11.12.2011
Lisboa |
Padre Filinto (1919-2001), pároco de Sacavém durante 59 anos
Um padre amigo do povo que marcou gerações
O padre Filinto Ramalho foi durante 59 anos pároco de Sacavém. Esta paróquia às portas de Lisboa assinalou, no passado dia 1 de Dezembro, o décimo aniversário da morte deste sacerdote, considerado pelo povo como o construtor da comunidade.
“Colaborei com o padre Filinto durante 33 anos. Como costumo dizer, não foram 33 dias, nem 33 meses. Foram 33 anos!”, conta com um brilho nos olhos, José Loureiro, paroquiano de Sacavém, e quase conterrâneo do padre Filinto Elísio de Sousa Ramalho, falecido há 10 anos, e que durante 59 anos foi pároco desta paróquia às portas de Lisboa. “Eu sou de uma localidade a oito quilómetros da sua terra-natal, Fataúnços, Viseu, e conheci-o aqui em Sacavém, em 1967, durante o tempo em que cumpri o serviço militar. O meu capelão apresentou-me ao padre Filinto, e desde logo fiquei disponível para colaborar com ele, naquilo que necessitasse”, recorda José Loureiro ao Jornal VOZ DA VERDADE. “Acabámos por estabelecer uma relação quase como que entre pai e filho, porque tínhamos uma proximidade muito grande”, destaca. Um padre com obra feita Nascido no dia 5 de Novembro de 1919, o padre Filinto Ramalho cumpriu os seus estudos teológicos nos seminários de Santarém e dos Olivais, e foi ordenado sacerdote a 29 de Junho de 1942, pelo Cardeal Cerejeira. A sua primeira nomeação aconteceu nesse mesmo ano de 1942, como pároco de Sacavém, Camarate, Unhos, Apelação e Charneca do Lumiar. Em 1954, deixa a paróquia da Charneca e, em 1962, também as paróquias de Camarate, Unhos e Apelação lhe são retiradas, dedicando-se apenas a Sacavém. Diz quem o conheceu, e com ele trabalhou de perto, que “foi sempre um homem de obras” e muito dedicado a obras de restauro de igrejas. Nas cinco paróquias que inicialmente lhe foram confiadas pelo Cardeal Cerejeira, “teve de ir fazendo restauros em diversas igrejas”, salienta José Loureiro. Mas a “grande obra deixada pelo padre Filinto nos seus 59 anos dedicados a Sacavém, foi o Centro Social Paroquial”, refere. Um pároco de persistência Caracterizando o padre Filinto Ramalho como um homem “muito dinâmico e activo”, este paroquiano de Sacavém sublinha as palavras deixadas pelo Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, na celebração a que presidiu no passado dia 1 de Dezembro, em Sacavém, para assinalar os 10 anos da morte do pároco: “O Senhor Cardeal-Patriarca classificou-o como um homem de ‘grande persistência’, que quando pensou que o Estado deveria devolver a igreja paroquial à paróquia, andou durante mais de dez anos a caminhar para o Ministério da Defesa para que isso acontecesse”, salientou José Loureiro referindo-se à igreja que se encontra no espaço que servia de quartel militar na Escola Prática do Serviço de Material, em Sacavém. Também fruto da acção pastoral do padre Filinto, a paróquia de Sacavém acolheu a elevação da Capela de Nossa Senhora da Saúde a Santuário. “Quando veio para Sacavém não havia igreja. Havia apenas um santuário que era à época a Capela de Nossa Senhora da Saúde. Foi o Cardeal-Patriarca D. António Ribeiro que, a pedido do padre Filinto, deu o título de Santuário àquela capela. Porque ele gostava que as coisas tivessem dignidade e lutou também por isso”. Atento à realidade Atento às necessidades da comunidade que acompanhava, o padre Filinto destacava-se, também, por ser “uma pessoa muito amiga do povo”. Pela sua sensibilidade, logo em meados dos anos 40 percebeu que “um grande problema em Sacavém era o da assistência às pré-mães e às crianças”. Nasce, assim a 15 de Agosto de 1943, o que é hoje o Centro Social Paroquial. Com o apoio de cinco médicos e professores começa a dispor de serviços de assistência materno-infantil, de alimentação e vestuário gratuitos para as crianças das escolas primárias, idosos e doentes mais carenciados. “Quando vim para Sacavém, em 1967, estava ele a ‘braços’ com o início da construção do centro social e foi nessa altura que comecei a colaborar muito com o padre Filinto, ajudando em algumas burocracias”, comenta José Loureiro. “O centro social foi uma das grandes obras que ele deixou, que para nós é um orgulho”. Um homem de fácil relacionamento Pela sua personalidade “sociável e aberta”, o padre Filinto cativava a juventude que facilmente o seguia. “Ele tinha muitos jovens com ele, com quem almoçava muitas vezes. Era também uma pessoa muito actual que lia muito e estava sempre actualizado”. Porque gostava de conviver e de estar com os seus paroquianos, “visitava muitas famílias e gostava de ir à casa das pessoas”, refere ainda José Loureiro. No entanto, as suas relações não se ficavam apenas por aqueles que frequentavam da igreja. “Chegou a ter pessoas a colaborar com ele que eram seus ‘adversários’ e com quem acabou por estabelecer amizade. Quando morreu, vi homens e mulheres que pela sua ideologia política não vão à igreja, mas choraram a morte do padre Filinto”, ressalvou. Tendo estado durante 59 anos na mesma paróquia de Sacavém, o padre Filinto Ramalho marcou várias gerações de famílias. “Chegou a celebrar sacramentos de gerações inteiras de famílias: pais, avós e netos”, sublinha este homem quase conterrâneo do padre que aos 81 anos faleceu vítima de um incêndio na residência paroquial. “Nunca o vi zangado com as pessoas. Era muito calmo e na memória guardo a sua amizade”. _______________Centro Social de Sacavém A origem do Centro Social de Sacavém remonta a 15 de Agosto de 1943, quando o padre Filinto Ramalho, pároco de Sacavém, fundou, com o apoio de cinco médicos e professores, os Serviços de Assistência Materno-Infantil, de alimentação e vestuário gratuitos para as crianças das escolas primárias, idosos e doentes carenciados. No dia 2 de Junho de 1979, o Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. António Ribeiro, inaugurou o Centro Social de Sacavém. Construído em terreno doado à Igreja Paroquial de Sacavém, a sua edificação deve-se ao padre Filinto, que durante anos se empenhou na sua construção. Actualmente, o Centro Social dispõe de creche e pré-escolar. Possui também centro de dia onde serve almoços e lanches a idosos e lhes proporciona actividades lúdicas. Realiza ainda apoio domiciliário, prestando assistência a idosos em serviços de higiene pessoal, cuidados da casa e alimentação.
texto por Nuno Rosário Fernandes
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