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Assembleia Diocesana Pré Sinodal, no Turcifal
Acolhimento e missão
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O Cardeal-Patriarca de Lisboa enunciou um “movimento duplo” que “deve estar presente na vida da Igreja” e destacou “cinco fatores” da Síntese Diocesana do Sínodo 2021-2023. Assembleia Diocesana Pré Sinodal teve lugar no Turcifal, a 14 de maio, tendo sido revelado que a caminhada sinodal na diocese “envolveu 64% das paróquias” e “15 mil pessoas”, segundo uma estimativa da coordenação diocesana.

 

Numa intervenção que teve lugar após a votação da Síntese Diocesana do Sínodo dos Bispos sobre a Sinodalidade, D. Manuel Clemente destacou “cinco fatores” – presentes no ponto 10 da Síntese Diocesana –, como chave de leitura deste documento. No auditório do Centro Diocesano de Espiritualidade, no Turcifal, o Cardeal-Patriarca de Lisboa pediu ainda aos membros do Conselho Presbiteral e do Conselho Pastoral “ideias concretas” sobre como estes cinco pontos podem ser “implementados na vida das comunidades”.

Acolhimento: “Esta palavra ‘acolhimento’ e aquilo que ela significa é o que faz a ligação entre aquilo que é a religiosidade difusa – que toda a gente tem e que ainda agora apareceu magnificamente em Fátima – e uma participação ativa, consciente e responsável na vida das comunidades. A articulação destas duas realidades faz-se através do acolhimento”.

Trabalho conjunto e a construção da comunidade: “Cada vez mais, o trabalho será mais intercomunitário ou intracomunitário. No mundo em que nós vivemos, ou isto vai assim conjugado e conjunto ou não vai”.

Nova evangelização e a comunicação: “Como sabemos, o tema ‘Nova Evangelização’ foi muito usado no pontificado de João Paulo II, mas também está presente em documentos do atual pontificado. Um dos ‘items’ da nova evangelização é ‘novas expressões’. Isso tem tudo a ver com a comunicação”.

Diálogo: “Não é monólogo, nem é esbatimento de posições. É confronto, partilha daquilo que cada um leva consigo: das suas convicções, das suas práticas, da sua sensibilidade e deve haver espaço para isto na comunidade. Tanto se deve saber escutar como saber dizer. Porque, se assim não é, não é diálogo”.

Testemunho da vida cristã: “Numa sociedade como a nossa, em que a proposta evangélica e a vida da Igreja são constantemente contrastadas por outras propostas – e, às vezes, de uma maneira muito violenta –, a única coisa que pode vencer e convencer é o testemunho dos crentes”.

Juntamente com estes cinco fatores, D. Manuel Clemente enunciou ainda um “movimento duplo” que “deve estar presente na vida da Igreja” – o “movimento de acolhimento e movimento de missão”.

 

“Já amanhã”

A encerrar a intervenção, o Cardeal-Patriarca apontou ao envolvimento da diocese na organização da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), em agosto de 2023. “É, como costumo dizer, já depois de amanhã. Mas agora, está quase a ser amanhã”, frisou.

Nesta assembleia que marcou a conclusão da fase diocesana do Sínodo dos Bispos no Patriarcado de Lisboa, D. Manuel Clemente aproveitou ainda para agradecer a colaboração de “todos os intervenientes neste processo”, que teve início em outubro de 2021.

 

“Sínodo não acabou”

Por sua vez, o coordenador diocesano do Sínodo dos Bispos, cónego Rui Pedro Carvalho, agradeceu “à equipa coordenadora”, a “todos os coordenadores locais” e a “todos os participantes”. O responsável lembrou ainda que, apesar de se ter encerrado a fase diocesana do Sínodo dos Bispos sobre a Sinodalidade, “o Sínodo não acabou” e desafiou a assembleia a continuar a acompanhar a caminhada sinodal, nas próximas fases, “continental e universal”, até outubro de 2023.

 

“64% das paróquias”

A equipa diocesana do Sínodo dos Bispos sobre a Sinodalidade estima “a participação de 15 mil pessoas na caminhada sinodal no Patriarcado de Lisboa”. Na Assembleia Diocesana Pré Sinodal, no Centro Diocesano de Espiritualidade, no Turcifal, foi feita a contextualização do processo convocado pelo Papa Francisco para toda a Igreja e foi relevado que praticamente dois terços das paróquias da diocese (182 de 285) participaram na caminhada sinodal, o que representa 63,9%.

