Lisboa |
Jornada Vicarial de Alenquer
Comunidades cristãs devem ser sujeitos da acção social
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É uma vigararia que junta 22 paróquias, na sua maioria rurais. A Vigararia de Alenquer quer criar laços de comunhão entre as várias instituições de acção social, segundo ficou expresso na Jornada Vicarial sobre ‘Sinergias Sociais para uma Cultura da Dádiva’.


De que forma a Igreja deve pensar a sua acção sócio-caritativa? Que caminhos deve tomar na assistência aos necessitados, que não param de aumentar perante a crise económica? Construir mais creches? Mais lares? Mais apoio domiciliário? Organizada pela Vigararia de Alenquer no passado Domingo, dia 15 de Janeiro, no Cine-Teatro do Sobral de Monte Agraço, a Jornada Vicarial sobre ‘Sinergias Sociais para uma Cultura da Dádiva’ pretendeu dar a conhecer respostas eclesiais e estatais à crise social, apontando caminhos de intervenção. “Temos de aproveitar este momento de crise para criarmos uma sociedade mais solidária, para reinventarmos uma cultura da dádiva”, desejou, no início da jornada, o vigário de Alenquer, padre Rui Pedro Trigo Carvalho, que é também pároco de Arranhó e Carnota.

Para o coordenador da pastoral social da Vigararia de Alenquer, “nunca se falou tanto de solidariedade como nos dias de hoje”. O padre Manuel Silva salienta que esta é “uma preocupação não só da vigararia, como de toda a Diocese de Lisboa e Igreja em Portugal”. Na sua intervenção durante a Jornada Vicarial, o padre Manuel Silva convidou as paróquias a estudarem o documento ‘Serviços paroquiais de acção social para uma cultura da dádiva’, publicado pelos bispos portugueses em Setembro do ano passado. “É um documento que nos aponta a forma como as paróquias se devem organizar e a mente como devemos viver este assunto. Não apenas a estrutura mas também o coração que deve orientar a nossa acção social nas paróquias”. Referindo que a Vigararia de Alenquer já “esmiuçou este documento” da Conferência Episcopal, o padre Manuel Silva apontou o caminho que foi seguido: “Após o estudo, optámos por fazer o censo de todas as nossas instituições, associações e grupos de acção social. A nossa vigararia é grande, mas temos feito um esforço por conhecer todos os grupos que se dedicam à caridade”. Segundo este sacerdote, que é também pároco da Ota, este estudo vai permitir “potenciar o trabalho que a Igreja faz no terreno”.

 

A ousadia de trabalhar em rede

A Vigararia de Alenquer é uma vigararia muito extensa, que engloba três concelhos: Arruda dos Vinhos, Alenquer e Sobral de Monte Agraço. “O universo das actividades sociais são muitas. Cuidamos para que todos os serviços sejam aprofundados, mas temos que fazer escolhas. Não podemos socorrer tudo e todos ao mesmo tempo. Não temos meios: nem recursos humanos, nem recursos financeiros. Há que dar prioridades”, considera o padre Manuel Silva. Neste sentido, o coordenador da pastoral social da Vigararia de Alenquer apelou aos responsáveis pela caridade nas paróquias e instituições para irem sobretudo ao encontro daqueles que estão em emergência: “Os desempregados, as crianças em risco, os que estão sós em casa”.

Na opinião deste sacerdote, “para acudir a todas estas situações, a primeira resposta que se encontra no terreno é a família”. No entanto, acrescenta, “muitas vezes a família não funciona, está desestruturada, desorganizada”, por isso, “a primeira rede de apoio é muitas vezes o vizinho”. “É muito curioso que a palavra paróquia significa comunidade de vizinhos. É isso que deve ser uma paróquia: uma comunidade que cuida uns dos outros”.

Nesta jornada de reflexão sobre a pastoral sócio-caritativa, e falando em concreto da realidade assistencial da Vigararia de Alenquer, o padre Manuel Silva mostra-se satisfeito com a missão realizada. “Já há no terreno muitas instituições, a responder, a dar apoio! Contudo, sabemos que as nossas respostas não são ainda as suficientes”. Questionando, por isso, sobre quais serão as apostas futuras da Igreja na acção social, este sacerdote deixou duas sugestões: “Cuidar bem do que existe – e não me refiro apenas às paredes, mas sobretudo às pessoas – e alargar a rede de apoio às populações, mesmo com o pouco dinheiro que existe actualmente”. O desafio ficou lançado. “É preciso ousadia e confiança! Não pode haver uma paróquia que não tenha um grupo de apoio social, seja Cáritas, Vicentinos ou outro grupo”, apontou o coordenador da pastoral social da Vigararia de Alenquer.

 

O segredo da acção social da Igreja

Presente nesta iniciativa que juntou os principais responsáveis pelos agentes sociais da Vigararia de Alenquer, D. Nuno Brás, Bispo Auxiliar de Lisboa, lembrou que a caridade faz parte do ser cristão. “Os cristãos desde sempre que nunca deixaram de olhar para o outro. Não podemos ignorar o nosso próximo; não podemos ignorar o vizinho; não podemos ignorar as suas situações. A acção social da Igreja é qualquer coisa de própria à vida cristã, seja ela entendida enquanto vida cristã pessoal – da minha relação com Deus –, seja entendida como vida cristã comunitária, como membros do Corpo de Cristo”.

