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Cuba: visita de Bento XVI gera enorme expectativa
“Roubaram-nos a capacidade de sonhar”
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O desabafo do Padre Alberto representa a denúncia de todo um povo. Em Cuba, apesar das mudanças dos últimos anos, com cautelosas aberturas de um regime totalitário, ainda falta muito para que a liberdade democrática possa ser vivida por todos. Esta visita do Papa, de 26 a 28 de Março, está carregada de significado. Este ano celebram-se cinquenta anos de bloqueio contra a ilha e 400 anos da aparição da imagem da Virgem da Caridade, padroeira de Cuba.

 

14 anos depois da histórica visita de João Paulo II, em que o Papa lançou o já famoso desafio para que “Cuba se abra ao mundo e o mundo se abra a Cuba”, é a vez do seu sucessor, Bento XVI, ser portador de uma mensagem de esperança a um país que tem vindo a dar sinais contraditórios nos últimos anos.
Em 1998, os cubanos desconheciam os telemóveis, não podiam ter carros em seu nome, vender ou comprar casas, adquirir computadores, criar o seu próprio negócio… Tudo isso já mudou. Porém, falta ainda percorrer muito caminho para que a liberdade democrática seja uma realidade.
Em 1998, o Papa João Paulo II foi acolhido em Cuba por Fidel Castro. Em 2012, o Papa Bento XVI vai ser recebido pelo irmão do velho ditador, Raul Castro.

 

Presos políticos

Então, como agora, os dissidentes do regime denunciam a existência de uma sistemática repressão, com atentados frequentes aos direitos humanos. Desde então, no entanto, o papel da Igreja Católica mudou bastante em Cuba. Agora é, de alguma maneira, interlocutora do Estado, o que lhe confere uma responsabilidade enorme na expectativa de todos os cubanos numa vida melhor, mais livre, em que possam ser, de facto, senhores do seu próprio destino. Foi com a colaboração activa da Igreja que Raul Castro permitiu, em 2010, a libertação de inúmeros presos políticos. Isso deu alento às autoridades católicas para insistirem na necessidade da reconciliação nacional.

 

Sentimento de impotência

O Padre Alberto é cubano, está actualmente em Espanha a estudar, mas acompanha com redobrada atenção tudo o que se passa no seu país. Em entrevista à Fundação AIS, fala da “expectativa” que todos depositam na visita do Santo Padre, mas não esconde o seu próprio cepticismo. Diz ele sobre o seu povo: “Nota-se uma falta de esperança muito grande nas pessoas e isso preocupa-me”. E porquê essa falta de esperança? “Isto dura há demasiado tempo”, diz. “Já são cinquenta anos em que os cubanos não têm liberdade, não têm opções. Um dos piores sentimentos que vivemos é o da impotência de não se poder fazer nada e isso leva ao desespero, porque é o mesmo que lutar contra um muro”.

 

Igreja perseguida

Nesses 50 anos de que fala o Padre Alberto, a Igreja Católica foi testada quase até aos limites. Hoje, o poder pede aos bispos para serem interlocutores entre o povo e o Governo, mas também com os cubanos no exílio e os académicos. No entanto, ninguém esquece que, desde a Revolução de 1959, foram expulsos de Cuba 131 sacerdotes e quase 500 deixaram o país por “vontade própria”. Quanto às comunidades religiosas femininas, passaram de 158 para 43. Das 2,5 mil religiosas, restaram apenas 300, enquanto o número de homens diminuiu de 87 para 17.

 

Virgem da Caridade

Uma coisa, porém, não mudou em Cuba com a chegada ao poder de Fidel Castro: a enorme veneração à Virgem da Caridade, padroeira da ilha. Ela é o elemento indiscutível de unidade, mesmo para os ateus, mesmo para os que são contrários à religião. A Virgem da Caridade é a mãe de Cuba e poderá ser através dela que a reconciliação nacional tão acalentada pela Igreja venha a acontecer. Por isso, também, a visita de Bento XVI está a gerar tanta expectativa. É que um dos pontos altos da agenda oficial do Sumo Pontífice é precisamente a visita, dia 27, ao Santuário. Pelo meio, vai encontrar-se com o presidente, Raul Castro, dará um passeio por Havana, celebrará missa na Praça Antonio Maceo e, no último dia, celebrará outra missa ao ar livre, desta vez na emblemática Praça da Revolução.

 

Recuperar o Santuário

Para o Padre Alberto, muita coisa pode mudar com a visita de Bento XVI. “O cubano está muito céptico e cansado de esperar por uma mudança democrática do regime. Nestes anos, roubaram-nos a capacidade de sonhar,  mas o cubano também é um lutador, não se rende, não desiste.”
Cuba é um dos países prioritários para a Fundação AIS. Apoiando o trabalho por vezes quase clandestino dos padres e das irmãs junto dos mais necessitados, contribuindo para que a Igreja possa continuar a desempenhar um papel cada vez mais activo na sociedade, e até ajudando na recuperação desse símbolo maior da fé dos cubanos que é o Santuário da Virgem da Caridade e do Cobre.

 

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Fidel regressa à Igreja Católica?

Por confirmar, nesta visita oficial de Bento XVI a Cuba, está ainda um encontro entre o Papa e Fidel Castro, que poderá estar apenas dependente do estado de saúde do antigo presidente, pois o Papa já manifestou o desejo de se encontrar com ele. Há até rumores de que Fidel ter-se-á reconciliado com Deus. Segundo o jornal italiano “La Repubblica”, que cita a filha do “comandante”, Alina Fernández, o seu pai “aproximou-se da religião e de Deus”. A ser verdade esta  reconciliação, para muitos cubanos será mais uma manifestação do inegável poder da Virgem da Caridade.

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