A representação geográfica pela diocese, em termos de zonas pastorais, mostra que: do Oeste, participaram 47 de 100 paróquias (47%), do Termo Ocidental foram 42 as paróquias de um total de 52 (80,8%), do Termo Oriental enviaram respostas 47 das 62 paróquias (75,8%) e de Lisboa Cidade participaram 46 das 71 paróquias (64,8%). Foram “recebidas e validadas 191 respostas ou sínteses paroquiais e de outras realidades eclesiais”. Destas, “160 respostas correspondem a paróquias”, sendo que, como algumas “responderam em conjunto”, estão “representadas 182” das “285 paróquias” do Patriarcado de Lisboa. “Houve ainda 16 de respostas de movimentos, 7 respostas de reitorias e capelanias, 3 de colégios e 5 de outras realidades”, informaram.

A comissão diocesana estima que “tenham estado envolvidos mais de 1700 grupos sinodais”, dos quais “91% respeitam a paróquias” e “9% a outras realidades eclesiais”. “A maioria dos grupos tinha entre 1 e 25 pessoas”, foi revelado. “Acreditamos que tenham estado envolvidos na reflexão 15 mil diocesanos”, anunciou ainda a organização, sublinhando que “todas as faixas etárias estiveram envolvidas”, sendo que “a mais participativa foi a faixa dos 51-60 anos e a segunda foi a dos 41-50 anos”. Do total de 191 respostas, houve “130 que recorreram a grupos já existentes” para participar no processo sinodal. Apesar da pandemia, a grande maioria dos encontros (97%) decorreram de forma presencial, havendo apenas 3% de encontros online.

Sobre o envolvimento, foi salientado o “entusiasmo dos participantes” e “o desejo de continuidade do processo sinodal”, bem como “o compromisso com a reflexão da comunidade” e “a importância de caminhar em conjunto”. “Mais preocupante, franco ou nulo, a adesão da sociedade civil”, assume a comissão. As principais dúvidas e dificuldades foram “a adesão e a participação da comunidade crente” e “a pandemia e a dificuldade em congregar a comunidade”.

Nas 191 respostas, as comunidades destacaram ainda “cinco áreas” em que “a Igreja necessita de conversão”: “1) saber acolher a todos com dignidade e respeito, trabalhando a integração das áreas feridas, como o divórcio, o recasamento ou a homossexualidade; 2) investir no trabalho conjunto e em criar espírito de comunidade e de sinodalidade, com maior protagonismo e responsabilização dos leigos; 3) uma nova evangelização, no entusiasmo e nas formas, que ilumine as realidades da vida contemporânea com a alegria do Evangelho e com a tradição da Igreja; 4) o diálogo, assumindo a Igreja um papel mais interventivo na vida social e política; 5) a necessidade de o testemunho de vida cristã ser uma expressão autêntica da fé em que acreditam, para a mensagem cristã ganhar credibilidade”.

No início deste momento, foi revelado que a comissão diocesana “organizou 13 encontros de formação” – oito presenciais, nas diferentes áreas geográficas da diocese, e cinco online, devido à pandemia – para os coordenadores locais, para “acompanhamento e esclarecimento”. “A adesão foi elevada, tendo participado 1600 pessoas”, frisaram os responsáveis.

No final da manhã, e após a contextualização, os cerca de 100 membros sinodais reuniram-se em trabalhos de grupo. ‘Que conclusões podemos destacar e que linhas de ação prioritárias está o Espírito Santo a pedir à Igreja de Lisboa’, foi a questão colocada para debate e reflexão. É desejo da comissão diocesana que o documento saído da Assembleia Diocesana Pré Sinodal fosse “o sentir da diocese sobre este processo sinodal”.

