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Ordenações Presbiterais, nos Jerónimos
Servir Cristo e a Igreja
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Dos seis jovens da diocese que vão ser ordenados sacerdotes no próximo Domingo, 3 de julho, dois são da mesma paróquia (Évora de Alcobaça), outros dois são gémeos (os irmãos Sousa), um é da cidade de Lisboa (São João de Deus) e o sexto é do país do Papa Francisco (Argentina). Ao Jornal VOZ DA VERDADE, os seis diáconos, entre os 24 e os 29 anos, contam as suas histórias de vida e de vocação.

 

“Levar a todos a alegria cristã”

Foi na família que Afonso Sousa conheceu Jesus Cristo. “Tudo nasce da família, uma família cristã de base”, refere este jovem, ao Jornal VOZ DA VERDADE. “Íamos com os pais à Missa, mesmo que adormecesse ou estivesse a brincar na igreja, e as primeiras orações foram aprendidas com eles. A vida com Jesus nasce necessariamente da família cristã e depois vai-se aperfeiçoando com o caminho concreto de maturidade e na vida com o seminário”, acrescenta Afonso, que tem duas irmãs, uma mais velha e outra mais nova, e um irmão gémeo, Pedro, que também vai ser ordenado no mesmo dia. “O Pedro e eu ‘brincávamos’ às Missas, quando éramos pequenos, e havia ali um despertar, porque era muito giro o que o padre fazia e queríamos imitá-lo. Foi após entrarmos na catequese, teríamos 7 anos, montávamos um pequeno altar em casa e fazíamos ‘celebrações’ e até mesmo ‘procissões’”, partilha este ordinando, que esteve no pré-seminário e no seminário menor (Penafirme). “No pré-seminário, senti verdadeiramente o Senhor a chamar-me. Fui convidado pelos padres do pré-seminário, que me conheciam porque o Pedro ia lá aos encontros e vinha muito feliz para casa”, recorda, lembrando que frequentava os Salesianos de Manique e estava a fazer “uma experiência vocacional com os Salesianos”, os ‘Encontros com D. Bosco’. Aos 15 anos, acontece “a grande inquietação e o grande chamamento”. “No encontro de Carnaval do pré-seminário, no meu 10.º ano, um padre diz-me: ‘Afonso, a Igreja chama-te ao seminário’. Senti que era para mim, que era a Igreja que me chamava”, conta.

Dos nove anos de seminário, este futuro padre considera que foi “um caminho muito belo, de formação, construído em Igreja”. “Foi conhecer-me, crescer na intimidade com Jesus e descobrir quem eu sou e quem é esta Igreja que eu quero servir e amar”, garante este aluno do Seminário dos Olivais, assegurando: “Estou aqui, senhor Bispo, disponível para a Igreja, com a certeza de que quero levar a todos a alegria cristã e mostrar que Deus ama cada um. Estou aqui para servir e para amar a Igreja”.

Afonso Sousa, 24 anos

Paróquia de Tires

 

Uma padre para as ‘pessoas assim’

