São padres agostinhos espanhóis e vieram para Portugal com o objectivo de restaurar a Ordem de Santo Agostinho no nosso país. Estão presentes em Santa Iria de Azóia, nos arredores de Lisboa, desde 1986 e fazem da evangelização e da catequese as grandes apostas pastorais.
Costuma-se dizer que a vitalidade de uma paróquia se vê pelo número de vocações que oferece à Igreja. “Uma paróquia é viva e cumpre a sua missão quando dela surgem vocações. Graças a Deus, nestes 25 anos, a nossa paróquia de Santa Iria de Azóia tem tido jovens que estão a seguir as nossas pegadas em Santo Agostinho”. O padre Arturo Carrascal é pároco de Santa Iria de Azóia e pertence à Ordem de Santo Agostinho. Nascido em Espanha, foi ordenado há 35 anos e está em Portugal há 27. Chegou com o objectivo de restaurar a Ordem Agostiniana no nosso país após a expulsão das ordens religiosas em 1834.
Foi em 1986 que o padre Arturo, com mais dois sacerdotes agostinhos espanhóis, chegou a Santa Iria de Azóia. Há 25 anos, encontrou uma realidade diferente da actual. “A verdade é que na altura as pessoas eram mais fechadas do que hoje em dia. Eram até mais afastadas da Igreja e mais relutantes de se aproximarem de nós, sacerdotes”. Na época, a aposta pastoral foi a evangelização, procurando ao mesmo tempo dar a conhecer a Ordem Agostiniana. “O nosso objectivo era, e continua a ser, a restauração da Ordem através da implantação dos grupos agostinianos na paróquia”.
Uma paróquia agostiniana
São três os padres espanhóis da Ordem de Santo Agostinho presentes em Santa Iria. Além do pároco, padre Arturo, estão também presentes dois coadjutores: o padre Luis Reyes – de 39 anos, natural de Málaga e que está em Portugal há mais de oito anos, sempre em Santa Iria de Azóia – e o padre Javier Bergareche, de 41 anos, que é sacerdote há sete e cumpriu sempre a sua missão no nosso país. Os três padres agostinhos assumem funções semelhantes. “Na paróquia de Santa Iria não somos párocos in solidum mas consideramo-nos os três como párocos! Temos divisão de tarefas no que diz respeito aos grupos da paróquia, mas a actividade pastoral e a programação é feita em conjunto”, salienta o padre Arturo.
Santa Iria de Azóia é uma freguesia do concelho de Loures, com mais de 17 mil habitantes. Situada às portas de Lisboa, é uma paróquia onde os leigos têm um papel determinante. “Temos um grupo muito grande de colaboradores na paróquia: desde as crianças, presentes nos coros, passando pelos jovens, também nos coros e na acção social, até às pessoas em idade adulta, que pertencem a muitos grupos da paróquia”, referem.
Uma aposta chamada catequese
Ao longo dos últimos 25 anos, a catequese tem sido a aposta pastoral. No total, são cerca de 500 crianças, jovens e adolescentes que estão na catequese. Catequistas são perto de 70! “É muito curioso que mais de 70% dos catequistas são jovens já licenciados ou ainda na universidade, sendo que muitos deles andaram na JAP (Juventude Agostiniana Portuguesa)”.
A catequese de adultos não é esquecida. “É sobretudo uma catequese dirigida aos cristãos que depois irão receber os sacramentos da iniciação cristã. O ano passado, por exemplo, tivemos 24 adultos a fazer formação”, conta o padre Arturo. A formação bíblica é outro dos desafios pastorais dos padres em Santa Iria de Azóia. Para isso, foram organizados dois grupos de formação bíblica semanal, às terças e quartas-feiras.
A animação musical é também uma das apostas dos padres agostinhos. “Temos coros de crianças, jovens e de adultos. Estamos muito orgulhosos dos nossos coros! Nos jovens, por exemplo, já ganhámos inclusivamente vários festivais vicariais”, salientam.
Para a área da evangelização, a paróquia conta ainda com a presença do movimento dos Cursilhos de Cristandade e com duas Fraternidades Agostinianas, que são compostas sobretudo por pessoas que passaram pelos grupos de jovens da JAP. “As fraternidades são uma comunidade de leigos comprometidos a seguir Jesus Cristo e a viver o Evangelho com o estilo próprio da espiritualidade agostiniana”, referem.
Há cerca de um ano, a paróquia iniciou um novo projecto, o ‘+65’. “É uma actividade organizada por um grupo de jovens da JAP que, com a ajuda de alguns adultos, se reúnem todos os Domingos à tarde para acompanhar e ajudar os idosos”.
Jovens dizem ‘Sim’
A restauração da Ordem de Santo Agostinho em Portugal passa, naturalmente, pelas vocações. E o ano passado, a paróquia de Santa Iria de Azóia viu um jovem da terra ser ordenado sacerdote nos Agostinhos. “Tivemos uma grande alegria, no ano passado, com a ordenação do primeiro padre português da nossa Ordem, o padre Rui Caldeira, que está agora em São Domingos de Rana”, refere o padre Arturo. Em formação, nos seminários agostinhos em Espanha, estão mais dois jovens de Santa Iria. “Temos também dois jovens da paróquia a fazer formação: o Tiago Alberto está no primeiro ano de Teologia, e o João, que terminou o Noviciado este ano, está agora no primeiro ano de Filosofia”.
A Ordem de Santo Agostinho em Portugal tem também vocações femininas. “Temos um grupo de senhoras e raparigas que seguiram a vida religiosa na Ordem Agostiniana: uma agostinha missionária, que está em missão na Índia, e sete agostinhas contemplativas, sendo duas naturais da paróquia de Santa Iria de Azóia”.