 

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“Se queremos a vida eterna, então comecemos por fazer Sínodo”

O Cardeal-Patriarca de Lisboa considera que o caminho sinodal é a única maneira de “aprender o que Deus é”. “Quem não ama, não conhece a Deus. Amar é viver, trabalhar, sonhar com os outros. Se queremos a vida eterna, então comecemos por fazer Sínodo”, frisou D. Manuel Clemente, na Missa com que iniciou a Assembleia Diocesana Pré Sinodal. No início dos trabalhos, no Centro Diocesano de Espiritualidade, no Turcifal, o Cardeal-Patriarca lembrou que “este caminho em conjunto é muito mais do que uma vontade nossa”. “É de Deus”, referiu. Na homilia da Eucaristia, na capela, D. Manuel Clemente refletiu sobre o sentido da palavra ‘reforma’ quando aplicada à Igreja e que é, muitas vezes, referida nos sínodos. “Falamos hoje em reforma da Igreja. É preciso percebermos o que é que esta reforma significa. Reforma significa retomar a forma inicial. É isso que a palavra ‘reforma’, no seu sentido teológico, eclesiológico, autêntico, significa. É assim que se tem dito ao longo de muitas ocasiões – e até séculos – desta caminhada em conjunto, ao longo de mais de dois mil anos”, observou, perante os representantes das “instâncias mais representativas da diocese”.

O Cardeal-Patriarca tomou ainda como exemplo a primeira leitura daquele sábado, em que a Igreja celebrava a Festa de São Matias, Apóstolo, para reforçar a necessidade de procurar, “começando pela oração”, a vontade de Deus. Na leitura dos Atos dos Apóstolos lê-se que “havia um problema por resolver”: era necessário substituir Judas. “Pedro podia ter resolvido sozinho porque não faltavam amigos... Mas reuniu-se a assembleia e começaram por rezar, para pedir a Deus que dissesse quem seria. E foi assim que eles fizeram. É uma ótima lição”, garantiu. “A reforma é sempre sinodal, um caminho em conjunto. Retomar a forma inicial, passa necessariamente por aqui e não é em abstrato, mas no concreto, de nós não trabalharmos sozinhos”, sublinhou D. Manuel Clemente.

 

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Oração de Vésperas

A Assembleia Diocesana Pré Sinodal, no Centro Diocesano de Espiritualidade, no Turcifal, terminou com a Oração de Vésperas, presididas pelo Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente.

 

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Painel com vivências da fase diocesana: “Todas as vozes contam”

 

Foram seis os testemunhos que participaram no painel com vivências da fase diocesana do caminho sinodal no Patriarcado. No auditório do Centro Diocesano de Espiritualidade, no Turcifal, os membros da Assembleia Diocesana Pré Sinodal escutaram as partilhas dos jovens, da Capela do Rato, do Colégio Marista de Lisboa, da paróquia de Rio de Mouro, da Capelania do Hospital de Santa Marta e da paróquia de Peniche.

 

Jovens

O painel iniciou com uma participação em vídeo do jovem Rodrigo Figueiredo, membro do organismo internacional de consulta aos jovens do Conselho Pontifício dos Leigos e Família, que participou na sessão de abertura do Sínodo dos Bispos sobre a Sinodalidade, no Vaticano, em outubro passado. “Foi uma experiência muito sinodal, onde nos envolveram a todos, uma jovem discursou, houve grupos de partilha, com cardeais, bispos, leigos e consagrados. Caminhámos juntos e sentimos que todas vozes contam. O Sínodo chama e percebemos que todos podem participar e ter voz ativa”, partilhou este jovem, manifestando “alegria” pelo processo sinodal. “As comunidades precisam sentir que também contam. É preciso mais”, desafiou. A preparação da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023, é também “uma oportunidade de caminharmos juntos”. “Pode ser uma experiência sinodal belíssima”, considerou Rodrigo Figueiredo.

 

Capela do Rato

Sandra Chaves Costa, da Capela do Rato, contou como procuraram uma “participação que envolvesse todos”. Foi organizado “um ciclo de três conferências, com pessoas de referência” e houve o “envolvimento de muitas pessoas” e de “várias realidades eclesiais” desta comunidade. Esta leiga lembrou os “momentos de oração e reflexão” e o “encontro informal de convívio sinodal”. “Apresentámo-nos com um cartão com o nome e foi importante para nos conhecermos e reunirmo-nos à volta da mesa, com um grande bolo rei e um grande bolo rainha”, contou, recordando a “partilha franca e aberta” e o desejo de “manter a estrutura sinodal”. “A comunidade não sentiu grandes dificuldades no processo, mas a equipa teve dificuldades na síntese final a enviar à comissão diocesana, para integrar a opinião de todos”, assumiu. “Foi uma verdadeira jornada conjunta, em que o Espírito Santo foi o protagonista”, concluiu Sandra Chaves Costa.

