Lisboa |
Corpo de Deus
O silêncio de Deus que ecoa pelas ruas da cidade
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A cidade de Lisboa viu sair à rua, no passado dia 7 de Junho, a tradicional procissão do Corpo de Deus. Impressionou o silêncio e o ambiente de oração vivido pelos milhares de fiéis que se prostravam à passagem do Santíssimo Sacramento.

 

Nas ruas da Baixa de Lisboa aglomeram-se, em grupos, milhares de pessoas. Ainda a procissão não saiu à rua, e já nos diz quem chega junto à Sé de Lisboa: “As ruas estão cheias de gente!”. Vai sair à rua, mais uma vez, a Procissão do Corpo de Deus, aquela que é considerada a mais antiga e participada procissão da cidade de Lisboa.

À frente, a guarda montada a cavalo, compõe a charanga que abre o cortejo da Procissão do Corpo de Deus. Jovens com pétalas de flores, bandeiras, pendões, ordens terceiras, ministros da comunhão, irmandades da cidade Lisboa e diversas ordens militares e religiosas vão vestindo de um colorido diverso esta procissão que, segundo o Cardeal-Patriarca, D. José Policarpo, mostra que “o Senhor está connosco!”. “A nossa cidade tomará, hoje, a forma de um povo que adora, e rejubilará com esta certeza de que o Senhor está connosco e continua no meio de nós, vivo e real”, sublinhava na homilia da Eucaristia, a que presidiu na Sé Patriarcal na manhã do passado dia 7 de Junho.

 

Multidão em ambiente de oração

À tarde, no caminho da procissão, à passagem do pálio onde ia a custódia com o Santíssimo Sacramento levada em mãos pelo Cardeal-Patriarca, os transeuntes vindos de propósito, ou não, ajoelhavam em sinal de respeito e adoração. Nas colunas de som espalhadas pelas ruas, os cânticos, meditações e orações que se ouviam ajudavam a manter o ambiente propício ao momento. Reinava o silêncio e a tranquilidade. “Numa multidão daquelas, impressiona muito o silêncio que se faz”, comenta o cónego Luís Alberto Carvalho. “É sinal do respeito com que as pessoas estão. Percebemos que há pessoas que vão a passar e 'tropeçam' com a procissão. Mas são, como que, contagiadas pelo ambiente daquelas pessoas que ali estão. Não nos compete fazer juízo da qualidade da fé de quem está, mas o que é verdade é que ressalta um ambiente de fé e de oração que é impressionante!”, afirma.

Desde há séculos que é assim. Os relatos históricos contam que Filipe I, numa carta às filhas, compara a Procissão do Corpo de Deus de Lisboa com as que se realizavam por todo o reino, reconhecendo ser a de Lisboa muito mais concorrida e solene, ainda que, observa, «tenha visto pouco, por ir num dos extremos e esta ser tão grande». Alguns séculos mais tarde, a sensação de grandeza pela multidão ainda está patente naqueles que participam, mesmo os que são responsáveis pela organização. “Se eu não soubesse que ia à frente uma charanga montada a cavalo, nunca teria essa percepção, dada a extensão da procissão”, refere o cónego Luís Alberto Carvalho, pároco de Nossa Senhora de Fátima e vigário da Vigararia IV da cidade de Lisboa. Enquanto coordenador dos vigários da cidade Lisboa, o cónego Luís Alberto assumiu, este ano, a coordenação da comissão que organiza a Procissão do Corpo de Deus na cidade, e em declarações ao Jornal VOZ DA VERDADE, a sua primeira impressão é, precisamente, a de grande afluência. “Creio que a procissão, este ano, teve ainda mais expressão do que o ano passado”, salienta, observando que “impressiona muito o número de pessoas que a procissão congrega”.

Se noutras situações de aglomerados ou de grandes multidões a tendência é a de confusão, o ambiente que se vivia nas ruas da Baixa de Lisboa, à passagem do Santíssimo Sacramento, era diferente. “Não é a multidão pela multidão! Impressiona o ambiente de oração que ressalta daquele momento”.

