A comunidade cristã, minoritária, vive tempos de angústia. O país está a viver uma verdadeira guerra civil, com o regime de Bashar al-Assad a responder aos protestos da população com uma espiral de violência inacreditável. Os cristãos exigem o fim deste conflito sangrento, mas temem que a queda do ditador abra as portas aos radicais islâmicos. A única saída parece ser a fuga do país. É preciso ajudar já os cristãos na Síria. Amanhã pode ser tarde demais.
É ingrata, como não se imaginava possível, a vida dos cristãos na Síria. O país está em guerra civil, com a população nas ruas a exigir reformas políticas e a denunciar o regime que controla o poder há meio século. Mas Bashar al-Assad, o presidente, não parece desistir. Indiferente aos protestos da comunidade internacional, tem respondido aos manifestantes com uma violência extrema. No meio de tudo isto, os cristãos sofrem em silêncio. E temem, acima de tudo, que um eventual derrube de Assad escancare o poder aos grupos islâmicos radicais, o que tem vindo a acontecer onde irrompeu a Primavera Árabe.
Mais de 7.500 mortos
Se o presente assusta, pela violência gratuita, especialmente na sitiada cidade de Homs, o futuro pode vir a revelar-se terrível. Segundo a ONU, já terão morrido mais de 7.500 pessoas desde que, em meados do primeiro semestre do ano passado,os sírios começaram a sair para as ruas exigindo reformas políticas e a demissão de Bashar al-Assad. Hoje, meses depois, a situação tende a agravar-se. A subsecretária-geral das Nações Unidas, Lynn Pascoe, afirmou, na passada semana, que “há dados credíveis que apontam para cerca de cem mortos por dia”.
Cristãos encurralados
Os cristãos sentem-se encurralados. Por um lado,o regime de Assad garante os direitos das minorias religiosas, tendo decretado que os cristãos têm permissão para praticar a sua religião, e que as suas igrejas devem permanecer como lugares protegidos. Por outro lado, ninguém ignora a prepotência, corrupção e violência que caracterizam a ditadura familiar que governa o país há meio século. E muitos estão divididos sobre qual o caminho a seguir, sendo que é quase impossível não tomar partido. A organização Presbiterianos pela Paz no Médio Oriente pediu, muito recentemente, às Nações Unidas para processar o Governo de Assad “por crimes contra a humanidade”.
“Cenário medieval”
Paul Conroy, de 47 anos, jornalista ao serviço do Sunday Times, viveu momentos dramáticos na cidade de Homs. O seu relato permite perceber como é também o dia-a-dia dos cristãos que habitam nesta cidade. “Não se trata de uma guerra. É um massacre, e um massacre indiscriminado de homens, mulheres e crianças”, disse Conroy à Sky News. “Não havia alvos militares, era um puro e sistemático massacre da população civil. A única razão dos bombardeamentos era a eliminação de pessoas e dos edifícios”. À CNN, o jornalista falou mesmo num “cenário medieval, um massacre”.
Impasse assassino
O Arcebispo de Damasco, por sua vez, afirma que a Síria “está num impasse assassino”. Numa declaração em exclusivo para a Fundação AIS, D. Samir Nassar explica que se estão a viver situações dramáticas, com pessoas a quererem abandonar a Síria mas a não conseguirem obter os vistos necessários, pois muitas das embaixadas estão encerradas por causa das cenas de violência.
Segundo o Arcebispo, “grande parte da população, especialmente os mais jovens, sente-se abandonada pelo mundo exterior que aparentemente nada faz para impedir esta situação de desastre”.
Fuga em massa
A fuga do país poderá ser mesmo a única saída para os cristãos. Um Bispo sírio, que por razões de segurança pede para não ser identificado, confessou à Fundação AIS o seu medo face ao futuro. “O maior medo - disse o prelado - é que possa haver um êxodo em massa, tal como aconteceu no Iraque em 2003, após a queda de Saddam Hussein”. O regime de Bashar al-Assad é uma ditadura, mas a sua queda poderá degenerar numa anarquia de tal forma violenta que terá consequências difíceis de imaginar, afirmam observadores internacionais.
Na mira dos radicais
O bispo contactado pela Fundação AIS não tem dúvidas em afirmar o seu profundo receio de que os cristãos estarão entre os que mais irão sofrer com a queda de Assad e a tomada de poder de grupos islâmicos radicais. Também Ignatius Joseph III, Patriarca da Igreja Católica Síria, já afirmou o seu receio de que a queda da ditadura de Bashar al-Assad poderá “provocar um desastre para os cristãos”, que ficarão na mira dos terroristas islâmicos.
Apelo lancinante
Os cristãos apenas desejam ficar na sua própria terra, em paz, contribuindo, como sempre fizeram, para o desenvolvimento social e cultural da Síria. O bispo sírio que nos pede anonimato, assegura-nos que uma das tarefas em que a sua comunidade está mais empenhada é na “distribuição de produtos básicos como arroz, óleo, açúcar e chá”. E lança-nos um apelo lancinante: “Precisamos muito de ajuda para podermos auxiliar as famílias mais pobres, que têm mais necessidades de comida e de alimentos”. É preciso não esquecer que há cidades, vilas e aldeias que estão completamente sitiadas, sem acesso ao exterior, vítimas de constantes tiroteios, até de bombardeamentos.
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É preciso ajudar
Uma das campanhas da Fundação AIS visa o apoio aos Irmãos de São Simeão e toda a sua comunidade cristã de Alepo. Eles estão empenhados em concluir o seu Convento para aí poderem celebrar a Eucaristia. Num tempo de incerteza, em que tantos pensam em fugir do país, esta pequena comunidade cristã decidiu ficar para melhor servir as populações. Os Irmãos de São Simeão correm todos os riscos. Nós apenas somos chamados a oferecer-lhes uma pequena contribuição. Como podemos recusá-la?
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