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Roma
“Se não rezas logo de manhã, já não rezas e o dia fica estragado”
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O Papa Francisco assumiu, numa conversa num podcast no Spotify, que sente “falta de passear nas ruas”. Na semana em que agradeceu o “dedicado e zeloso serviço” do cardeal Hummes, o Papa concedeu uma entrevista onde falou da guerra na Ucrânia e do aborto, rezou pela paz e pela reconciliação na República Democrática do Congo e convidou os idosos à “revolução da ternura”.

 

1. O Papa Francisco recebeu recentemente a visita de Guillermo Marcó, seu antigo porta-voz nos tempos em que era Arcebispo de Buenos Aires, e a conversa entre os dois amigos foi divulgada no Spotify, revelando o sentido de humor do Papa e alguns detalhes do seu quotidiano. À pergunta ‘Ainda continuas a levantar-te cedo para rezar?’, Francisco responde que sim, porque “se não rezas logo de manhã, já não rezas e o dia fica estragado”. Depois, confidenciou que tem saudades de passear livremente pelas ruas de Roma, tal como costumava fazer nas ruas da capital argentina. “Em Buenos Aires gostava de caminhar e de tomar o autocarro, mas aqui, nas duas vezes em que saí, fui apanhado em flagrante”, lembrou, recordando que o fez durante o inverno, às sete da tarde, quando já era escuro: “Quando fui ao oculista, uma senhora que estava na varanda gritou ‘É o Papa!’ e acabou tudo ali”. A segunda “escapadela” foi a uma loja de discos de uns amigos, após as obras de renovação, porque eles tinham insistido: “Vem, porque nos ajudaste muito. O meu azar foi que ali próximo havia uma praça de táxis onde estava um jornalista à espera de um amigo”.

Nesta conversa, Francisco negou que alguma vez tenha saído da Casa Santa Marta disfarçado e refere que “o mito da fuga do Vaticano” deve ser atribuído a São João Paulo II que amava o esqui e conseguia praticá-lo nas montanhas, “disfarçado com um barrete que lhe cobria o rosto e assim ninguém o reconhecia”.

 

2. Foi com “profundo pesar” que o Papa recebeu a notícia do falecimento do cardeal Cláudio Hummes, da Arquidiocese de São Paulo, no Brasil, no dia 4 de julho, aos 87 anos, vítima de cancro. Num telegrama enviado ao Arcebispo Metropolitano da arquidiocese, cardeal Odilo Pedro Sherer, Francisco agradece a Deus pelos “longos anos de seu dedicado e zeloso serviço, sempre pautado pelos valores evangélicos, à santa Mãe Igreja nos diversos encargos pastorais que lhe foram confiados, tanto no Brasil como na Cúria romana”. O Santo Padre lembra também o “empenho” do cardeal Hummes “em anos recentes, pela Igreja que caminha na Amazónia” e referiu que traz “sempre vivas na memória” as palavras que D. Cláudio lhe disse “no dia 13 de março de 2013”, pedindo que “não me esquecesse dos pobres”.

 

3. O Papa acredita que pode visitar a Rússia e a Ucrânia para contribuir para uma solução de paz. Em entrevista à Reuters, Francisco admite que a viagem ao Leste da Europa poderia acontecer após a visita ao Canadá, entre os dias 24 e 30 deste mês. “Eu gostava de ir [à Ucrânia] e queria ir primeiro a Moscovo”, salientou, numa conversa de 90 minutos. Houve contactos entre o Secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, e o ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, sobre uma possível viagem a Moscovo, mas os sinais iniciais não eram bons. No entanto, o Papa admite que algo pode ter mudado. “Trocámos mensagens por causa disso porque considero que se o Presidente russo me der uma pequena janela de servir a causa da paz… E agora é possível, depois de eu regressar do Canadá, é possível que eu consiga ir à Ucrânia. A primeira coisa é ir à Rússia para tentar ajudar de alguma forma, mas eu gostaria de ir às duas capitais”, sublinhou.

Nesta entrevista à agência Reuters, Francisco reforçou a sua condenação do aborto, que compara “à contratação de um assassino”, e sublinha que para a Igreja a vida começa no momento da conceção. “Eu pergunto: é legítimo, é certo, eliminar uma vida humana para resolver um problema?”, questiona o Papa, que Francisco desmentiu os rumores de que planeia renunciar num futuro próximo, devido aos seus problemas de saúde. “Quando chegar o tempo em que vir que já não sou capaz...farei isso”, respondeu.

 

4. O Papa Francisco rezou pela paz e pela reconciliação na tão ferida e explorada República Democrática do Congo. No dia em que deveria celebrar em Kinshasa, capital daquele país, o Papa rezou “para que os cristãos sejam testemunhas de paz, capazes de superar qualquer sentimento de ódio e vingança, a tentação de que a reconciliação não seja possível, toda a ligação doentia ao próprio grupo que leve ao desprezo os outros”. Na homilia da Missa celebrada na Basílica de São Pedro, na manhã de dia 3 de julho, com a comunidade congolesa residente em Roma, Francisco recordou que “a paz começa a partir de nós; de mim e de ti, do coração de cada um. Se vives a sua paz, Jesus chega e a tua família, a tua sociedade mudam”. O Papa acrescentou que a mudança só acontecerá “se, em primeiro lugar, o teu coração não está em guerra, não está armado de ressentimento e de raiva, se não está dividido, nem é duplo e falso”.

Também naquele Domingo, o Papa voltou a apelar à comunidade internacional para rezar “pela paz na Ucrânia e no mundo inteiro” e pediu um projeto global por parte dos estadistas. “Faço um apelo aos chefes das nações e das organizações internacionais para que reajam à tendência de acentuar a conflitualidade e a contraposição. O mundo precisa de paz. Não uma paz baseada no equilíbrio dos armamentos e no medo recíproco. Não, assim não vai”, referiu, após o Angelus, convidando a dizer “sim a um mundo unido entre povos e civilizações que se respeitam”.

 

5. “Para a velhice há muitos planos de assistência, mas poucos projetos de vida”, diz Francisco, numa mensagem para o mês de julho, divulgada pela Rede Mundial de Oração pelo Papa. Em mais uma edição de ‘O Vídeo do Papa’, Francisco recorda que não se pode falar de família sem falar da importância dos idosos que são ou podem tornar-se “mestres da ternura”. O Papa sublinha que “nunca fomos tão numerosos na história da humanidade, mas não sabemos como viver esta nova etapa da vida” e conclui que “para a velhice há muitos planos de assistência, mas poucos projetos de vida”. No mês em que se assinala o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, o Papa afirma que eles “são o pão que alimenta as nossas vidas, são a sabedoria oculta de um povo e é por isso que devem ser celebrados”.

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