Falando depois das diversas expressões caritativas, como os montepios, as misericórdias ou, mais recentemente, os centros sociais paroquiais, D. Nuno Brás encorajou os cristãos a serem expressão do amor de Deus pelos homens. “Não podemos ficar parados! Mesmo no momento em que o Estado já não tem dinheiro, penso ser importante tomarmos consciência que se o Estado não tem dinheiro, as comunidades podem sempre ser, e continuar a ser, sujeitos da acção social. A vida de caridade quer dizer expressão do amor de Deus, que não pode parar só porque o Estado não tem dinheiro”. O Bispo Auxiliar de Lisboa lembra que “a Igreja muitas vezes ficou dependente da ajuda do Estado”, pelo que convidou os agentes a serem criativos: “Se o Estado faz aquilo que nós já fazemos, devemos partir para outras acções! Há sempre outras pessoas a necessitarem do nosso apoio e da nossa ajuda. A nossa vida fica muito mais rica ao cuidar dos outros, do que verdadeiramente podemos dar em termos materiais”.

D. Nuno Brás salientou ainda qual o segredo da acção social da Igreja. “Não temos dinheiro? Temos muito amor para dar! Não o nosso, que é sempre egoísta ou marcado pelo egoísmo, mas o amor de Cristo. Esse é o grande segredo da vida social da Igreja, da acção de caridade da Igreja. É por isso que ela se ultrapassa a si própria: a Igreja, os cristãos, quando cuidam do próximo, não apenas se dão a si próprios, mas dão o próprio Jesus Cristo”.

 

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Criar em cada paróquia um grupo coordenador da acção social

O director do Departamento da Pastoral Social do Patriarcado de Lisboa, cónego Francisco Crespo, esteve também presente nesta Jornada Vicarial, tendo sublinhado que “toda a Igreja em Portugal tem procurado adoptar o documento da Conferência Episcopal Portuguesa ‘Serviços paroquiais de acção social para uma cultura da dádiva’”. Segundo este responsável, cada paróquia deve “criar um grupo coordenador da acção social”, que “suscite e faça crescer na paróquia a dimensão social como uma exigência da vida da própria comunidade cristã”. Além disso, acrescentou, este grupo coordenador da acção social deve também “assegurar o conhecimento e o atendimento dos problemas sócio-familiares da paróquia, sem qualquer discriminação”. Por fim, este novo grupo deve “articular as actividades, as instituições e grupos de acção social da paróquia”.

Nesta jornada de reflexão sobre a pastoral social, este responsável divulgou ainda alguns dados sobre a realidade sócio-caritativa no Patriarcado de Lisboa: 145 centros sociais paroquiais, 32 misericórdias, 1 cáritas diocesana e 5 cáritas paroquiais, 51 obras de acção sócio caritativa (embora não estejam estritamente ligadas a paróquias), 8 hospitais e casas de saúde, 10 lares para adolescentes e jovens, 9 lares para universitários, 17 lares para pessoas idosas. “Infelizmente, hoje não podemos alargar valências e criar mais postos de trabalho… isso foi tempo! Temos é cuidar do que temos, trabalhando em coordenação!”, garantiu o cónego Crespo.


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Cáritas Diocesana de Lisboa quer formar agentes de acção social

A acção social directa da Cáritas Diocesana de Lisboa cresceu, em 2011, cerca de 40 por cento em relação a 2010. O número foi revelado pelo presidente da Cáritas Diocesana de Lisboa, José Frias Gomes, que participou também nesta Jornada Vicarial de Alenquer sobre solidariedade. “Este crescimento trouxe dificuldades de meios, não só para atender as pessoas mas também para as socorrer”, sublinhou.

Procurando olhar para o futuro, e de forma a dar execução ao documento dos bispos portugueses, a Cáritas Diocesana de Lisboa tem em curso o projecto ‘Mais próximo’. “É um projecto que tem a ver com a formação e com o elaborar o perfil do agente de acção social ao nível paroquial”, sublinhou o director da instituição, desafiando não só as paróquias da Vigararia de Alenquer, como todas as do Patriarcado de Lisboa, a “apostarem nesta formação para os agentes da acção social ao nível paroquial”.

 

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Paróquias da Vigararia de Alenquer

Abrigada, Aldeia Galega da Merceana, Aldeia Gavinha, Alenquer, Alenquer – Triana, Arranhó, Arruda dos Vinhos, Cabanas de Torres, Cadafais, Cardosas, Carnota, Carregado, Meca, Olhalvo, Ota, Palhacana, São Quintino, São Tiago dos Velhos, Sapataria, Sobral de Monte Agraço, Ventosa e Vila Verde dos Francos.

texto e fotos por Diogo Paiva Brandão
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