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Vietname: regime comunista continua implacável para com os Cristãos
Quando a fé é posta à prova
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Famílias inteiras fogem do país, sendo obrigadas a deixar tudo para trás. Católicos são presos, acusados de “propaganda anti-governamental”. Aumentam os relatos de maus tratos e até de tortura nas prisões. Ser Cristão no Vietname é, cada vez mais, um acto de coragem.

 

No curto espaço de alguns dias, o Vietname foi notícia pelas piores razões: uma família cristã viu-se forçada a fugir do país depois de ter sido perseguida, numa inacreditável odisseia que a levou até ao Cambodja e à Tailândia.

Noutro caso, dois cristãos, acusados de “propaganda antigovernamental”, foram condenados a penas de prisão. Tudo isto acontece precisamente na mesma altura em que os cristãos aguardam a conclusão do processo de beatificação do Cardeal Francis Xavier Nguyen Van Thuan, uma figura cimeira da Igreja universal, que passou 13 anos nas terríveis cadeias do Vietname e que, depois de ter sido expulso do próprio país, passou os últimos anos de vida exilado na Europa.

 

Presos por serem Cristãos (1 ITÁLICO)

A história da família Bahnar é elucidativa. “A polícia prendeu-nos por diversas vezes porque somos cristãos: não tínhamos liberdade. O meu marido morreu três dias depois de sair da prisão, em consequência das agressões a que foi sujeito”, conta Van Bahnar, forçada a fugir do país, com os seus dois filhos. O seu depoimento, recolhido pela agência EFE, ilustra bem o clima de perseguição que se vive no Vietname. Hoje, a família Bahnar está alojada num minúsculo apartamento sob protecção do Comité Tailandês para os Refugiados, depois de ter deambulado, numa verdadeira odisseia, pelas selvas do Camboja a caminho da Tailândia.

 

Represálias constantes

Van e os seus dois filhos sobrevivem agora graças aos funcionários do Comité para os Refugiados, que se sensibilizaram com a sua terrível história. Sem documentos, não podendo regressar a casa, o futuro desta família é uma tremenda incógnita. No Vietname, a perseguição religiosa não é ficção: é, isso sim, uma realidade bem cruel.

Van explicou às autoridades tailandesas a razão porque tiveram de fugir do país: “Na aldeia, a nossa família sofria constantemente abusos por parte da polícia, as crianças estavam proibidas de frequentar a escola ou de ir ao médico”. Segundo Van, as represálias sobre os cristãos, incluindo as detenções e torturas, aumentaram há cerca de oito anos, quando a etnia a que pertencem, os Degar, decidiu protestar por não poderem realizar serviços religiosos.

 

Propaganda anti-goverrnamental

Noutro caso, também denunciado pela Fundação AIS, dois católicos foram condenados a penas de prisão por “propaganda anti-governamental”. O Tribunal Popular da província de Nghê Na considerou Vo Thi Thuv, de 50 anos, e Nguven Van Thuv, de 28, culpados da divulgação de “documentos contra o Governo e o partido”.

Estas detenções são o culminar de um processo mais vasto contra os cristãos nesta província vietnamita e que levou já à detenção de quase duas dezenas de jovens católicos da região central do Vietname, desde finais de Julho de 2011.

 

Relações pouco amistosas

Não se sabe se esta nova onda repressiva estará, ou não, relacionada com o evoluir do processo de beatificação do Cardeal Francis Xavier Nhuyen Van Thuan, iniciado em Outubro de 2010, e que deveria ter levado até ao Vietname, precisamente nas últimas semanas de Março, uma delegação vaticana do Conselho Pontifício de Justiça e Paz, que iria proceder à recolha de testemunhos sobre a vida e obra do Cardeal.

Avolumando as suspeitas sobre o momento particularmente pouco amistoso entre o regime vietnamita e o Vaticano, as autoridades de Hanói não emitiram o necessário visto de entrada à delegação, impedindo-a assim de realizar o seu trabalho e atrasando deliberadamente o processo de beatificação. Recorde-se que Vietname e Vaticano não têm oficialmente relações diplomáticas, mas nos últimos anos retomaram algum diálogo embora permaneçam por resolver questões fundamentais, como a da propriedade de terras pertencentes à Igreja e que foram confiscadas. A Igreja Católica representa, actualmente, cerca de seis milhões de fiéis, entre uma população de 86 milhões de habitantes.

 

O exemplo de Van Thuan

O Cardeal Van Thuan é um símbolo da resistência pacífica à violenta ditadura imposta pelo poder no Vietname. Perseguido pelas autoridades comunistas, foi preso logo após a sua nomeação para Bispo de Saigão, em 1975, tendo permanecido na cadeia e em campos de concentração durante 13 anos, sem nunca ter sido julgado. Ao fim desse tempo, as autoridades expulsaram-no do país, tendo então partido para o exílio, em Roma, onde viria a falecer em 2002.

Durante todos esses anos, Van Thuan empenhou-se essencialmente em deixar um testemunho de fé, de que o amor é sempre possível mesmo quando somos perseguidos, presos e humilhados. Num dos livros que escreveu, “Testemunhas da Esperança”, que se transformou num verdadeiro testamento espiritual, o Cardeal vietnamita relata a sua experiência de prisioneiro, não para denunciar a opressão e violência por que passou, mas sim para oferecer a todos esse dom da esperança.

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