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Póvoa de Santo Adrião
Ligar as pessoas à terra
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Ajudar as pessoas a deixarem de sentir esta terra como um dormitório foi o objectivo da paróquia da Póvoa de Santo Adrião ao organizar, pela primeira vez, a Festa do Padroeiro e da Comunidade. Conheça esta paróquia, situada na Vigararia de Loures - Odivelas, que está confiada aos Padres Monfortinos.

“Descobrir a figura de Santo Adrião e assim descobrir a história da nossa terra”. Nas palavras do pároco da Póvoa de Santo Adrião, foi com este objectivo que a comunidade cristã organizou, pela primeira vez, nos dias 3 e 4 de Março, a Festa do Padroeiro e da Comunidade. “É fundamental que às novas gerações se dê um sentido de pertença, um sentido de comunidade, um sentido de história”, refere ao Jornal VOZ DA VERDADE o padre Rui Valério.

A data escolhida pela paróquia para esta festa do padroeiro recorda o aniversário do martírio de Santo Adrião, 4 de Março. “A figura da festa popular, do santo da sua terra, quer queiramos quer não, é um factor de ligação da pessoa à sua terra. É um contributo que a Igreja, através da paróquia, está a dar no sentido de a Póvoa deixar de ser apenas um dormitório para passar a ser uma terra! Para que as pessoas sintam que pertencem cá! É muito importante criar nas pessoas este sentido de pertença a esta terra!”, acrescenta este sacerdote, de 47 anos.

Paróquia monfortina há quase 50 anos

Situada a cerca de 10 minutos de Lisboa, a paróquia da Póvoa de Santo Adrião tem a particularidade de estar confiada aos Padres Monfortinos. No entanto, a primeira casa que estes sacerdotes religiosos tiveram no Patriarcado de Lisboa foi na Reboleira, nos anos 40, 50 do século passado. Anos mais tarde, foi construído em Loures o Seminário Maior desta congregação. A chegada à Póvoa de Santo Adrião dá-se apenas na segunda metade da década de 60. “Lá por volta de 1967, 1968 os Padres Monfortinos assumiram a paróquia da Póvoa de Santo Adrião. E de então para cá, nunca deixámos esta paróquia! Mas a verdade é que também não tivemos muitos párocos: o primeiro foi o padre Van Zelst, que era holandês, o segundo foi o padre Manuel Peixoto, o terceiro foi o padre Luís Ferreira e actualmente estou eu à frente dos destinos desta comunidade cristã!”, conta o padre Rui Valério.
Após uma passagem entre 1996 e 2001, o padre Rui está novamente presente na Póvoa de Santo Adrião desde 2007 como coadjutor, tendo assumido os destinos da paróquia como pároco em Setembro último. E os desafios mudaram totalmente. “Por muito que eu tivesse conhecimento da realidade local, quando se é pároco e quando se constata de forma muito directa as situações, os problemas, as pessoas, percebemos que temos apenas um conhecimento parcial quando somos coadjutores”, assume este sacerdote, que tem como vigário paroquial o padre Carlos Manso, sacerdote monfortino que é também capelão do Hospital Amadora-Sintra.

 

Envelhecimento (muito) preocupante

Situada no Concelho de Odivelas, a Póvoa de Santo Adrião é uma freguesia com mais de 13 mil habitantes. No entanto, o espaço geográfico da paróquia abrange ainda a freguesia do Olival Basto, habitada por perto de seis mil pessoas. A população destas duas freguesias que compõem a paróquia da Póvoa de Santo Adrião é heterogénea e de diversas proveniências. “A partir de 1960, verificamos que há uma afluência de pessoas oriundas de outras regiões do país. Depois, a partir da segunda metade dos anos 70, 80, começaram a chegar muitos estrangeiros, sobretudo dos chamados PALOP – Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa. Actualmente, como em muitos outros lugares, também aqui se vive a dimensão cosmopolita, porque muitas das pessoas são originárias da província”. Esta dimensão cosmopolita faz com que nos meses de férias ou nos momentos das grandes festas, a paróquia da Póvoa de Santo Adrião veja uma parte significativa dos seus paroquianos a fazerem-se à estrada. “No mês de Agosto, não está cá praticamente ninguém… no Natal e na Páscoa também sentimos que há muita gente a ‘voltar’ à terra”, aponta o pároco.

