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P. Duarte da Cunha
A Vingança Cristã
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Recentemente foi publicado o relatório de 2011 do Observatório da Descriminação e Intolerância contra os cristãos na Europa. Um pouco por toda a parte foram saindo notícias que fazem notar o aumento de casos onde cristãos, por causa da sua fé, são descriminados e vêem alguns direitos violados, ou são objecto de troça e de ódio. Lendo o relatório e conhecendo como o Observatório tem trabalhado sei que estes casos, que já são muitos, ainda só representam uma pequena parte do que se passa realmente na Europa. Se houvesse quem fizesse chegar ao Observatório notícias do que se passa em cada país, de certeza que haveria muito mais a contar. Além deste relatório, têm vindo a público vários estudos que dizem que no mundo, por motivos religiosos, continua a haver dezenas de milhões de pessoas perseguidas ou descriminadas e que os cristãos são de longe o maior grupo.

É certo que na Europa as leis, em geral, defendem a liberdade religiosa e não permitem a descriminação por causa da fé. Mas não vale a pena fingir que não sabemos que há quem queria apagar os sinais cristãos da sociedade e que mesmo onde a liberdade religiosa é garantida pela lei, quando se trata de discutir alguns valores morais e sociais, se os cristãos dizem o que verdadeiramente acham são escorraçados, troçados e mesmo impedidos de falar. Pensemos nos chamados princípios não negociáveis, como a dignidade da vida humana desde a concepção, ou a família como realidade fundada no casamento entre um homem e uma mulher, ou a liberdade dos pais de educar os seus filhos como acham melhor. Percebemos que o que os cristãos, e de modo particular os católicos, dizem não é geralmente aceite. Um político que queira ter sucesso parece que deve esconder muitas vezes estas convicções. Um empregado de uma empresa, uma assistente social, um médico, um advogado, ou qualquer outra pessoa que na sua profissão possa ter de fazer escolhas de ordem ética em geral, ou que durante a pausa para o café discuta com os colegas estes temas, vê-se rodeada por um ambiente que não tolera o que a fé cristã ensina. Dizia-me há pouco um jovem, meio envergonhado, que por medo de represálias quando em Janeiro foi à Terra Santa em peregrinação, porque ainda está à experiência e tem medo de perder o emprego, disse no seu trabalho que ia de férias a Israel! De facto, a Cruz de Jesus continua no seu corpo que é a Igreja.

Como responder a tudo isto? Como vingar estes que nos desprezam ou perseguem? Com a vingança cristã. É isso que a Páscoa torna evidente. Como dizia São Paulo: Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer, se tiver sede, dá-lhe de beber. Agindo desta forma estarás a acumular brasas sobre a sua cabeça (Rom 12, 20). Pagar o mal com o bem! Eis o segredo. Rezar pelos que nos perseguem, amar os inimigos (Mt 5, 44). Não querer o mal dos que defendem o aborto, dos que promovem a promiscuidade, dos que são corruptos, dos que atacam a Igreja e ofendem Jesus e Nossa Senhora. Antes, querer o bem de todos. Porque querer o bem deles é querer que descubram a beleza do Rosto de Cristo, é desejar que se convertam e se salvem. Não é concordar, não é ceder, nem sequer é fingir que nada de mal se passa ou adoptar uma atitude relativista. Aliás é importantíssimo estar consciente do que se passa, mas, depois, no combate usamos outras armas. As nossas armas são a nossa fé e o amor sóbrio e inteligente que sabe chamar mal ao mal, mas que não desiste do pecador. Este amor passa por fazermos também um exame de consciência, porque muitas vezes os que desprezam ou atacam os cristãos fazem-no por não ver nos cristãos aquela alegria e coerência que seria de esperar. Mas o facto de sermos pecadores não nos dispensa de reconhecer o mal e de desejar a conversão dos outros. Estamos todos num caminho, nós e eles. Querer a conversão do outro passa pela nossa própria conversão, e descobrir melhor Jesus Cristo na nossa vida faz-nos querer anunciar a vida nova até aos que nos perseguem, odeiam, ou nos fazem mal inconscientemente.

Quando era novo participei em campos de férias onde cantávamos o Hino da Vingança. Nele se mostrava o quão diferente é o cristianismo da mentalidade dominante e, por isso, dizíamos: E se até a flor perfuma a mão que a esmaga! Pensávamos também nas uvas que espezinhadas se vingam dando o vinho, ou no grão de trigo que enterrado, por "vingança" faz gerar nova vida. Sim, Jesus vingou-se do centurião. E foi por isso que este reconheceu que Jesus era o Filho de Deus. Precisamos de estar unidos a Jesus para respondermos como Ele que pedia ao Pai que perdoasse os que O crucificavam. Não esqueçamos, porém que não nos basta o Seu exemplo, precisamos da Sua graça. Não nos basta a sua mensagem, precisamos do Espírito Santo.

É impressionante ver como na Igreja há tanta gente que unida a Jesus não baixa os braços, e não desce da cruz. Por isso, vinga-se enchendo de bem e de beleza um mundo que continua a teimar querer ver-se livre dos cristãos. A Páscoa continua a chamar todos os homens a descobrirem que há uma maneira de viver diferente, uma vida nova, uma vida plena. Aos cristãos, cuja principal missão é acolher e testemunhar esta vida nova, cabe a tarefa de viverem sem medo a fé, e de amarem mesmo os que não os suportam. Isto vale na vida a todos os níveis, desde a família ao trabalho, desde as relações dentro da Igreja até às relações na sociedade. O amor cristão, que não é um qualquer sentimentalismo, mas uma decisão consciente de pegar na cruz e seguir Jesus, dará a vitória.