Jornal Voz da Verdade

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01.04.2012

Domingo |

� Procura da Palavra

Carta a Sim�o de Cirene

DOMINGO DE RAMOS - Ano B

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“Requisitaram, para lhe levar a cruz,

um homem que passava, vindo do campo,

Sim�o de Cirene, pai de Alexandre e Rufo.”

Mc 15, 21

Car�ssimo Sim�o.

Desculpa-me o afecto desta sauda��o mas sabes, certamente, que �s um dos personagens mais lembrados do evangelho. Sem dizeres nenhuma palavra, aquele pequeno vers�culo que os evangelistas nos deixaram (s� Jo�o n�o te refere), com o teu nome e o dos teus filhos, revelando-te como quem ajudou Jesus a levar a cruz, gravou-te no nosso cora��o. Mas quem �s tu? Um desconhecido for�ado a entrar no maior drama da hist�ria. Um nome e um gesto lembrado para sempre. Proveniente da long�nqua L�bia (hoje um pa�s crucificado por um regime desp�tico e a procurar uma liberdade que ven�a os conflitos), estarias radicado por Jerusal�m ou vinhas para a P�scoa? Sabermos o teu nome e o dos teus filhos leva-nos a pensar que tu ou eles pertenceram �s primeiras comunidades crist�s.

O que pensaste ao ser obrigado a levar o instrumento de morte de um condenado? Que viste naquele flagelado que a multid�o injuriava? Sempre as multid�es foram manipul�veis. Dias antes, essa ou outra multid�o tinha-O aclamado Messias Rei ao entrar em Jerusal�m. Onde estavam os amigos que O acompanhavam desde a Galileia? Um deles, tamb�m chamado Sim�o, tinha dito que daria a vida por Ele. Mas isto n�o sabias ainda. Agora ia ali, talvez � tua frente, como se levasse o peso do mundo nos seus ombros, algu�m que n�o conhecias. Ter� o seu olhar cruzado com o teu? Quero acreditar que sim. E que tenhas percebido aquele amor que muda as nossas vidas, que enche de paz quando as injusti�as e o inexplic�vel acontecem, que nos empurra a dar at� ao fim o melhor que est� dentro de n�s. Ficaste at� ao fim? Ouviste aqueles que O incitavam a descer da cruz e a salvar-se a si mesmo? Ficamos sem saber mas o teu papel j� estava realizado.

Levares a cruz de Jesus tornou-te padroeiro de todos os que levam cruzes que n�o s�o suas. Que s�o de algu�m que amam ou de desconhecidos. Porque se compadecem ou porque s�o requisitados. E h� um mist�rio de amor a ligar todos estes Cireneus volunt�rios ou n�o, que aliviam o peso e d�o vida a quem a n�o tinha. T�o ao contr�rio dos que se especializam em atar “fardos pesados e dif�ceis de suportar” e os p�em aos ombros dos homens, ou “fazem todas as obras para serem vistos pelos homens” como dizia Jesus (Mt 23, 4-5). Que nomes novos tem a cruz hoje? Desemprego, pobreza, viol�ncia, explora��o dos fracos, depend�ncia dos poderosos? E que poderes a originam? Injusti�a, corrup��o, desonestidade, enriquecimento il�cito, abuso de poder? Ah, Sim�o, a cruz que levaste aos ombros j� era feita de tudo isto! Mas a abund�ncia do amor venceu o desamor. A manh� de P�scoa tornou-se mais forte que as trevas do calv�rio. Na cruz de Jesus todas as cruzes conduzem � Vida!

Obrigado por nos ensinares que, mesmo sem querermos, podemos dar vida a quem a amamos e a quem desconhecemos. Obrigado por teres caminhado com Jesus como gostar�amos de acompanhar quem sofre. Um abra�o forte, e at� j�, nestes caminhos de Jesus!

P. V�tor Gon�alves