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Religiosa portuguesa e a visita adiada do Papa ao Sudão do Sul
“A paz é possível!”
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Quando já se contavam os dias para a chegada do Santo Padre ao Sudão do Sul, o Vaticano anunciou que a visita iria ser adiada por recomendação dos médicos que acompanham o Papa. É indisfarçável a desilusão que esta notícia causou. A irmã Beta Almendra, uma religiosa portuguesa a viver em Wau, dizia-nos, ainda a viagem não tinha sido cancelada, que a presença do Santo Padre seria histórica para o processo de paz no mais jovem país do mundo. A visita foi adiada, o país não.

 

Beta Almendra, 52 anos, é natural da Ericeira, no Patriarcado de Lisboa. O Sudão do Sul é a sua segunda experiência missionária em África. Antes, durante seis anos, esteve no Quénia. Chegou a Wau no início de 2021, em plena pandemia do coronavírus. E agora esteve quase, quase, a receber o Santo Padre. A expectativa gerada pela visita foi enorme, até pelo que o Papa já fez pelo fim da guerra, pelo fim da violência neste país. A irmã falou com a Fundação AIS ainda a viagem a África não tinha sido cancelada por conselho dos médicos do Vaticano. Ficam aqui as suas palavras que retratam a urgência da paz para o mais jovem país do mundo. Uma urgência que ganhou visibilidade mediática com o gesto do Santo Padre, que surpreendeu o mundo, ao beijar os pés dos principais líderes do Sudão do Sul, que participavam em Abril de 2019 num retiro espiritual no Vaticano. Esse gesto ainda hoje é lembrado e confere ao Papa uma autoridade moral única. “Muita desta gente aqui do Sudão do Sul viveu sempre em guerra. São gerações que cresceram e viveram conhecendo somente a guerra”, diz Beta Almendra. O gesto do Papa, beijando os pés do presidente Salva Kiir e dos seus vice-presidentes, Riek Machar e Rebecca Nyandeng, foi em Abril de 2019. O Papa pediu-lhes que fizessem tudo o que estivesse ao seu alcance para que o acordo de paz, assinado em Setembro de 2018, na Etiópia, fosse cumprido. “Peco-lhes com o coração”, disse então o Papa, momentos antes de se inclinar para beijar os pés dos três líderes políticos. O acordo continua em vigor, mas continua também a ser um compromisso ainda frágil.

 

Único caminho possível

Apesar do gesto, “tão humilde, tão lindo, de beijar os pés a estes líderes”, a paz permanece ainda como um compromisso incerto. A visita do Papa iria acontecer num ano particularmente importante para o país, com eleições agendadas para Dezembro. “A minha expectativa é que as pessoas realmente entendam que a paz é possível, que a paz é uma coisa muito boa, é o único meio para se poder desenvolver este país, para que as escolas continuem a funcionar, os hospitais continuem a funcionar, que o povo sul-sudanês cresça como educadores, como professores, como médicos, como pilotos, como engenheiros, e possam eles mesmos cuidar do seu país pela paz.” Quando Beta Almendra falou com a Fundação AIS, todos estavam mobilizados na preparação da visita do Papa, anunciando-a “com muito entusiasmo”. Todos sonhavam participar nesse “momento lindo” que seria o encontro com o Santo Padre. A visita foi adiada, mas o país não. É necessário continuar a enfrentar os problemas, a semear concórdia, a trabalhar para que os conflitos e a violência cessem de vez abrindo a esperança de um futuro de paz.

 

Ajudar é preciso

A visita do Papa foi adiada, mas teve o condão de alertar o mundo também para as dificuldades da Igreja local, para as necessidades mais básicas das populações, para a ajuda que é precisa e urgente para tantos sectores da sociedade. A missionária portuguesa fala principalmente da Diocese de Wau, que conhece melhor, mas as suas palavras aplicam-se a todo o país e são um retrato das necessidades da Igreja neste que é o mais jovem país do mundo. “A Igreja no Sudão do Sul é realmente muito dependente de fora, da ajuda que vem de fora. Falo aqui da diocese de Wau. Está tudo para se construir: seminários, casas diocesanas, conventos, escolas, hospitais… é tudo uma questão de investimentos em estruturas que existiram, mas que foram destruídas… Realmente dependemos dos benfeitores de fora, completamente.” Como diz Beta Almendra, as irmãs combonianas, como comunidade, são pequeninas, são “como uma gota de água”, mas estão cheias de projectos, a começar a ajuda às raparigas, para não desistirem de estudar, de ir à escola. Para não desistirem do futuro. Para essa missão, como para todas as necessidades que se colocam à Igreja na Diocese de Wau, a religiosa portuguesa espera a ajuda da Fundação AIS. “Conto convosco!”

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