A paróquia e as carências em redor
A acção social e o atendimento aos mais necessitados fazem também parte do dia-a-dia da paróquia de Santa Iria de Azóia. Segundo o padre Arturo, “há muitas necessidades, sobretudo nas famílias, devido ao desemprego, à imigração e à idade avançada de muitos”. Este cenário “desafia a paróquia a acompanhar e a ajudar” todos os que procuram a Igreja. “Temos uma equipa razoável de pessoas encarregues da acção social e neste momento estamos a atender mensalmente mais de 250 famílias através do Banco Alimentar. Temos também casos em que ajudamos na compra de medicamentos”, conta este padre agostinho, mostrando-se satisfeito com o facto de a acção social da paróquia “funcionar muito bem”.
Por ser uma freguesia de dimensão elevada em termos geográficos, Santa Iria de Azóia tem também, segundo os padres agostinhos, algumas carências ao nível das infra-estruturas. “Por exemplo, o centro médico não está em condições. Por outro lado, não há muitos centros de diversão para jovens, a não ser o campo de futebol. Ao nível dos idosos, há apenas um lar e centro de convívio”, apontam.
A vida em comunidade
A chamada casa paroquial da paróquia de Santa Iria de Azóia não fica situada junto à igreja. Os padres agostinhos vivem no 6º andar de um prédio a poucos quilómetros da igreja. É nesta casa que os três padres espanhóis vivem em comunidade, como sublinha o padre Javier. “Nós fazemos questão de ter sempre uma certa rotina. Procuramos que as diversas actividades não nos impeçam de almoçar e de rezar juntos. É certo que é uma rotina muito mais difícil de manter estando numa paróquia do que em outras missões dentro da Ordem, mas procuramos sempre estar juntos. As horas de refeição, por exemplo, são momentos de encontro e partilha!”.
Além da paróquia de Santa Iria de Azóia, os padres agostinhos estão também presentes, desde 2004, na paróquia de São Domingos de Rana, em Cascais, onde estão quatro sacerdotes: três espanhóis e um português. O chamado ‘dia de folga’ de todos os padres, a segunda-feira, é vivido em comunhão pelos sete padres da Ordem de Santo Agostinho presentes na Diocese de Lisboa. “Nós reservamos sempre a segunda-feira para estarmos todos juntos! Não apenas nós de Santa Iria, mas todos os padres agostinhos de Lisboa, como comunidade”, ressalva o padre Javier. “Ao mesmo tempo, é o único dia da semana em que podemos celebrar a Eucaristia todos juntos, o ponto alto da nossa vida em comunidade”, acrescenta.
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Cardeal-Patriarca saúda presença Agostiniana na Diocese de Lisboa
“Os Padres Agostinhos são muito queridos em Portugal”. A garantia foi dada pelo Cardeal-Patriarca de Lisboa, durante uma celebração de acção de graças, no passado dia 24 de Setembro, na igreja da Portela de Azóia, por ocasião dos 25 anos da chegada dos Agostinhos à paróquia de Santa Iria de Azóia. “Estamos hoje a celebrar e a dar graças por aquilo que foi um dom de Deus para a Igreja de Lisboa – não tenho dificuldade nenhuma em reconhecê-lo –, que foi o regresso da Ordem de Santo Agostinho a Portugal. E digo regresso porque esta Ordem teve uma longa história de presença na nossa diocese”, sublinhou D. José Policarpo, recordando os vários centros de acção da Ordem na Diocese de Lisboa, antes da expulsão, no século XIX. “A igreja da Graça em Lisboa, a igreja da Senhora da Graça em Torres Vedras, a Senhora da Graça em Arruda dos Vinhos e o Convento de Penafirme mostram bem a importância que esta Ordem teve no Patriarcado de Lisboa antes da expulsão em 1834”.
Na sua homilia, o Cardeal-Patriarca sublinhou que “em boa hora os Agostinhos regressaram a Portugal para servir a Igreja e para recuperar esta longa tradição”. D. José Policarpo recorda-se bem do regresso desta Ordem: “Eu acompanhei a fase do regresso dos Agostinhos à diocese como pastor – porque na altura era Bispo Auxiliar de Lisboa –, com muita amizade e com o realismo de uma experiência nova de pastoral”.
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O pensamento de Santo Agostinho
A Ordem de Santo Agostinho, cujos membros são denominados Agostinhos ou Agostinianos, é uma ordem religiosa católica que segue o estilo de vida de Santo Agostinho. Para o padre Luis Reyes, “o fundamental da Ordem é a vida em comunidade e o serviço à Igreja naquilo que for preciso, seja nas paróquias, em colégios ou em missões”. A vida agostiniana, segundo este sacerdote, “completa-se com a interioridade e o estudo/formação”.
Sobre a actualidade de Santo Agostinho e do seu pensamento, o padre Arturo Carrascal aponta que este Doutor da Igreja “é um homem actual” e explica porquê: “Isso vê-se porque a sua doutrina, o seu pensamento, está explicitado em muitos escritos dos dois últimos Papas, João Paulo II e Bento XVI. Outro facto evidente é que o livro das ‘Confissões’, de Santo Agostinho, é um dos livros religiosos mais editados”. O padre Javier Bergareche destaca, por outro lado, a vida interpelante de Santo Agostinho. “Ele foi um pescador que passou por fazes de cepticismo, que esteve inserido em grupos ‘estranhos’, e isso pode interpelar os jovens de hoje. Todo o processo de conversão de Santo Agostinho é muito interessante, muito actual e muito moderno”. Já o padre Luis Reyes sublinha também “o amor do actual Papa Bento XVI por Santo Agostinho”.
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