Família |
Congresso Teológico da Pastoral da Família
Re(aprender) a amar
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Hoje propomos um juízo sobre o primeiro encontro do Congresso Teológico que a Pastoral da Família realizou no passado mês de outubro, ainda inserido no Encontro Mundial das Famílias com o Papa Francisco. Este texto é uma ajuda a retomar a consciência do valor do amor conjugal.


Pode um pintor judeu falar-nos da grandeza do amor conjugal entre homem e mulher, elevado por Cristo ao sacramento do matrimónio? Com Marc Chagall isso é possível pois toda a simbologia da sua pintura aponta para um Outro, no qual toda a vida é sustentada. Este pintor bielorusso naturalizado francês que percorreu grande parte do séc. XX, eternizou o amor pela sua mulher e musa Bella, com quem esteve casado por mais de 30 anos, numa série notável de obras que continuou a pintar mesmo após a morte prematura de Bella em 1944.

Cada tela de Chagall conta uma história plena de poesia e de afecto, uma história de fé e de amor. Dizia, “Só o amor me interessa, e eu só estou em contacto com as coisas que giram à volta do amor.” A par de uma religiosidade cálida e otimista, afirma uma imensa alegria de viver. Nas suas telas há um constante diálogo entre o homem e o seu Criador, entre o desejo de amar impresso por Deus no coração humano e a constante presença d’Aquele que nunca abandona quem lhe é fiel.  Através de uma linguagem pictórica muito própria e inconfundível, onde se combina realidade e fantasia, o pintor testemunhará que “na vida, tal como na paleta do artista, há uma única cor que dá o significado da vida e da arte: a cor do amor”, confirmando as palavras do Papa S. João Paulo II: “o homem não pode viver sem amor. Abandonado a si mesmo, viverá como um ser incompreensível, a sua vida permanecerá privada de sentido se não lhe for revelado o amor, se não se encontrar com o amor, se não o experimentar, se não o fizer seu, se nele não participar vivamente.” A vida humana precisa de amor e só o amor permite ao ser humano ser pessoa. “Se eu não tiver amor, nada sou” (1 Cor 13). Com elementos figurativos fascinantes e recorrentes na sua obra – galos alegres, vacas ou cabras flutuando, peixes voadores, coloridos ramos de flores campestres, árvores frondosas, violinistas entoando melodias – o artista canta magistralmente o amor entre homem e mulher através do casal de apaixonados, abraçados numa imensa ternura, mas surpreendentemente pairando sempre no ar, o que simboliza que esse amor humano é sustentado, abraçado, pelo amor de Deus. O amor conjugal revela não ser apenas um sentimento, mas uma decisão de doação que vive de gratuidade, de sacrifício de si, de perdão e de respeito pelo outro. Quando a centelha inicial do enamoramento, marcada pela emoção e sentimentos, se torna dom de si mesmo e comunhão de vida, ela promete infinito, eternidade. Como não reconhecer essa dimensão sobrenatural na obra de Chagall?  O artista atestou plasticamente nas suas telas que para amar, para amar verdadeiramente, é preciso Deus – a presença do anjo que se cruza com os apaixonados, o sol radioso, a luz da lua que ilumina a escuridão da noite e impede o triunfo das trevas, o arco-íris assinalando a antiga aliança de amor entre Deus e Noé, os candelabros portadores da luz divina –  senão o homem torna-se escravo dos seus desejos, acaba por reduzir o amor a um amar-se a si próprio e assim a vida perde-se, dissipa-se, torna-se estéril. Em algumas telas de Chagall, o artista decide representar Jesus Cristo crucificado junto aos recém-casados, pois o amor de Cristo na cruz – “dando a Sua vida pelos irmãos” (1 Jo 3, 16) – torna-se o modelo definitivo para todo o genuíno amor humano. O sacrifício de Cristo testemunha ao homem a verdadeira dimensão do amor: separar-se de si próprio para se entregar a um outro. Como recorda o Papa Bento XVI, “a vida só se encontra, quando é entregue, dada; ela não pode ser encontrada quando se pretende tomar posse dela. É isto que devemos aprender de Cristo. Quanto mais alguém entrega a sua vida pelos outros, pelo próprio bem, tanto mais abundantemente corre o rio da vida.” Sem uma experiência de Cristo como plenitude do homem, o ideal do Cristianismo para o matrimónio – indissolubilidade, fidelidade, fecundidade – reduz-se a algo impossível de realizar. Como canta uma canção italiana, “Só Deus me dá a ternura, a força, a liberdade, que eu não tenho, para te querer bem”. Nas telas de Chagall, brilhantes de cor e esperança, o amor dos esposos está incluído dentro de um Amor maior, que os esposos decidem não querer abandonar nunca, nem sequer quando o amor tenha de experimentar sofrimentos, cansaço, desilusão. Uma escola quotidiana de amor e de perdão, sustentada pela oração e pela graça de Deus recebida nos sacramentos. “Optar pelo matrimónio desta maneira expressa a decisão real e efectiva de transformar dois caminhos num só, aconteça o que acontecer e contra todo e qualquer desafio”, afirma o Papa Francisco.

 

Através da visualização de 150 obras de Chagall, sempre acompanhadas por música e palavras do magistério da Igreja, num ambiente de recolhimento e oração, confirmamos que fomos criados para amar como reflexo de Deus e do Seu amor e que no sacramento cristão do matrimónio, homem e mulher realizam esta vocação no sentido da reciprocidade e da comunhão de vida plena e definitiva, abrindo-se ao dom dos filhos e caminhando sempre juntos em direção ao seu destino, Jesus Cristo.

Filipa Ribeiro da Cunha filipasprcunha@gmail.com
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