 

Procissão é sinal de evangelização

Noutras épocas a participação na procissão era feita por classes profissionais e por estados ou estatutos religiosos. A procissão incorporava as irmandades (moleiros, hortelãos, albardeiros, boticários, alfaiates, carpinteiros, confeiteiros, tanoeiros, calafates, etc), e depois, então, vinham as delegações das diversas Ordens Religiosas de Lisboa e, só final do cortejo, o pálio ou baldaquino, em cujas varas pegavam os mais altos dignitários da Corte e da Câmara. Hoje em dia, pode ter mudado a composição humana desta procissão mas a manifestação de fé continua a ser grande. “É uma grande afirmação anual de fé na cidade de Lisboa, por parte de nós, cristãos. A procissão vale por si mesma, pelas pessoas que lá estão, pela vivência e expressão de fé de cada um, mas vale, também, como um sinal, um testemunho”, salienta o cónego Luís Alberto. “Quem não tem fé e vê todas aquelas pessoas, acho que é incapaz de não respeitar aquela manifestação. Pode ser interpelante e, em certo sentido, um sinal de evangelização”.

 

Presença de Cristo no meio dos homens

A Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, vulgarmente conhecida por Corpo de Deus, celebra-se, normalmente, 60 dias depois da Páscoa, na quinta-feira a seguir ao primeiro Domingo depois do Pentecostes. É uma festa instituída no século XIII, pelo Papa Urbano IV, pela importância da presença de Cristo no meio dos homens através da Eucaristia. “A Eucaristia foi a resposta mais ousada, mais misteriosa e mais querida que o Senhor encontrou para dar cumprimento a uma das promessas mais consoladoras que deixou aos seus discípulos: «Eu estarei sempre convosco» ”, destacou o Cardeal-Patriarca de Lisboa na Eucaristia a que presidiu. “Esta é a promessa mais consoladora para nós, seus discípulos. Este seu desejo amoroso de estar sempre com a sua Igreja. Por isso, neste dia quase fora do ritmo litúrgico, do ano litúrgico, o povo de Deus reúne-se contemplando, agradecendo e tomando a sério esta concretização maravilhosa desse desejo do nosso Bom Pastor Jesus Cristo”, reforçou.

 

“O caminho espera-nos e Ele vem connosco”

A Procissão do Corpo de Deus na cidade de Lisboa tem tradição secular e foi interrompida, apenas, por ocasião da legislação de 1910 que proibia os dias santos da Igreja. Anos mais tarde, em 1973, o Cardeal-Patriarca D. António Ribeiro restaura a procissão, com a participação de todas as paróquias da cidade de Lisboa. Actualmente, são muitos os párocos que participam neste acto celebrativo da Igreja de Lisboa, mas segundo o cónego Luís Alberto, há, ainda, o objectivo de procurar incentivar a uma maior participação. “Nem sempre é fácil aos párocos da cidade participarem, mas é aí que vamos procurar incentivar um pouco mais, porque é um momento de afirmação da nossa fé, de vivência da fé e de proposta de desafios de fé que é de continuar”, salientou ao Jornal VOZ DA VERDADE, garantindo que no próximo ano, mesmo não havendo feriado, a procissão realiza-se no Domingo seguinte.

Para D. José Policarpo a Procissão do Corpo de Deus “é uma belíssima caminhada do Senhor pelas ruas da nossa cidade”. Um caminho de fé que apresenta como o caminho que a diocese vai percorrer no próximo ano, assinalado como o Ano da Fé, e que “só é possível fazer-se em conjunto”. “Hoje, nesta caminhada senti muito vivamente como é belo caminharmos em Igreja com Ele, e senti que o meu papel pessoal é levantá-l’O bem alto, proclamá-l’O, apresentá-l’O para que todos vós, povo de Deus, o possais sentir perto, ver e confiar. Vamos a isto! O caminho espera-nos e Ele vem connosco!”, convidou, em palavras finais no Largo da Sé.

texto por Nuno Rosário Fernandes; fotos por Arautos do Evangelho
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