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Concílio Vaticano II
A abertura da Igreja ao mundo
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No âmbito dos 50 anos da Abertura do Concílio Vaticano II, o Instituto Diocesano de Formação Cristã (IDFC) realizou no passado dia 15 de Dezembro, a conferência ‘Grandes Marcos do Concílio Vaticano II, a Convocatória’. O objectivo desta acção foi aprofundar este acontecimento incontornável da história da Igreja, cujos efeitos e alcance ainda hoje estão por descobrir.


O historiador Paulo Fontes, o primeiro a intervir, afirmou que há algo que marca o Concílio e que nunca tinha acontecido: “O Concílio Vaticano é o primeiro concílio que diz o que a Igreja é, ou seja, é o primeiro Concílio em que a Igreja precisa de dizer o que ela é, em que ela se define a si mesma”.

O teólogo Juan Ambrósio, membro da direcção do IDFC e professor na Universidade Católica, apresentou os vários textos da convocatória: ‘Humanae Salutis’, ‘Superno Dei’ e ‘Concilium’, apontando em cada um deles as intuições do Papa João XXIII na sua profundidade teológica e espiritual, demonstrando, ao mesmo tempo, a diferença de perspectiva e linguagem quando comparada com as declarações eclesiais dos tempos anteriores.

Em 1963, o Papa morre e é eleito o Cardeal Montini, como Paulo VI. “O novo Papa poderia não ter aderido às proposições do seu antecessor, mas Paulo VI não só deu continuidade ao Concílio, como deu forma ao essencial das intuições de João XXIII” que, com maior clarividência, exemplificou com o discurso de Paulo VI, na inauguração da segunda sessão do Concílio.

 

Viver o Concílio de perto

Na altura do Concílio, José Víctor Adragão tinha apenas 16 anos. Nesta conferência, partilhou, através da sua história pessoal, as impressões que reteve daquele tempo. Uma das histórias que transmitiu foi a forma peculiar como conseguiu estar presente numa sessão do Concílio: “Após estar dois anos no seminário, concluímos que aquela não era a minha vocação. Então, a primeira coisa que fiz quando saí foi arranjar maneira de concretizar o meu sonho: assistir a uma sessão do Concílio”. Assim, através de lições de grego a estudantes, José Víctor Adragão conseguiu financiamento para viajar até Itália de comboio, e sozinho, partiu. Chegado lá, dirigiu-se à casa onde se encontrava o Cardeal Cerejeira. No encontro com o Patriarca de Lisboa de então, este perguntou-lhe o que desejava. José Víctor respondeu: “Gostaria de assistir a uma sessão do Concílio”. Após algum silêncio, o Cardeal retorquiu ao rapaz: “Tu tens uma gravata?”. “Não”, respondeu. “Então, compra uma gravata que eu arranjo-te uma maneira de ires”. E assim, ao terceiro dia, assistiu finalmente a uma sessão do Concílio Vaticano II. Esta história, caricata e singular, revela o espírito que se vivia na altura, como o próprio afirma: “Havia uma esperança, uma expectativa, e vivíamos o Concílio não através dos textos, mas daquilo que se dizia”.

 

Surpresa, Esperança e Aggiornamento

À pergunta ‘Como recebi o Concílio Vaticano II?’, Manuela Silva, na sua intervenção, escolheu três palavras que resumem o que viveu: ‘Surpresa, Esperança e Aggiornamento’. “Surpresa, porque João XXIII era um Papa que dialogava com os fiéis e com o mundo, e pelo seu próprio carisma suscitava uma adesão incondicional. Esperança, porque a Igreja já vinha sendo construída e estava desejosa de uma maior abertura ao mundo e aos seus desafios. E aggiornamento, porque havia uma predisposição à mudança, e o Concílio vinha trazer essa mudança radical”.

 

Renovar

O Concílio ficou marcado por um tempo em que havia já um grande trabalho teológico, com alguns grandes teólogos que monsenhor Feytor Pinto referiu a título de exemplo, como Rahner, Yves Congar, Hans Kung, Ratzinger, Marsili, Pineli, Bernard Haring, Pedro Arrupe, Basílio Rezende e Margarida Gonçalves. “Estes eram vultos com quem contactávamos, eram movimentos que mostravam que a Igreja estava a mexer. E nesta perspectiva, morre Pio XII. Muitos diziam que era Montini quem se seguia. Porém, foi um tal de Cardeal Roncalli”.

A terminar, monsenhor Vítor Feytor Pinto confessou: “Tive a sorte de estar em Roma naquela altura e de participar. E se não fosse o Concílio, o meu sacerdócio podia não ter sobrevivido. A génese do Concílio no tempo em que aconteceu não foi nada fácil. Sentíamos que era preciso renovar e sentíamos a dificuldade da Igreja em acompanhar esse renovamento”.

texto por Paulo Paiva, IDFC
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