Nascido numa “família disfuncional”, Ángel Azcurra cresceu com duas irmãs mais novas, numa realidade familiar “um pouco complicada”. “Somos filhos de mãe solteira, com pais diferentes”, conta, ao Jornal VOZ DA VERDADE. Toda a família de Ángel faz parte do Caminho Neocatecumenal. “Quando eu tinha 7 anos, a minha mãe deixou a Igreja. Foi um choque, mas os meus avós continuaram a levar-me e ia à catequese e à Missa”, frisa, não esquecendo a “figura marcante” do pároco. “Além de ser muito próximo, ajudou-me pessoalmente. Foi realmente um pai”. Com 13 anos, entrou numa comunidade deste movimento. “Comecei todo um caminho de cura, de redescobrimento da fé, não tanto ligada aos avós, mas de uma maneira mais pessoal”, frisa. Assumindo uma “adolescência muito conturbada”, este argentino conta que a inquietação vocacional “começou com 10 anos, após a Primeira Comunhão e a confissão”, mas foi algo que “ficou guardado”. Já com 20 anos, quis conhecer o pai, de quem “nunca tinha ouvido falar”. Após um ano de pesquisa, percorreu 1500 quilómetros. “Foi uma experiência muito marcante, mas como experiência de fé”, assinala, destacando o apoio “do pároco e dos catequistas da comunidade”. Nesta época, este jovem trabalhava numa padaria e à noite estudava Música. “A questão da vocação abriu-se, a partir de outra perspetiva: quando conheci o Senhor a partir de uma maneira pessoal, o olhar mudou”, conta Ángel, que foi destinado a Portugal pelo Caminho Neocatecumenal, já com 21 anos, e onde chegou em novembro de 2014, para o Seminário ‘Redemptoris Mater’, em Caneças. “Tem sido um tempo muito bom, mas intenso. Uma coisa que me ajudou muito foi o D. Manuel, senhor Patriarca, numa conversa que tivemos, eu dizia: ‘Não percebo porque o Senhor me chama sendo assim’. Estava num período de crise e ele disse-me: ‘O Senhor chama gente assim para pessoas assim’. Aquilo abriu-me um novo panorama”, partilha, desejando fazer missão “seja onde for”. “Missão passa pela obediência, onde for preciso, para acompanhar ‘pessoas assim’ e também menos conturbadas”, graceja.

Ángel Azcurra, 29 anos

Paróquia de Nuestra Señora de Luján, Cipolletti, Argentina

 

“Olhar as pessoas com o olhar de Cristo”

Filho único, Diogo Tomás conheceu Jesus Cristo, “primeiro de tudo, pela comunidade humana”. “Os meus pais fazem parte de associações e essa envolvência, não religiosa, é fundamental”, assinala, ao Jornal VOZ DA VERDADE. Entra na catequese, faz o “percurso normal” e, com a “criação de um grupo de jovens para o Crisma”, a “dimensão comunitária ganha a dimensão espiritual”. “A ligação a Cristo vem pela comunidade cristã, o estar ao serviço, na atenção concreta às necessidades”, reconhece. Aqui surge “a maior profundidade da oração” e da “relação com Jesus”.

Na JMJ Madrid 2011, com 17 anos, Diogo assume que, “basicamente”, foi “passear”. “Nem me recordo de palavras do Papa”, admite. “Mas vi uma Igreja mundial, universal, com muitos povos e culturas. Isso foi belíssimo”, diz. O envolvimento no grupo de jovens “foi crescendo” e foi “conhecendo cada vez mais Jesus”, o que o levou à questão: ‘E se dedicasse a minha vida inteira a isto?’. Mas foi estudar Economia. “O primeiro ano foi ótimo, o segundo foi um ano de muito silêncio”, lembra. E surge a questão: ‘E se fosse o seminário?’. “Não falei com ninguém e, em agosto, fui a Taizé e, na confissão, o padre disse-me para eu resolver isso em Lisboa”, recorda. A sua paróquia de Évora de Alcobaça muda então de pároco e, numa das primeiras reuniões, o padre Ivo “estava com dor de cabeça”. “Ele disse-me: ‘Quando fores padre, logo vês’. Mas eu não tinha falado com ninguém, era impossível ele saber…”, garante. “Ele percebeu que havia inquietações vocacionais”, conta, iniciando então direção espiritual. Passado uns meses, Diogo entra no pré-seminário e, em 2015, no seminário. “Com os pais, no início, não foi muito pacífico”, diz. Destes sete anos, destaca “a entrada na vida pastoral”. “O voltar a uma comunidade paroquial já não com os mesmos olhos, mas com outro sentido de missão, o olhar as pessoas com o olhar de Cristo. Perceber que a vida já não é só minha, que há um Cristo que me chama e aí sou chamado a servir”, salienta este aluno do Seminário dos Olivais, reforçando que, para o futuro, quer apenas “servir esta Igreja, conforme Cristo vai pedindo, na pessoa do Bispo”.

