dia em que Jesus entrou em Jerusalém. Na quarta-feira Santa, preparamos o nosso coração com uma Celebração Penitencial.

Entramos no Tríduo, e a cada ano procuramos diversificar a forma como o fazemos para procurar cativar: anos em que subimos ao “piso superior” para a Última Ceia, e lá celebramos no nosso Palácio, a Missa da Ceia do Senhor, com Lava pés, e a apresentação dos óleos consagrados na Missa Crismal na Sé, pois todos os anos têm aparecido novos catecúmenos para os sacramentos da iniciação cristã no Tempo Pascal. Noutros anos, quando foi necessário distanciamentos, celebrámos na capela. Depois da Missa temos a Ceia com todos. Na Sexta-feira Santa temos o jejum, na medida de cada um, celebramos às 15:00 a Paixão do Senhor e com um tempo de maior recolhimento na nossa capela, lugar central na disposição dos vários edifícios, e lugar fundamental de encontro com o Senhor das nossas vidas ao longo de todo o ano. No tempo que se segue até à Vigília Pascal já nos encontrámos no nosso Olival e de lá segue a Via Sacra, já a fizemos nas ruas da comunidade, já a encenámos/meditámos/rezámos no Pátio do Palácio, ou no campo junto a uma fogueira a percorrer as meditações da Paixão e o significado atual na nossa vida e no mundo atual. O Sábado é passado a preparar a grande noite da nossa vida onde celebramos a Vigília Pascal. Temos o dia preenchido com algumas reflexões e atividades de preparação da capela, dos cânticos às leituras, e o refeitório, onde fazemos festivo banquete no final da Vigília. O Domingo de Páscoa vive-se em atividades conjuntas de todas as respostas, para celebrar a Alegria e a Esperança.

A beleza deste Tempo e do seu poder transformador, tem a proporção da nossa fragilidade.

Maria Teresa Antunes, diretora geral da Casa São Francisco de Assis - antiga Casa do Gaiato de Lisboa

 

______________


Domingo de Ramos na Sé de Lisboa

“Gestos de comunhão espiritual e solidariedade concreta fulguram a Páscoa que Cristo garante”

O Cardeal-Patriarca de Lisboa destacou os gestos de solidariedade e apoio aos refugiados ucranianos, sublinhando que representam “o melhor do coração humano”. “Somos Igreja de Cristo no mundo, quando lhe retomamos a feição, mais conforme e verdadeira. Para que Deus nos reconheça como seus e a Páscoa de Cristo se difunda. E se difunda agora, quando entre nós tantos refugiados anseiam pela recuperação da sua terra e pela vida dos seus. Os gestos de comunhão espiritual e solidariedade concreta que se têm somado nestas trágicas semanas, mostram o melhor do coração humano e reabrem o futuro que a guerra quis fechar. São prenúncios daquela vida que ressuscitou dum sepulcro que parecia fechado. Fulguram a Páscoa que Cristo garante”, observou D. Manuel Clemente, na homilia da celebração de Domingo de Ramos da Paixão do Senhor, que marca o início da Semana Santa. “Na humildade e no serviço, vivamos uma semana realmente ‘maior’”, acrescentou.

Na Sé Patriarcal de Lisboa, na manhã do passado dia 10 de abril, o Cardeal-Patriarca tinha começado a sua reflexão lembrando o “tempo difícil para a humanidade”, devido à guerra na Ucrânia. “Iniciamos esta Semana Maior de 2022 num tempo difícil para a humanidade, em que os males sempre temidos da peste, da fome e da guerra se traduzem de novo em muitas situações, mais próximas ou mais distantes, mas que são irrecusavelmente nossas, na terra comum de todos. Principalmente nesta semana, queremos avivar a consciência de que esses males tiveram e continuam a ter resposta da parte de Deus. Sim, de Deus que os compartilha e salva na paixão, morte e ressurreição de Cristo. Batizados em Cristo, continuaremos a ser essa resposta, no mesmo Espírito e em idêntica comunhão com todos. Deus responde como companhia e fonte inesgotável de vida, agora para depois”, garantiu D. Manuel Clemente, na Missa de Domingo de Ramos.

Homilia na íntegra em www.patriarcado-lisboa.pt

A OPINIÃO DE
Guilherme d'Oliveira Martins
Quando Jean Lacroix fala da força e das fraquezas da família alerta-nos para a necessidade de não considerar...
ver [+]

Tony Neves
É um título para encher os olhos e provocar apetite de leitura! Mas é verdade. Depois de ver do ar parte do Congo verde, aterrei em Brazzaville.
ver [+]

Tony Neves
O Gabão acolheu-me de braços e coração abertos, numa visita que foi estreia absoluta neste país da África central.
ver [+]

Pedro Vaz Patto
Impressiona como foi festejada a aprovação, por larga e transversal maioria de deputados e senadores,...
ver [+]

Visite a página online
do Patriarcado de Lisboa
EDIÇÕES ANTERIORES