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Síria: o exemplo do padre Paolo Dall'Oglio
Combater a pólvora com jejum e oração
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Quando o caos está instalado, no meio do sofrimento e da morte, que se pode fazer? Para o jesuíta Paolo Dall’Oglio, a resposta é muito simples: jejum e oração. Sem medo da morte, quando todos fogem das balas e do horror, ele regressa. E só tem isso para oferecer.

 

Síria. Cidade de Qusayr, sul de Homs. A noite cai sobre as ruas e as casas. Toda a cidade está envolvida num silêncio que se sente frágil, precário. Mesmo quando não se escuta quase nada, qualquer som metálico vindo das ruas assemelha-se logo a rajadas de metralhadoras, qualquer carro que passa na estrada largando um ruído de escape mais forte traz logo à memória o cheiro da pólvora das bombas que deflagram. Não há ninguém em Qusayr que não esteja inquieto.

 

A fuga ao horror

Ainda há dias o mundo ficou horrorizado com os contornos da notícia de mais uma matança em Homs, que terá vitimado mais de uma centena de civis, muitos deles crianças, mulheres e idosos. Neste palco de horror, são cada vez mais as populações que fogem, famílias inteiras que partem, largando tudo, à procura de alguma segurança, pensando apenas na própria sobrevivência. É um movimento legítimo, que se compreende. Muitas destas famílias estão a engrossar o número dos mais de 230 mil deslocados que, desde Março do ano passado, renunciaram às suas casas, à comodidade dos seus lares, por causa da violência desenfreada que tomou conta da Síria e que já causou a morte a mais de uma dezena de milhar de pessoas.

 

O padre teimoso

Mas na cidade de Qusayr, como, de alguma forma, em toda a Síria, há quem não desista de procurar a paz no meio dos escombros. Há quem tenha a coragem de fazer o caminho inverso de todos os refugiados. Um padre, o jesuíta Paolo Dall'Oglio, fez isso mesmo. Quando todos partiam, ele chegou. Desde há alguns dias que Dall’Oglio vive em casa de uma família católica de Qusayr. Os tiros das metralhadoras que continuam a assustar pássaros e pessoas não foram suficientes para que este padre teimoso desse ouvidos a todos os que apelidaram de loucura a sua iniciativa. Que está ele a fazer? Um retiro, uma experiência prolongada de oração e jejum pela paz em toda a Síria. Como ele próprio já disse, este retiro procura ser “um sinal contracorrente” de um cristão que assume viver a sua fé contrariando todas as violências. Como se fosse necessário explicar que a religião não é, nem pode ser, um caminho de morte, de sangue, de violência.

 

Gesto solidário

É também um gesto solitário. Este jesuíta decidiu ficar em Qusayr durante uns dias. Seja qual for a duração da sua estadia, irá tentar viver os exercícios espirituais propostos por Santo Inácio de Loyola. "Escolhi Qusayr porque, com a minha presença, quero tentar sanar a divisão que se verificou na cidade. Ouvi a súplica de algumas famílias cristãs que viram os próprios parentes sequestrados e gostaria de fazer, com a oração e o diálogo, um caminho de reconciliação", diz Paolo Dall'Oglio, citado pela agência Fides. "A minha oração e a minha presença quer ser também um sinal de esperança, para que essa primavera síria possa florescer, rumo a um futuro de unidade e de diálogo marcado pelo pluralismo", acrescentou o padre. Num país onde as religiões se olham desconfiadas, este gesto simples pode ser sinónimo de reconciliação. Para o jesuíta, a sua resposta é muito simples: sem medo da violência, quando todos fogem das balas e do horror, ele regressa para oferecer jejum e oração que só a fé pode explicar.


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