Diogo Tomás, 28 anos

Paróquia de Évora de Alcobaça

 

“Ser um padre muito humano”

Fábio Alexandre é “o mais novo” dos seis futuros padres do Patriarcado de Lisboa e queria ser piloto de Fórmula 1. Mas a sua ‘corrida’ vai ser outra. Com um irmão oito anos mais novo, cresceu numa “família tipicamente cristã”, sobretudo do lado “da mãe”, que conta que foi o filho quem “fez pressão” para “entrar na catequese”. “Devo ter sido movido pelas amizades”, considera, ao Jornal VOZ DA VERDADE. Na adolescência, Fábio recorda que a mãe foi sua catequista. “Ofereci muita resistência. Na altura, havia um encanto muito grande que era a Fórmula 1 – e que ainda hoje sou um grande fã. O meu pai não ia à Missa e eu queria era ficar com ele a ver os grandes prémios”, reconhece. A verdade é que foi “indo” à Missa e à catequese. No 7.º, 8.º ano, na escola, surge “o convite” para entrar no pré-seminário, por um colega, que disse ser “uma experiência boa”. Fábio comentou o assunto em casa, mas “caiu no esquecimento”, até que a mãe, “umas semanas mais tarde”, leva um panfleto do pré-seminário para casa. “A minha primeira reação foi dizer: ‘Eu não vou para padre’. Tinha 13 anos e esse folheto ficou na mesa da sala e, no final da semana, acabei por o preencher”, relata. “Fui, sem grande certeza de que queria ser padre. Era uma questão que nunca me passou pela cabeça; ser piloto de Fórmula 1, sim”, assegura. Após um ano, com 14, sai de casa e entra no seminário menor, “como desafio”. “A maior certeza deste caminho aconteceu no 12.º ano, na transição para Caparide, na ordenação episcopal de D. João Marcos, que dizia: ‘Seminaristas, a felicidade de muita gente depende da vossa fidelidade’. Isso ficou a mexer comigo”, recorda, lembrando ainda outra frase, esta “do padre Eduardo Coelho, que dizia: ‘O tempo para Jesus não é perdido’”.

Do tempo de formação, este aluno do Seminário dos Olivais destaca a “formação humana”. Para o futuro, na ‘corrida’ da vida, Fábio deseja “ser um padre muito próximo das pessoas”. “O padre que serei terá que ser muito humano e estar presente com as pessoas e para as pessoas. Ser Jesus para elas”, ambiciona.

Fábio Alexandre, 24 anos

Paróquia de Évora de Alcobaça

 

“Ministro da misericórdia de Deus”

Lourenço Lino cresceu “numa família cristã” e “sempre” ouviu “falar de Jesus em casa”. “Participação ativa na paróquia de São João de Deus, Missa semanal, catequese normal”, explica ao Jornal VOZ DA VERDADE. Dos três anos ao 12.º ano, andou num colégio católico, o Sagrado Coração de Maria. “Via o testemunho de gente que entrega a vida a Cristo. As coisas de Deus ecoaram sempre muito em mim. Houve sempre um espanto e lembro-me de a Missa me fascinar”, conta este jovem, que é o terceiro de quatro filhos e sempre procurou “compreender mais a dimensão da fé”. “É muito por aí que vem a questão vocacional, o pôr questões à fé, a Deus, e saber apresentar a minha fé aos outros”, sublinha. Por outro lado, desde a Primeira Comunhão que Lourenço era acólito. “Foi importante aproximar-me do altar. E depois comecei a ‘dobrar’ Missas, porque além da celebração das 11h00, a Missa das famílias com o cónego Carlos Paes, a seguir havia uma com menos gente e menos acólitos e eu ficava”. Esse contacto com o padre Alberto Teixeira Dias, vigário paroquial, foi “muito importante”. “Especialmente por sentir nele um padre muito realizado, com muito bom humor, com muita proximidade e muito afetuoso. Uma vida feliz por ser de Cristo. Quando ele me põe a pensar o que Jesus quer de mim, isso altera a perspetiva sobre a minha vida”, considera.

