Artigos |
Nuno Cardoso Dias
Um Natal de Graça
<<
1/
>>
Imagem

Um Natal com menos luzes não tem de ser menos iluminado. Pelo contrário, quando começamos a cortar no acessório, talvez fique mais espaço para vivermos e celebrarmos o essencial.

Este ano o Natal será com menos dinheiro. Para o ano será pior ainda. Claro que isto nada tem nem de simpático nem de bom. Mas o Natal nunca foi sobre ter, sempre foi sobre dar. E se este ano tivéssemos um Natal de Graça? Um Natal onde não gastássemos – ou pelo menos reduzíssemos muito o que gastamos em prendas – mas em que estivéssemos mais presentes nas ofertas. Fazer as prendas dá muito mais trabalho do que comprar, sem dúvida, mas é um espaço familiar importantíssimo, de valorização de quem prepara os presentes, de evocação dos presenteados, Um espaço de unidade e de prazer, que aproxima a família e devolve ao Natal o cunho pessoal que tantas vezes se vai perdendo, entre consumos e embrulhos. Tentaremos ser simples: um cartão, talvez lembrando uma passagem bíblica; uma especialidade culinária, sejam umas bolachas ou uma compota; algo nosso, uma foto ou um desenho dos miúdos.

O Natal pode ser um tempo cansativo, caótico, até deprimente, se o vivermos desenraizado. Que este Natal não seja apenas um Natal de graça, mas, autenticamente, um Natal de Graça, que nos desperte para os muitos motivos que temos para viver agradecidos, onde a família esteja unida para preparar a festa por todo o Advento. O Natal, como festa cristã só faz sentido centrado na Palavra, preparado semana a semana.

Mas que este seja também um Natal onde damos de graça o que de graça recebemos. Um Natal atento às necessidades, disposto à partilha, confiante no Mistério, onde cinco pães e dois peixes saciam uma multidão, desde que dêmos do que somos e não só do que nos sobra. Diz-me a experiência que o Natal pode ser um tempo de muita partilha mas também de muitos excessos. De que serve a uma instituição uma despensa cheia 15 dias no ano, se têm outras cinquenta semanas em que lidam com carências? Não deixemos que a generosidade se torne mais um bem de consumo imediato. Que este Natal de partilha, seja um compromisso estruturado, de confiança, que nos envolva o ano inteiro.

Que este Natal nos traga os mesmos motivos de testemunho expressos por D. Nuno Brás, novo bispo de Elvas e auxiliar de Lisboa, a quem aproveitamos para desejar as maiores felicidades, nas responsabilidades que agora abraçou: “Se algum testemunho posso oferecer acerca da minha vida de cristão e de sacerdote, é esse de, em cada dia que passa, os dons da Graça divina saírem, misteriosamente, ao meu encontro e, diante dos meus olhos, realizarem maravilhas que nunca poderia agradecer de um modo suficiente e perfeito ao Senhor”.