Mundo |
Paquistão: o drama das mulheres vítimas da intolerância
Vidas encurraladas no preconceito
<<
1/
>>
Imagem

No Paquistão, a mulher é vítima de uma sociedade machista e intolerante que a reduz a mero objecto nas mãos dos homens, sejam eles pais, maridos, patrões… não importa. Na Diocese de Faisalabad, a Irmã Nazreen Daniels trava todos os dias uma batalha impossível: salvar as jovens raparigas vítimas de violação ou de violência doméstica. Nesta batalha, ela conta consigo e com todos os benfeitores da Fundação AIS.

 

Acabar com a vida antes mesmo de ela ter começado. É raro o dia em que a Irmã Nazreen Daniels não sucumba às próprias lágrimas perante mais uma história terrível de alguém abandonado, perdido no mundo. Esse alguém é, quase sempre, uma mulher. No Paquistão, nascer-se mulher é sinónimo de uma vida reprimida, servil, angustiada. A Irmã Nazreen nasceu no Paquistão, estudou e decidiu servir Deus servindo a Humanidade na congregação das Irmãs do Loreto. A sua missão é acolher e devolver à vida mulheres vítimas de maus-tratos, violações, desprezo.

 

A história de Kiden

É raro o dia em que, à casa das irmãs, não chega alguém com uma história parecida com a de Kiden, por exemplo. Kiden tem apenas 13 anos. Nascida numa família pobre, não estudou. Cedo, muito cedo, começou a trabalhar, mesmo sendo apenas criança. Como não sabia fazer mais nada, tornou-se empregada doméstica em famílias abastadas. Numa dessas casas, um dos filhos dos patrões violou-a repetidamente. Quando a Irmã Nazreen a encontrou, ela estava perdida. Não tinha mais ninguém a quem recorrer. Apavorada, manteve a notícia da gravidez escondida até não lhe ser possível mais encolher a barriga que crescia semana após semana, dia após dia. Foi ao quinto mês que os seus olhos húmidos de choro se cruzaram com o olhar enternecido da Irmã Nazreen Daniels. Pela primeira vez na vida ninguém lhe ralhou. Foi acolhida com amor, mas o seu sorriso durou pouco tempo. O bebé, um rapaz, morreu. O futuro de Kiden é apenas uma sombra, tal como o de todas as mulheres vítimas de violação no Paquistão. Está sozinha no mundo. Se não fosse a irmã, o que seria dela?

 

Crianças sem futuro

Outra história que a Irmã Nazreen não esquece é a da menina de apenas oito anos que também foi violada. Numa sociedade em que a virgindade ocupa um papel fulcral, esta criança está condenada ao pior dos destinos. Se, por acaso, for prometida em casamento, será muito certamente repudiada. “E como é que ela poderá provar que foi vítima de violação?”, pergunta, indignada, a irmã. No Paquistão, a palavra da mulher não vale nada, a não ser que alguém confirme o que diz. Mas não há testemunhas das violações. E assim, o mais certo é não sobrar qualquer réstia de felicidade para esta criança, que ainda mal nasceu e já está condenada a não ter qualquer futuro.

 

Mulheres marcadas

No Paquistão, as mulheres são culpadas. Culpadas quando são violadas, culpadas se não têm filhos, culpadas por serem vistas como seres inferiores. Todos os anos são assassinadas mais de mil mulheres no Paquistão em nome da “honra do matrimónio”.  Tudo serve para as marcar para todo o sempre. Muitas são deliberadamente mutiladas. Cortam-lhes o nariz, atiram-lhes ácido para o rosto… A regra, no Paquistão, é a mulher ser vítima de violência doméstica. As histórias são tantas e tão antigas que ninguém parece importar-se com o horror que tudo isto encerra. A ninguém, não. A Irmã Nazreen está empenhada, tal como toda a sua diocese, em fazer marcha atrás nesta nódoa civilizacional. Como explica à Fundação AIS o Bispo Joseph Coutts, de Faisalabad, “os extremistas islâmicos vêem a educação das mulheres como uma espinha encravada”. No noroeste do país, já foram cometidos dezenas de atentados contra escolas femininas para impedir que as mulheres aprendam, descubram que têm direitos. A começar pelo direito à própria dignidade.

 

Pequenos milagres

No Paquistão, na Diocese de Faisalabad, a Irmã Nazreen Daniels não tem mãos a medir. É raro o dia em que não sucumbe às próprias lágrimas perante mais uma história terrível de alguém abandonado, perdido no mundo. Mas ela não desiste. A sua força interior é mais forte do que todas as contrariedades e ela sabe bem que pode contar todos os dias com a ajuda da Fundação AIS. São milhares de pessoas em Portugal, e no mundo inteiro, que rezam e que contribuem para que pessoas especiais como a Irmã Nazreen possam fazer todos os dias um pequeno milagre, resgatando alguém ao sofrimento, à indiferença. Fazendo com que alguém sobreviva à intolerância. Tal como aconteceu com a jovem Kiden, de 13 anos. É por isso que é tão importante ser benfeitor da Fundação AIS.

 

Saiba mais em www.fundacao-ais.pt

Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
A OPINIÃO DE
Guilherme d'Oliveira Martins
Quando Jean Lacroix fala da força e das fraquezas da família alerta-nos para a necessidade de não considerar...
ver [+]

Tony Neves
É um título para encher os olhos e provocar apetite de leitura! Mas é verdade. Depois de ver do ar parte do Congo verde, aterrei em Brazzaville.
ver [+]

Tony Neves
O Gabão acolheu-me de braços e coração abertos, numa visita que foi estreia absoluta neste país da África central.
ver [+]

Pedro Vaz Patto
Impressiona como foi festejada a aprovação, por larga e transversal maioria de deputados e senadores,...
ver [+]

Visite a página online
do Patriarcado de Lisboa
EDIÇÕES ANTERIORES