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Isilda Pegado
Bento XVI – A Razão da Fé
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1. É impossível, nesta hora de luto e saudade, não falar no Papa Bento XVI. Escolhemos um aspeto que muito nos toca – o papel da Razão na experiência Religiosa.

Num tempo em que a Fé tanto é ostracizada e até vexada, alegando-se a sua dimensão emocional e obscura, pudemos beneficiar do brilhante e inovador pensamento deste Papa cujo Pontificado é marcado pela afirmação de que Fé e Razão não se contradizem, ao invés, a Fé precisa de Razão, e a Razão conduz à Fé.

 

2. Em grande parte, usou a Ciência para demonstrar que, o revelado pela Natureza permite conhecer a Verdade. Deus Revela-se na Natureza.

Neste sentido ficaram famosos os seus já chamados “Discursos de Setembro”. Em 2006, na sua viagem de Setembro à Alemanha, o Papa Bento XVI proferiu na Universidade de Ratisbona um extraordinário discurso sobre o papel da Razão na experiencia Religiosa, e qual a verdadeira posição cientifica e racional.

Nos cinco anos seguintes o Papa viajou sempre em Setembro para a Europa (Viena, Paris, Praga, Londres, Berlim) e, em contextos diversos, voltou ao tema do “alargamento da razão”, enfrentando-o nos diferentes âmbitos. Os três discursos mais famosos são o de 2008 em Paris, no Collège de Bernardins, sobre as raízes cristãs da cultura europeia, o de 2010 em Londres, no Westminster Hall, sobre a relação entre a Religião e a Razão Política, e o de 2011 em Berlim, no Bundestag, sobre o fundamento do Direito. São marcos do pensamento moderno.

 

3. Cuidou particularmente das questões da Vida e da (falsa) cultura que atenta contra a Vida Humana e a Família. Nesta linha, ocupou-se (de entre muitas outras questões), com particular cuidado da questão da criação e uso de embriões humanos para a investigação científica. Condenou de forma clara, o utilitarismo e o atentado á Dignidade humana que tais práticas demonstravam.

 

4. E se nos idos anos de 2000 ou 2007 parecia que o futuro da ciência e da medicina passavam pela manipulação e destruição de milhares de vidas (embriões) Humanas nessas experimentações, hoje está verificado que era um erro ir por aí. Como tantas vezes disse o Papa.

 

5. Um dia, em Roma, numa Audiência em que recebeu os Congressistas da “Pontifícia Académia para a Vida”, que durante 3 dias tinham debatido tal matéria, e perante as conclusões do Congresso que apontavam que o futuro da Medicina seria o uso de células estaminais adultas (negando o uso destrutivo de embriões humanos) o Papa disse estas palavras – Desde o Princípio já lá estava tudo, basta-nos estudar, estudar e respeitar. A Vida Humana não pode ser manipulada. Como se nos dissesse “não destruam seres humanos, a ciência deve respeitar a natureza e se assim fizermos, descobriremos que Deus, na Criação, deu ao Homem infindáveis recursos que precisam de ser estudados, investigados e usado para bem de todos”.

 

6. Tantas vezes os erros do chamado “progresso” são fruto do mais fácil, do mais útil, do mais barato, ou simplesmente do que tem menos custos no imediato. Perante o utilitarismo e o descarte, o Papa apontava o Futuro com respeito para com todos os seres humanos.

 

7. Num tempo em que tudo parece ideológico, a voz firme da Igreja que aponta o Caminho da Verdade, que apela ao uso da Razão, que escolhe a boa ciência, traduz-se numa lanterna que nos ilumina e cria por isso, um Mundo mais aberto, onde todos têm lugar (os que estão por nascer e os que estão mais vulneráveis pela doença) com igual Dignidade e valia.

 

8. O Cristianismo criou uma forma muito identificada de viver que tem como chancela a igual dignidade de todos os seres humanos – O Cristianismo criou a Civilização onde os Direitos Humanos puderam florescer. E a História mostra que só na Civilização de matriz Cristã foi possível nascer este grande padrão – os Direitos Humanos.

 

9. O Papa Bento XVI deixou-nos possivelmente as mais belas e melhores páginas de fundamentação desta Civilização.

Não deixou de falar das ameaças que estamos a viver (como o aborto, a eutanásia, o transhumanismo, ou a ideologia de género), e por isso a sua aposta foi sempre na conciliação da Fé e da Razão. Melhor dito, na demonstração de que o que a Fé (e a Igreja) nos aponta, está também sustentado na Razão. A Fé nada tem de obscuro. E tudo o que ainda não conhecemos ou sabemos precisa de ser estudado, trabalhado e analisado. A Natureza foi feita para o Homem.

 

10. Embora curto, o Pontificado de Bento XVI foi de uma grandeza e frutificação que por certo, o futuro melhor demonstrará o destino desta Civilização.

 

Muito obrigado ao Papa Bento XVI.

 

Isilda Pegado, presidente da Federação Portuguesa pela Vida