O padre Rui Valério, que este mês de Março cumpre 21 anos como sacerdote, frisa ainda o que, em seu entender, é um dos maiores problemas não só da sua paróquia como de todo o país: o envelhecimento da população. “A população portuguesa está num processo de envelhecimento preocupante. Estamo-nos a tornar ver velhos!”, lamenta, criticando a falta de reflexão sobre este assunto: “O envelhecimento da população é um problema para o qual ainda não despertámos – ainda ninguém despertou! Fala-se como temática, mas é temática de conversa, porque ainda não foi tema de decisões. Actualmente, o envelhecimento da população portuguesa é tema de literatura, não é mais do que isso!”. O pároco da Póvoa de Santo Adrião revela números concretos desta problemática. “Este ano já vou a caminho dos 30 funerais e baptismos não cheguei ainda aos 10”, salienta.

Nova igreja evoca a Casa de Nazaré

Em termos de prática religiosa, o padre Rui sublinha a devoção que sente nas pessoas. “Os membros desta comunidade ainda têm na Igreja e na religião um meio e um modo de relacionamento com Deus. Acredito que a fé nesta paróquia se vive com maturidade e com coerência”. Lugares de culto na paróquia são três: a igreja matriz, na Póvoa, que é dedicada a Santo Adrião e que foi mandada construir por volta de 1550; a igreja do Olival Basto, inaugurada no tempo do Cardeal Cerejeira e cujo orago é Nossa Senhora de Fátima; e a igreja paroquial, situada também na Póvoa, que foi consagrada em 2009 por D. José Policarpo e que é dedicada a Nossa Senhora da Anunciação. “Esta nova igreja foi construída integralmente pelo povo católico da Póvoa de Santo Adrião!”, garante o pároco. “Quem entra na nova igreja é como se entrasse dentro duma casa! Eu gosto de pensar, e quero evocar, a Casa de Nazaré, onde efectivamente o mistério da Anunciação teve lugar”.

Santidade pessoal, acção social e evangelização

O padre Rui Valério está na paróquia da Póvoa de Santo Adrião desde 2007, sendo no entanto pároco há apenas seis meses. As apostas pastorais surgem numa linha de continuidade e procuram focar a santidade pessoal, a acção social e a evangelização. “A nossa aposta pastoral primária é ao nível da santidade da pessoa. A Igreja existe para isso! O ênfase que damos à catequese de infância, à catequese dos adultos, aos grupos de jovens é sempre para conduzir a pessoa na realização dessa vocação à santidade, que só se realiza na comunhão e na união com Jesus Cristo! A Igreja existe em virtude de Jesus Cristo e existe para promover a comunhão com Jesus Cristo!”, salienta.

A acção social está igualmente “muito presente na paróquia”, não só porque esta é “uma zona de periferia”, mas também porque “existem dois bairros muito pobres” na área da paróquia. “É muito bonita a relação que existe entre estes bairros e a comunidade. E aqui tenho de salientar o papel dos nossos jovens! A Juventude Monfortina visita as pessoas, dá explicações aos mais novos. Foi ainda criado um coro, de música africana!”. Para responder às situações de maior carência, a paróquia da Póvoa de Santo Adrião conta com o ‘Fundo de Apoio às Famílias Necessitadas’. “É um fundo paroquial iniciado há cerca de 35, 40 anos, que apoia actualmente 800 pessoas, e que visa distribuir alimentos, roupas e nos últimos tempos ajuda também na compra de medicamentos e nas despesas com as casas”. Toda a acção social da paróquia, segundo explica o pároco, “procura uma integração recíproca, que remova fronteiras”. Ao nível da caridade, a paróquia tem ainda o Centro Paroquial, com as valências do apoio domiciliário, berçário e ATL, estando em estudo a criação do convívio para idosos.

A dimensão cultural não é esquecida na paróquia da Póvoa de Santo Adrião. E o padre Rui Valério explica porquê: “Uma das pontes que a Igreja pode traçar com a sociedade é ao nível da dimensão cultural. A nova evangelização passa, obviamente, por uma presença da Igreja na cultura e por um dialogar com a cultura. Temos de ir ao encontro dos que estão afastados da Igreja!”, assegura o pároco, exemplificando com “as exposições, os debates, as conferências, os serões culturais, os concertos ou as peças de teatro” que são organizadas na paróquia. “É uma aposta na evangelização”, garante.

