Domingo |
À Procura da Palavra
Podemos dizer “Paizinho”?

DOMINGO II DA QUARESMA - Ano B

 

Este é o meu Filho muito amado:

Escutai-O.”

Mc 9, 7


No rescaldo dos Óscares de Hollywood vi-me a imaginar o festival de efeitos especiais que o episódio da Transfiguração de Jesus daria: um monte alto, vestes resplandecentes, personagens vindo do passado, os discípulos a quererem “acampar” ali mesmo, a nuvem luminosa, uma voz capaz de abalar os corações! Uns realizadores tentariam reproduzir o que se descreve; outros encontrariam a forma de nos deslumbrar com a beleza que sugere o invisível. A intimidade com Deus é experiência do maravilhoso e as imagens são uma linguagem possível para dizer o indizível. Como dizer “Pai” ou “Mãe” ou “Filho” sem estremecer um pouco por dentro?

Alguns amigos dizem-me que andam todos os dias a aprender a ser pais. Que a surpresa dos filhos implica um acolhimento imenso. E como é tão importante não se esquecerem de viver a realidade primeira de ser marido e mulher, porque o cuidado do seu amor faz deles melhores pais. Sorrio com o que uns dizem: “Não há doutoramentos neste curso. Amar é descobrir sempre algo novo.” E ponho-me a imaginar que talvez Deus também sinta o mesmo connosco. Que somos uma fonte de surpresas e que, mesmo conhecendo-nos como ninguém, Ele não se cansa de inventar maneiras de mostrar que nos ama. Que o seu coração estremece quando nos chama “filhos”!

Chamar Deus como “Pai” ou, melhor ainda “Paizinho” (como sabemos que Jesus dizia com a palavra “Abba”) é também uma aprendizagem. Talvez tenha começado com o decorar da oração que Jesus ensinou aos discípulos mas vai ganhando diferentes tonalidades ao longo do caminho. Na beleza e no êxtase, na dor e no compromisso, na alegria e no desencanto, no vigor e também na fragilidade, com que bater do coração vamos entrando na intimidade surpreendente de Deus Pai? Como abraçamos esta realidade de sermos filhos, com liberdade e responsabilidade, com a graça de escolher e de criar, semelhantes a Deus na capacidade de amar? Ou acomodamo-nos numa imagem estática de Deus que controla e vigia os nossos passos, que recompensa e castiga, que nunca está satisfeito com o que já alcançámos?

No filme de Martin Scorcese, “A invenção de Hugo”, o menino herói do filme esperava que o pai, morto num incêndio, lhe tivesse deixado uma mensagem num autómato de metal danificado. Ao consertá-lo, descobriu que a mensagem era um desenho que o ligava a um dos pais do cinema, que tinha rejeitado os filmes “seus filhos”. No encontro doloroso com a verdade vieram a construir-se as pontes do amor e descobrimos que “todos podemos ser reparados”. Recriar-nos em Jesus é o desejo constante do Pai. E acontece sempre que estremecemos ao dizer-Lhe: “Paizinho”!

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