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P. Manuel Barbosa, scj
Praedicate Evangelium
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Qualquer reforma é um dinamismo permanente na vida das pessoas e instituições. Nesse sentido se entente a Constituição Apostólica Praedicate Evangelium do Papa Francisco sobre a reforma da Cúria Romana e o seu serviço à Igreja no mundo, que foi publicada a 19 de março e entrou em vigor a 5 de junho. É o ponto de chegada de um processo de nove anos, que se iniciou a 13 de abril de 2013, quando o Papa anunciou a criação de um Conselho de Cardeais para o aconselhar no governo da Igreja universal e o começo de uma reforma da Cúria Romana.

A Constituição Apostólica encontra-se no site do Vaticano, neste momento apenas na versão original em italiano. A longa conferência da sua apresentação no Vaticano dá-nos as principais linhas orientadoras, de inspiração evangélica, missionária e sinodal. No dizer do cardeal Semeraro, «o anúncio do Evangelho e o espírito missionário será o tema que caracteriza a atividade de toda a Cúria. Quanto à expressão Praedicate Evangelium (que intencionalmente quer estar ligada à de Evangelii gaudium), é retirada, como é evidente, de Mc 16,15: um mandato que, como escrevera São João Paulo II em Redemptoris missio, constitui “o primeiro serviço que a Igreja pode oferecer a cada homem e a toda a humanidade no mundo de hoje” (n. 2)».

A sinodalidade é igualmente inspiração contínua de todo o texto. Ainda segundo o cardeal Semeraro, «a sinodalidade entre os Dicastérios devia ser considerada como muito importante e deveria desenvolver-se na Cúria como uma verdadeira e própria cultura, auxiliada por um sistema de comunicação que permita saber o que fazem os outros para evitar duplicações de atividades e programas».

Esta proposta de reforma está intimamente ligada ao rosto da Igreja em saída missionária, como afirma o Papa Francisco no n. 27 de Evangelii gaudium: «A reforma das estruturas, que a conversão pastoral exige, só se pode entender neste sentido: fazer com que todas elas se tornem mais missionárias, que a pastoral ordinária em todas as suas instâncias seja mais comunicativa e aberta, que coloque os agentes pastorais em atitude constante de “saída” e, assim, favoreça a resposta positiva de todos aqueles a quem Jesus oferece a sua amizade».

Antes de apresentar o conjunto de normas, a Praedicate Evangelium contém um relevante preâmbulo com as orientações de fundo e um apartado de doze princípios e critérios para o serviço da Cúria Roma, que valeria a pena aprofundar. Destaco apenas o sexto, que aponta, como alma da reforma, a espiritualidade, que se alimenta da relação de todos os seus membros com Cristo, para que o serviço que presta esteja unido à experiência da aliança com Deus, na feliz consciência de serem discípulos missionários ao serviço de todo o povo de Deus.

Neste dinamismo de fundo de carácter evangélico, missionário e sinodal, a Praedicate Evangeliium assume os doze critérios orientadores da reforma afirmados pelo Papa em 2016: individualidade; pastoralidade; missionariedade; racionalidade; funcionalidade; modernidade; sobriedade; subsidiariedade; sinodalidade; catolicidade; profissionalismo; gradualidade. Cada um deles exigiria uma aprofundada reflexão em sentido prático para a vida da Igreja e suas instituições.

Espera-se que esta reforma da Cúria Romana, que atinge a Igreja universal e o serviço que presta a todas as Igreja locais, possa ser inspiradora também para a renovação das cúrias e organismos das dioceses, dos institutos de vida consagrada e da Conferência Episcopal, sempre na escuta do Espírito Santo e uns dos outros. Que isso aconteça sempre segundo os dinamismos evangélico, missionário e sinodal!

 

P. Manuel Barbosa, scj