Chegar aos jovens

Após a catequese – que conta actualmente com 600 crianças e adolescentes, para cerca de 50 catequistas –, a paróquia da Póvoa de Santo Adrião propõe diversos desafios aos jovens. “Sentimos que os jovens da paróquia querem continuar a cultivar a sua relação com Cristo. Ao mesmo tempo, percebemos que muitos são os jovens que querem ser colaboradores da comunidade. Por isso, estruturámos a Juventude Monfortina em três sectores: o sector da missão (que anuncia Jesus Cristo), o sector da evangelização (de modo a promover pontes entre a Igreja e a sociedade) e o sector da liturgia (para fazer da vida uma liturgia continuada)”. Seja qual for o grupo que os jovens integrem, “todos têm formação específica de espiritualidade”. Na comunidade do Olival Basto, além da Juventude Mariana Vicentina, a paróquia iniciou este ano pastoral “um novo projecto com os jovens que foram crismados e que querem continuar a aprofundar a fé”.

Os escuteiros, o coro paroquial, os visitadores dos doentes, o grupo de comunicação e cultura – responsável pelo jornal da paróquia, intitulado ‘Partilhar’ – ou a Legião de Maria são outros movimentos da paróquia.

São muitas as actividades da paróquia em que o padre Rui Valério procura que a figura do padroeiro, Santo Adrião, esteja ‘presente’. “A época que Santo Adrião viveu é muito semelhante à época que nós estamos a viver! Ele foi mártir no ano 306, quando o império romano já estava num certo declínio, e o que verificamos é que Santo Adrião foi mártir pela fé e não se deixou aliciar pelas promessas de maior riqueza… E esta é uma grande mensagem e uma grande lição que ele nos dá neste tempo, sobretudo para não renunciarmos, nunca, à nossa fé em Jesus Cristo!”.

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Uma festa para a comunidade

Nos dias 3 e 4 de Março, a paróquia da Póvoa de Santo Adrião celebrou pela primeira vez a Festa do Padroeiro e da Comunidade. No sábado, dia 3, foi inaugurada uma exposição sobre o padroeiro, a igreja matriz e a vila, e, à noite, os jovens encenaram a vida de Santo Adrião. No Domingo, dia 4, data do martírio do padroeiro, D. Nuno Brás, Bispo Auxiliar de Lisboa, presidiu à Eucaristia na igreja paroquial, tendo salientado a importância da fé. “Ter fé é viver com Ele! Não apenas uma hora por semana, mas sempre, em toda a nossa vida”. E, neste sentido, lembrou o exemplo do padroeiro desta paróquia. “Santo Adrião era um soldado do exército romano, que ao ver o modo como os cristãos iam para o martírio e viviam os tempos difíceis, quis ser como eles!”. Aos cristãos da Póvoa de Santo Adrião, D. Nuno Brás apelou ainda “a viver com fé estes momentos de crise”.

Após o almoço partilhado, durante a tarde houve actuação do rancho folclórico e do grupo de concertinas, e uma reflexão pelo padre Dário Pedroso, um filho da terra, sobre ‘O que é ser comunidade? Como deve ser uma comunidade à imagem de Santo Adrião?’. A festa terminou com uma manifestação de fé pelas ruas da paróquia, com a procissão até à igreja matriz, que terminou com Eucaristia.

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Os Padres Monfortinos

Os Padres Monfortinos (SMM) são sacerdotes religiosos, que pertencem a uma Companhia, a Companhia de Maria, que teve a sua origem em São Luís Maria de Montfort, santo francês dos séculos XVII-XVIII. “É um santo conhecido pela sua devoção a Nossa Senhora. Aliás, era um dos santos de referência do Papa João Paulo II”, conta o padre Rui Valério.

A espiritualidade de São Luís Maria de Montfort é focalizada em três pontos: “Cristo como sabedoria, em que a nossa fé se traduz em actos e atitudes práticas do quotidiano; a figura de Maria, ligada ao Espírito Santo e em função da chamada regeneração de Cristo em nós; e a missão, porque o monfortino é o homem da missão, é aquele que está ao serviço da Igreja para anunciar o Evangelho e para fazer da história de cada homem um 5º Evangelho, através de uma vida pessoal de santidade!”.

O padre Rui Valério sublinha ainda “a dedicação à oração, na contemplação do Cristo ressuscitado”, que caracteriza os Padres Monfortinos.

texto e fotos por Diogo Paiva Brandão
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