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Quaresma
O Evangelho, a cana e o peixe
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Mais uma vez, a Comissão Nacional Justiça e Paz apresenta um texto para a Quaresma com o título “Também hoje a voz do Senhor chama cada um a cuidar do outro”, proporcionando a quem o desejar um subsídio de reflexão à volta das exigências da fé perante a realidade do país e do mundo.

 

Com ele como pano de fundo vamos apontar algumas ideias a começar pela sua pertinência neste tempo quaresmal em que somos convidados à conversão, não num sentido intimista e espiritualista, mas antes numa maneira de ver que seja mais consonante com a visão que Jesus nos foi sugerindo pelas suas palavras e pelos seus actos e que nos motivará para comportamentos diferentes. A mudança não é apenas individual mas também tem de abranger grupos e instituições e conduzir a comportamentos e critérios de acção.

 

Apelo à consciência

Para mudar há que fazer apelo à consciência, não se ficando apenas em critérios legais, o que nos poderia conduzir a um país de usurpadores escudados na força das razões formais, fruto do engenho de alguns que se valem da imperfeição das leis e dos alçapões que dão entrada aos interesses mais egoístas. Os momentos difíceis que vivemos, para muitos já dramáticos, exigem, para além da redistribuição da riqueza, que se vá às causas dos problemas e não se fique apenas nos efeitos ou, como se diz, é preciso dar a cana para que cada um possa pescar o peixe de que necessita. Mas há que ter em conta que algumas vezes há que começar por dar o peixe para que a partir de então o carenciado possa ter energias para pescar. Considerar a caridade como alienante pode não passar de uma atitude superficial por parte de quem do alto da torre da sua auto-suficiência não é capaz ou não quer ver o real sofrimento dos outros. Há que ter em conta o risco de certo assistencialismo, mas sem cair no extremo de, em nome da ideologia, ficar cego perante o sofrimento de quem sozinho não pode ultrapassar as dificuldades; começa a ser preocupante a situação de cortes em bens essenciais, como nos cuidados de saúde, alimentação, na secundarização da formação.

Neste campo o Estado tem uma função irrenunciável que é a promoção do bem comum. É verdade que ele está muitas vezes tão condicionado pelo poder económico e financeiro, como ainda pelo poder corporativo de alguns grupos, que não tem força para dar orientações justas ou então para as fazer cumprir. Por isso precisa ele mesmo de ser ajudado pelos cidadãos que, com um sentido cada vez mais crítico, não podem permitir que a sociedade fique entregue a um qualquer tipo de banditismo de punhos de veludo, que de forma airosa permita a uns tantos ir fugindo aos sacrifícios que por todos devem ser repartidos. Ao sentir cada dia a corda mais apertada à volta do pescoço e ao ver as reivindicações de alguns grupos meramente apostados no seu interesse exclusivo, o cidadão consciente começa a temer a derrocada do sonho de uma sociedade justa, participativa, democrática, numa palavra mais desenvolvida e feliz como tinha sido anunciada e se vinha tentando construir.

 

Mudança para a autenticidade

A mudança tem que se realizar no caminho da verdade, da autenticidade humana, o que implicará o indivíduo numa vida mais independente perante a alienação do consumismo e de um individualismo que foi ofuscando a dimensão indispensável à sua realização de pessoa como ser solidário. Cada um é também responsável pelo outro, seja quando passa fome, quando não tem acesso aos cuidados de saúde, quando se vê impedido de prosseguir os estudos, quando lhe vão sendo dadas razões para não acreditar no Estado, quando para alimentar os mais razoáveis anseios tem de pensar em sair da pátria. A caridade, referência incontornável do cristão, longe de ser identificada com a esmola assistencialista, será uma força contra o egoísmo, contra o individualismo, contra a alienação política, contra a resignação e contra um modelo de país constituído por uns tantos senhores com muitos escravos a servi-los. O Fr. Bento Domingues escreveu no Domingo passado no “Público” que o Evangelho “é sempre uma provocação”; poderemos dizer que a caridade – Evangelho tornado vida – deve ser sempre provocadora.

texto pelo P. Valentim Gonçalves, CJP-CIRP
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