No 12.º ano, completa um ano de pré-seminário e a entrada no seminário “surgiu muito naturalmente”. “Senti que não podia ser outra coisa. Entrei muito feliz, com muita convicção, e tive o entusiasmo de toda a família”, refere, apontando que “o tempo de seminário foi muito intenso”. “Conheci-me a mim próprio, as minhas fragilidades e a minha dependência de Deus, o que ajudou a abandonar-me nas mãos de Deus e a ter mais felicidade e confiança na vocação”, frisa este aluno do Seminário dos Olivais, querendo, após a ordenação, ser “ministro da misericórdia de Deus”. “Deus serve-se do padre para oferecer aquilo que só Ele pode dar. Ajudar as pessoas no caminho para Deus e de Deus para o coração das pessoas, é assim que encaro a missão do sacerdote”, diz.

Lourenço Lino, 24 anos

Paróquia de São João de Deus

 

“Em comunhão com a Igreja”

Tal como o irmão gémeo Afonso, Pedro Sousa considera que “a família” foi “essencial para conhecer Jesus Cristo”. “Juntamente com as nossas irmãs, todos juntos fizemos a experiência de irmos à igreja juntos. Isto foi essencial”, garante, ao Jornal VOZ DA VERDADE. Além de ‘brincar’ às Missas com o irmão, este jovem confessa uma inquietação que sentiu na paróquia de Tires. “Sentia que o meu prior que estava antes, quando nós éramos pequenos, estava velho, e o que veio substituí-lo era velho também. Pensava muito quem é que daqui a uns anos estaria no lugar dele. Isso inquietava-me muito”, assume. No 5.º ano, Pedro e Afonso começam a acolitar, por altura da chegada desse pároco “mais velho”, o padre Magalhães. “Foi muito o estar com ele, mas perceber que era quase como um avô, e a questão da vocação surge muito interiormente, sem grande explicação”, refere, lembrando que, “com cinco anos, já dizia que queria ser padre”. “Tenho isso escrito e desenhado na escola, quando fazíamos as profissões. As pessoas perguntavam porquê e isso eu já não sabia responder. Num outro desenho, até dizia que queria ser Papa”, partilha Pedro, entre sorrisos. O “estar perto” do seu pároco foi “muito importante”. “Acompanhávamos a vida paroquial, estávamos com ele no cartório, a ajudar na informática, a fazer cartazes, a responder a emails”, recorda. Surgiu então o pré-seminário. “O padre Magalhães marcou um número no telefone e um padre convidou-me. Foi ele que, de alguma forma, me inquietou mais”, assume. Após um ano e meio, em 2012, ia entrar no seminário, mas os pais diziam que “era muito novo” e que tinham “muito a ensinar”. “Nesse ano, fiz o Crisma e convidei os padres do seminário a irem lá a casa e foi aí que eles disseram que afinal me deixavam ir”, conta. “Do seminário guardo a experiência do encontro com Jesus e com a Igreja. Uma experiência intensa, que fez perceber o que é o sacerdócio”, resume este aluno do Seminário dos Olivais, desejando para o ministério “estar ao serviço da Igreja”, na “comunhão com o Bispo, com os padres e com toda a Igreja neste serviço do Reino dos Céus”.

Pedro Sousa, 24 anos

Paróquia de Tires 

 

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Vão ser também ordenados sacerdotes, da Província Portuguesa da Ordem Franciscana (Franciscanos): Paulo Faria (batizado da paróquia de Benfica), Sérgio Pinheiro (batizado na paróquia do Forte da Casa) e Márcio Carreira (batizado na paróquia da Tornada).

 

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Do Instituto Missionário Pia Sociedade de São Paulo (Paulistas), vai ser ordenado presbítero Jorge Maldonado (batizado na paróquia de Santo António de Pádua de Ventaquemada, Arquidiocese de Tunja, Colômbia).

 

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Transmissão em direto | As Ordenações Presbiterais do Patriarcado de Lisboa vão ter lugar no próximo Domingo, dia 3 de julho, às 16h00, na Igreja de Santa Maria de Belém, no Mosteiro dos Jerónimos, e são transmitidas em direto pelo site (www.patriarcado-lisboa.pt) e redes sociais (Facebook e YouTube) da diocese. A vigília de oração pelos ordinandos vai decorrer na próxima sexta-feira, 1 de julho, às 21h30, na capela do Seminário dos Olivais.

texto e fotos por Diogo Paiva Brandão
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