Jornal Voz da Verdade

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19.02.2012

Domingo |

� Procura da Palavra

�Levantei-me e comecei a andar��

DOMINGO VII DO TEMPO COMUM

“Filho, os teus pecados

est�o perdoados.”

Mc 2, 5

�

Eu n�o sabia para onde me levavam aqueles amigos que entraram, intempestivamente, na minha pobre casa. Traziam um sorriso na cara mas ficaram calados �s minhas perguntas. Que ia ser uma surpresa, disseram � minha fam�lia. E levaram-me apressados. Eu n�o gostava de surpresas. Desde o acidente que me tinha deixado assim, feito um monte de trapos, vivia um inferno em vida. A precisar sempre de todos, at� para comer. E sem poder fazer nada por ningu�m. Alguns diziam que tinha sido um castigo pelos pecados de um antepassado, outros que eu devia dar gra�as a Deus por estar vivo. Mas crescia em mim uma raiva contra a vida e at� contra Deus. Sofria e fazia sofrer os que tanto me queriam.

Fui todo o caminho a barafustar com eles. O seu passo apressado n�o enganava: queriam levar-me a algum lugar. Comecei a sentir o barulho de muita gente mas, deitado como estava, s� via o c�u azul que, nesse dia estava t�o bonito. A certa altura pararam porque a casa onde queriam levar-me estava rodeada por uma grande multid�o. Silenciosos escutavam algu�m cuja voz me chegava t�nue. N�o percebia o que dizia mas as suas palavras eram como as ondas suaves e frescas do mar da Galileia ou o chilrear matutino dos p�ssaros. Pedi para me baixarem s� que eles tinham outra coisa em mente. Rode�mos a multid�o e, por detr�s da casa, come�aram a subir comigo para um terra�o vizinho. E eis-me feito alpinista involunt�rio. Dali passaram ao telhado da casa em que a voz abra�ava o sil�ncio. E, abrindo um buraco no tecto, come�aram a descer-me com umas cordas mesmo diante daquele homem que via pela primeira vez. Eu estava duplamente paralisado. Zangado com os amigos atrevidos, envergonhado por aquela exposi��o p�blica da minha mis�ria, com medo daquele homem que calava as multid�es, tinha o cora��o a bater como o ribombar de trov�es.

Ele olhou para mim e viu-me por dentro. Com a delicadeza de quem olha para l� das apar�ncias, com um olhar que curava as muitas feridas abertas e me abra�ava como ningu�m tinha feito nunca. Chamou-me “filho” sem nunca o ter visto antes e era a palavra mais certa para dizer como estava a nascer de novo. Disse que os meus pecados estavam perdoados. E eu que julgava que os pecados eram mais dos outros, da sociedade que n�o era justa, das injusti�as que eram sempre an�nimas, baixei � minha mis�ria mas a sua m�o levantou-me e senti-me de p� mesmo continuando deitado. N�o dei conta do burburinho que se armou. A ordem que me deu parecia natural. Quando o meu corpo ganhou for�as para se erguer j� eu corria pelos campos e ia abra�ar os meus.

Desde ent�o n�o me canso de falar d’Ele. Em especial aos paral�ticos do corpo e tamb�m aos da alma, pois n�o basta ter pernas para saber andar. Todas as pris�es t�m uma porta para entrar e para sair. E se estiver muito aferrolhada, h� sempre um tecto que pode ser esburacado. � verdade, tenho criado v�rias associa��es de amigos dos paral�ticos! Atrevidos para levar todos at� Jesus!

P. V�tor Gon�alves