 

Colégio Marista de Lisboa

Marisa Temporão, do Colégio Marista de Lisboa, participou através de uma mensagem vídeo onde explicou o caminho feito “com os jovens e também com os pais”. Foram organizados “vários encontros”, para “reflexão de cinco perguntas”. Todos responderam “às mesmas questões” e “as conclusões foram juntas e trabalhadas com pais e jovens”, explicou. Diversos jovens alunos deixaram também o seu testemunho, sublinhando que estão “a ser escutados”, mas querem “ser mais ouvidos”, para “espalhar a mensagem de Jesus” e ser “exemplo para mais pessoas”. “Este processo sinodal pode ser um ponto positivo para a Igreja e um caminho muito importante”, frisaram os jovens.

 

Paróquia de Rio de Mouro

Ana Cristina Silva, da paróquia de Rio de Mouro, começou por lembrar que “a base do caminho sinodal foi a oração”. “Sem ela, seria um projeto nosso”, sublinhou. Nesta paróquia da Vigararia de Sintra, foi criada uma equipa, que constituiu 27 grupos e 56 moderadores – sendo dois moderadores por grupo, havendo 319 participantes. Procuraram escutar “as realidades” e “os grupos periféricos”, mas também “as entidades de Rio de Mouro”, como “o centro de saúde, a junta de freguesia e as escolas”, para “envolver todos” no caminho sinodal e para “ter feedback”. “A pandemia não ajudou, mas fizemos cartazes, foram feitos avisos e entregámos perguntas para chegar ao resto da comunidade”, contou Ana Cristina. Foi também organizado, no dia 20 de março, um encontro, que reuniu 50 pessoas, e em que cada pessoa tinha um crachá com o nome, para “conhecer as diversas realidades de Rio de Mouro”, que “são muitas, nomeadamente de imigrantes”. Os jovens participaram neste encontro “num grupo à parte”. “Foi positivo, teve dinâmica própria, com questões, e o facto de serem escutados e não julgados foi muito positivo”, garantiu.

 

Capelania do Hospital de Santa Marta

Pedro Rei, da capelania do Hospital de Santa Marta, em Lisboa, referiu que o processo sinodal “deu voz a quem não se revê nas estruturas das paróquias”. A iniciativa sinodal “partiu dos leigos” e reuniu “batizados que se sentiam em diáspora e que fizeram uma comunidade”, salientou. “O mais importante foi a verdadeira consciência de pertença, a construção do ‘nós’, não desistir da Igreja que somos, que queremos, mas que ainda não temos”, apontou. Este leigo explicou que “os doentes não foram ouvidos”, porque não têm “acesso às enfermarias, nem aos doentes”. “O Sínodo concentrou-se nos que vão celebrar a Eucaristia ao sábado”, contou. A síntese final teve três eixos: “Uma Igreja comunitária, aberta e em diálogo, ao serviço da casa comum”.

 

Paróquia de Peniche

Para a paróquia de Peniche, o caminho sinodal foi “uma experiência maravilhosa”. “Escutámos muita gente que não anda perto da Igreja e que nem batizado é, e a comunidade falou sobre o âmago do cristianismo em Peniche”, partilhou Francisco Salvador, assegurando que “foi fácil ouvir as pessoas”. Participaram no processo sinodal “24 entidades, 243 participantes e mais 180 que também estiveram presentes”. “Apesar de tudo, só atingimos 2% da população”, lamentou. Agora, a “grande preocupação da equipa” é “a possível frustração das expectativas levantadas pela experiência”. “As pessoas gostaram e querem participar mais. Temos de corresponder, para a vontade não ser frustrada no futuro”, anteviu este leigo.

 

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Síntese Diocesana

Leia o documento final, na íntegra, em https://sinodo.patriarcado-lisboa.pt

 

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Fotos da Assembleia Diocesana Pré Sinodal

Veja em www.flickr.com/patriarcadodelisboa/albums

texto e fotos por Diogo Paiva Brandão
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