Hoje podemos afirmar que a Família é uma realidade contracultura. Não fazendo parte das atuais narrativas culturais, precisamos de aprofundar conhecimentos e buscar fundamentos, a fim de encontrar respostas aos atuais desafios das famílias. Com este propósito, mais de 800 pessoas provenientes de 50 países de todo o mundo, participaram recentemente num congresso de cariz prático sobre o Acompanhamento Familiar, organizado pelo Instituto de Estudos Superiores da Família da UIC Barcelona.

Os diferentes oradores, de médicos a influencers, passando por sacerdotes, advogados ou engenheiros convertidos ao mundo do acompanhamento familiar, deram uma perspetiva de 360 graus sobre os principais marcos nesta arte, lado a lado com famílias.

Com um sentido muito prático, as conclusões incidiram na necessidade de acompanhamento às famílias, na sua vida quotidiana, ou seja, em contexto escolar, trabalho ou mesmo em casa, bem como na importância da formação específica para o fazer.

Acompanhar significa procurar compreender, o que supõe uma atitude positiva, na certeza do mais genuíno anseio do ser humano de amar e ser amado. “Há que pensar com bondade. Isso é o que muda o mundo.” Concluía assim Raphael Bonelli, um Psiquiatra de Viena com vasta experiência na intervenção terapêutica em crises familiares.

Inseridas na sociedade contemporânea e nos seus valores, as famílias de hoje vão adotando formas de vida individualistas, contrárias à essência do amor familiar, o que causa grandes abanões e rastos de sofrimento que vão contagiando também as novas gerações.  É urgente cortar este ciclo. É preciso redescobrir quem somos e o que significa amar. É necessário reinventar uma pedagogia e una linguagem capaz de transmitir eficazmente a verdade às novas gerações.

A fim de ajudar as famílias a mudar esta situação, e a seguirem rumos de maior felicidade, é cada vez mais importante o desenvolvimento e implementação de ações, em diferentes áreas e momentos do ciclo vital familiar.  Mostrar a beleza do amor conjugal como paradigma na fundação e construção das famílias; Ensinar a amar como chave da educação familiar e do crescimento pessoal; E por fim empreender projetos concretos que procurem responder com novos modos às reais necessidades das famílias.

Todos precisamos de ser acompanhados no caminho da nossa vida. A família é de facto a melhor imagem de acompanhamento, pois é aí que se estabelecem os primeiros vínculos e que se compartilha a vida.

O acompanhamento familiar deve ser um sinal de esperança, como no encontro com Cristo no caminho de Emaús, deve conseguir mudar a vida, fazer com que o outro se sinta amado, querido e sentir que nos encontramos com Deus no encontro com o outro. Acompanhar é uma exigência do Amor cristão.

A Igreja tem aqui um papel essencial. Deve ser uma casa de família que acompanha famílias e que se transforma em caminho. Tem de aprender a acompanhar, deixar de ser uma pastoral centrada em atividades e passar a uma verdadeira pastoral do acompanhamento. Tem de perceber que todas as Pastorais são familiares, a família é a única realidade transversal a toda a Paróquia e por isso todas as Pastorais têm de ser pensadas do ponto de vista da família.

Na partilha de tantos e tão bons projetos de apoio à família, em diferentes partes do mundo, percebemos que também aqui em Portugal temos muitos projetos que ajudam as famílias. Mas cada vez mais é fundamental saber trabalhar de uma forma sinodal, trilhando o caminho em conjunto, com abertura à partilha e não fechado em si próprio, dando voz ao que de belo se faz pelas famílias.

É com estas preocupações que a Fundação Famílias comVida e a BeFamily trabalham, para que, no Patriarcado de Lisboa e em cada Paróquia, possam haver diferentes iniciativas de apoio ao desenvolvimento e fortalecimento da família.

Temos de ser embaixadores da família, cultivar a esperança, acreditar na família.

É hora de levar a sério o acompanhamento familiar!

Ana Catarina Calado - Fundação Famílias comVida
Graça Varão - BeFamily