Missão |
Irmã Salvação, Franciscana Missionária de Maria
Cem anos de uma vida ao serviço da Missão
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Fez 100 anos de vida e 80 de Profissão Religiosa. Sofreu os efeitos trágicos das duas Grandes Guerras Mundiais: a Primeira no Fundão e a Segunda em Macau. A Irmã Salvação fez um Curso de Bordados na Suíça, trabalhou com crianças em Lisboa e está na Madeira desde 1960.

 

Na ilha da Madeira encontrou uma população paupérrima a quem se dedicou de alma e coração. A celebração do seu Centenário, presidida por D. António Carrilho, Bispo do Funchal, foi um Hino de Acção de Graças a Deus pela Missão da Irmã Salvação e mostrou quanto ela é querida nesta ‘Pérola do Atlântico’.

Na manhã de Páscoa, depois da Eucaristia, em que participou na linha da frente, a Irmã conversou comigo duas horas e ajudou-me a reconstituir uma longa vida, passada entre o Fundão, Barcelos, Porto, Suíça, Macau, Lisboa e Madeira.

 

Do Fundão às FMM

Nasceu no Fundão em tempo de muita pobreza no interior do país. O pai, artista em pedra mármore, foi trabalhar para Espanha onde teve um acidente e ficou mal. Morreu quando ela tinha 5 anos. Com 5 filhos, a mãe, também ela doente, lutou muito. Eram tempos duros de guerra e pós guerra e a Irmã recorda as longas filas para comprar açúcar ou leite.

Entrou nas Franciscanas Missionárias de Maria aos 20 anos e nunca mais viu a mãe que faleceu durante o Noviciado, realizado em Arcozelo, Barcelos.

Foi abrir a Classe Infantil no Hospital Maria Pia, no Porto. Depois, rumou à Suíça fazer um Curso de Bordados para ser directora de um Atelier em Macau.

 

Macau, 2ª Grande Guerra

A viagem para o Oriente foi atribulada por ter acontecido durante a 2ª Grande Guerra. Teve de parar a meio da viagem. Como Portugal ficou neutro, Macau também se tornou espaço de refúgio para os países vizinhos. A Irmã Salvação trabalhou num Infantário com crianças portuguesas, inglesas e chinesas. Recorda, com dor, os muitos refugiados que apoiava, mas que viu morrer por causa da fome. Lembra-se de que batizou alguns. Sintetiza a situação: “Havia muita miséria, muita fome, muita morte. Vinham revoltados”. Também para as Irmãs, a comida era racionada.

 

Com crianças, em Lisboa

Ficou doente do estômago e teve de regressar à Europa. O médico só lhe dava um mês de vida, “mas os doutores também se enganam!”. Foi colocada em Lisboa, no Internato e semi-Internato da Assistência Infantil da Freguesia de Santa Isabel, na Rua do Patrocínio, junto à Estrela, onde continuou a trabalhar com crianças. Ontem como hoje, esta instituição junta crianças que vêm de famílias pobres com outras originárias de famílias com posses.

 

Missão na Madeira

Já recuperada, lançaram-lhe um novo desafio: a Madeira. Foi parar ao Convento de Santa Clara para trabalhar no Jardim Infantil. Apanhou um susto: “A ilha era paupérrima, não percebia nada do que diziam, tal era o sotaque. No primeiro dia, não conseguia entender as crianças”. Tudo se foi resolvendo com o andar dos tempos. Mas Lisboa ficava muito longe, passava-se mal. A Irmã lembra: “As Irmãs iam pedir aos barcos vindos de Inglaterra que nos dessem a comida de sobra para alimentarmos as muitas crianças de Santa Clara”. O lanche era sempre pão cozido no Convento.

A paróquia de São Gonçalo acolheu-a nos anos de pastoral directa mais fecunda da sua vida (1974-1991). Fazia um pouco de tudo, desde a Catequese à visita aos doentes para lhes levar consolo e a Comunhão. De lá, foi até à Comunidade de S. Jorge, onde continuou a dedicar-se à Pastoral, até que as forças começaram a não ser muitas e, com 96 anos, voltou a Santa Clara onde reside.

 

Cem anos…

A festa do Centenário foi uma surpresa. Vieram as Irmãs das outras Comunidades, vieram alguns Padres, veio a Irmã Provincial e, na hora da Missa, a Irmã Salvação ficou ainda mais feliz: “Não contava com o Senhor D. António Carrilho nem com tanta gente das paróquias por onde passei”. No momento de acção de graças, não se fez rogada a pegar no microfone e desfazer-se em gratidão.

A Irmã Lurdes Farinha, Provincial, apresentou um breve ‘curriculum vitae’, muito resumido mesmo, pois cem anos de vida e oitenta de Missão FMM é muito tempo para se traduzirem em algumas dezenas de linhas.

D. António Carrilho, na homilia da Eucaristia, disse que o testemunho da Irmã Salvação fala mais alto que todas as palavras. Terminou fazendo um pedido: ‘Irmã, continue a rezar por nós!’.

 

 

PERFIL

 

1911 – Nascimento no Fundão, Diocese da Guarda

1931 – Entrada nas Franciscanas Missionárias de Maria

1934 – Primeira Profissão Religiosa, em Arcozelo, Barcelos

1939 – Missão em Macau

1940 – Profissão Perpétua, em Macau

1951 – Trabalho com Crianças em Lisboa, Rua do Patrocínio

1960 – Início da Missão na Madeira

2007 – Recolhimento no Convento de S. Clara

2011 – Celebração do Centenário, a 31 de Dezembro

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