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Isilda Pegado
Um País Pequeno
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1. Era uma vez um País Pequeno… situado num Continente, também ele pequeno, mas que tinha uma grande História. Feita de séculos e séculos de gente ousada e valente. Neste País o solo não era muito fértil, tinha muita rocha, montanhas e escarpas. A agricultura, embora trabalhosa, permitia, no entanto, que a alimentação se fizesse satisfatoriamente. O bravo trabalho dos agricultores permitia colher excelentes legumes, belíssimos pêssegos, cerejas, maças, peras, laranjas. Com as uvas faziam-se vinhos de qualidade, conhecidos em “meio-mundo”. E o trabalho da azeitona? Havia azeite de excelente qualidade.

Neste País, formaram-se também excelentes médicos, enfermeiros, engenheiros e tantos outros profissionais apreciados em todo o mundo.


2. Porém, neste pequeno País, foi surgindo a ideia de que cada pessoa faz o que melhor entende – chamaram-lhe o “livre-arbítrio”. A partir das escolas, esta ideia ia sendo espalhada, e os mais novos olhavam para os pais, que tinham com bravura e ousadia, cumprido metas, e diziam “não vou por aí”. O individualismo tornou-se a forma “mais desejada” de viver.

Quando chegavam à idade adulta recusavam ter filhos, ou se os tinham era apenas 1 ou 2 porque “um filho dá muito trabalho e despesa”, “não prescindo de um certo nível de vida”. A “legalização do aborto foi muito útil” – dizia-se.

Também é verdade que constantemente lhes era dito que “a incerteza do mundo é muita”, “hoje bem, amanhã mal”. E a segurança que tanto desejavam, não aparecia. Faltava-lhes Audácia.


3. A Família deixou de ser um lugar de crescimento, solidariedade, afectos, encontro de valores e de realização pessoal e passou a ser um lugar de descarte. A estabilidade no casamento foi arredada, porque “não dá”.

O próprio urbanismo impunha que as casas fossem pequenas, caras e destinadas em geral a ser dormitório. A vida social deveria ser feita no espaço público – espaços comerciais, restaurantes, bares, etc.

As próprias Festas tradicionais deixavam de ter sentido quando vividas em Família. No dia 25 de Dezembro, “vamos ao cinema”, ou “vamos para os Trópicos onde há praias e calor”.


4. Estes novos habitantes do País Pequeno, mas grande na sua História, quando confrontados com as dificuldades da velhice dos pais, tinham “muitas questões a resolver” e remetiam-nos para os, pomposamente chamados, “Lares” onde ficavam desenraizados das suas casas, vizinhos, objectos, memorias, etc. Além disso, não era fácil ir duas vezes por mês, ao fim de semana, ver o pai ou a mãe ao Lar. “Estraga o fim de semana”. Claro que durante a semana os filhos trabalham e têm outros afazeres que também não permitem ir ao Lar que fica a 30 ou 40 km de distância.

 

Tudo isto é uma confusão. Então inventou-se um método muito mais eficaz de resolver este dilema e cansaço – foi aprovado a Lei que permite a Eutanásia. Claro que, quem está doente, sem ser produtivo, a gerar custos económicos (para a sociedade e às vezes para a família) – o que está a fazer num Lar? Tendo à sua disposição a Eutanásia, se dela não se servir, será ainda um egoísta?

Foi este “direito” e “liberdade” que a dita Lei da Eutanásia trouxe a este País Pequeno?

 

5. Agora, sem crianças e sem idosos o País Pequeno tornou-se ainda mais pequeno porque não há gente, não se renovam as gerações, e há cada vez mais medo de viver.

Este País Pequeno que gozava de uma cultura Humanista, baseada na Civilização Cristã, rapidamente transformou a Vida no utilitarismo, no individualismo, no materialismo e, onde o Poder é déspota, tirano e castrador de homens e mulheres.

Há uma Nova Ordem que legítima o Estado que usurpa as crianças aos pais, para ele próprio poder sobreviver. Onde os menos capazes são eliminados e ostracizados e tudo está resignado à pequenez e ao servilismo.

 

Tenho esperança de que este País Pequeno nunca seja o meu País, nem o País de quem quer que for.

Com Votos de um Santo Advento.

 

Isilda Pegado, presidente da Federação Portuguesa pela Vida
foto: diana.grytsku on Freepik