Por uma Igreja sinodal |
Sínodo 2023
São Martinho de Dume - Que significa ser cristão
<<
1/
>>
Imagem

Jesus Cristo, desde o início da sua pregação, no diálogo com os apóstolos e todos aqueles que a Ele se juntavam, mostrou pelo exemplo que o “caminhar juntos , em sintonia, não obstante as diferenças próprias de cada um, é um bem maior. Esta atitude de proximidade e de ensinamento tem sido replicada ao longo dos tempos, pois vem de dentro do Cristianismo. Muitas figuras da nossa devoção, através da sua ação, levaram a cabo este “caminhar juntos”, com todos aqueles que estando em seu redor são interpelados e interpelam.

O apelo do Papa Francisco, que procura essa proximidade com o próximo, preocupado com as franjas da sociedade, onde tantas vezes o meu semelhante vive no desalento, encontra na História da Igreja acolhimento. Também o diálogo com o não crente é fundamental, respeitando-o e tendo a consciência de que nesse diálogo é possível detetar dificuldades e obstáculos a ter em consideração, para eventualmente os superar.

Nesse sentido, São Martinho de Dume, o Apóstolo dos Suevos na zona de Braga no século VI, é um exemplo estimulante. Num momento crucial para a História da Igreja da Península Ibérica, São Martinho, oriundo da Panónia (atual Hungria) ou filho de Panónios, detentor de uma vasta cultura cristã católica, promove sem dúvida uma atitude sinodal. Vejamos, então, como. sendo um reformador, procura dialogar e aconselhar os Suevos, que  são pagãos ou recém-batizados, bem como aqueles que, embora batizados, estão esquecidos ou afastados do Cristianismo.

Com o seu espírito dialogante e tolerante procura com a sua ação mostrar o que é próprio do modo de ser e estar dos cristãos, dado que tem em consideração que é necessário ter sempre presente o tempo, o lugar e a pessoa, configurando que o homem deve ser compreendido a partir da sua circunstância. Este Santo procura aconselhar a corte do Rei Miro, o rei dos Suevos, consciente de que estes, ainda que batizados, não se comportavam como cristãos. Assim, sem apelar a uma fundamentação religiosa, começa por mostrar que é necessário que, quer o Rei quer a corte, sejam virtuosos. Apresenta, pois, as quatro virtudes cardeais, aquelas que, ainda sem a autoridade da Sagrada Escritura, permitem que o homem se comporte segundo um padrão humano acessível a todo o homem de boa vontade.

Ser prudente, magnânimo, temperante e justo, tendo em atenção o meio termo é proprio do homem de bem. É convicção de São Martinho que, deste modo, aquele que segue estas regras está, naturalmente, orientado para valorizar o homem como ser espiritual e está também apto para compreender e aderir à excelência do cristianismo. Quando refere, a propósito da virtude da magnanimidade, tão relevante para o Rei e a sua corte, em termos éticos e mesmo políticos, que o perdão é a forma virtuosa de vingança, este Santo está a exibir esse “caminhar juntos”, mesmo  que o próximo seja o prisioneiro, ou qualquer um que esteja no desalento, marginalizado ou necessitado de ajuda material e / ou espiritual. 

Se na Regra da Vida Virtuosa não faz referência explícita (porque a ímplícita está presente) ao fundamento cristão, no opúsculo Da Instrução dos Rústicos, pelo contrário, parte claramente do dado cristão. Aqui, o Santo tem como destinatários os aldeões daquela zona de Braga. Com efeito, estes rústicos  tinham sido batizados, mas de algum modo estavam esquecidos desse pacto que, pelo batismo, tinham contraído com Deus. Assim, apelando ao facto de serem cristãos, recorda-lhes, de modo benevolente, que possuem muitas práticas no quotidiano que não estão em sintonia com o serem cristãos. Nesse sentido, refere o Símbolo dos Apóstolos, ou seja, o Credo, como sendo algo que deve ser vivido e, portanto,  concretizado na ação de todos os dias. Aqui, toda a argumentação depende da Sagrada Escritura, aconselhando a que deixem de praticar atos pagãos como, por exemplo, serem supersticiosos como forma de se protegerem contra o mal, quando a mais forte proteção é o sinal da cruz. São Martinho está, claramente, a propor, de uma maneira simples e prática, um modo de vida cristão acessível a qualquer homem de boa vontade. Foi, sem dúvida um reformador, um homem de ação, que sempre teve em consideração que é necessário, para evangelizar, ir ao encontro do outro de um modo concreto e com uma atitude de humildade interior. Ao Rei Miro, à sua corte, bem como ao povo simples, propôs um ideal de vida pautado pela vida virtuosa e sobretudo na confluência com a vida cristã. Essa sua proposta, pacífica e tolerante, deu os seus frutos, pois ao aconselhar convertia os corações. De São Martinho de Dume podemos dizer com Jesus Cristo em São João 10,16: “E tenho outras ovelhas que não são deste redil. É necessário que também a essas  Eu  conduza”.

 

Maria de Lourdes Sirgado Ganho
Instituto Diocesano da Formação Cristã

A OPINIÃO DE
Guilherme d'Oliveira Martins
Quando Jean Lacroix fala da força e das fraquezas da família alerta-nos para a necessidade de não considerar...
ver [+]

Tony Neves
É um título para encher os olhos e provocar apetite de leitura! Mas é verdade. Depois de ver do ar parte do Congo verde, aterrei em Brazzaville.
ver [+]

Tony Neves
O Gabão acolheu-me de braços e coração abertos, numa visita que foi estreia absoluta neste país da África central.
ver [+]

Pedro Vaz Patto
Impressiona como foi festejada a aprovação, por larga e transversal maioria de deputados e senadores,...
ver [+]

Visite a página online
do Patriarcado de Lisboa
EDIÇÕES ANTERIORES