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Guilherme d’Oliveira Martins
Um exemplo de cuidado
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A morte inesperada de D. Albino Mamede Cleto é uma perda significativa e irreparável para a Igreja portuguesa. A sua experiência e o seu exemplo são assinaláveis e merecem a nossa sentida homenagem. Era um homem de serviço, de horizontes abertos e fiel ao espírito do Concílio Vaticano II. No exercício de funções episcopais teve um papel assinalável. A sua inteligência, humanismo e cultura ficam na memória de todos! Recordo-o desde os anos sessenta aqui em Lisboa, quando era pároco na Lapa (muito atento à pastoral da juventude) e há dias tive dele a disponibilidade para partilhar no Centro de Reflexão Cristã a sua reflexão e a sua experiência! Disse-me que depois de uma fase mais atrapalhada dos seus compromissos se disporia a vir debater connosco o tema: “Que fizeste de teu irmão?”. Assim ficou combinado. Mas os desígnios de Deus não permitem termos a sua presença física. Mas contaremos com o seu exemplo e o seu ensino. Sempre o encontrei disponível e entusiasta, com uma grande curiosidade intelectual e um sentido social de justiça e solidariedade. Para D. Albino a cultura era por definição solidária, e a verdade é que nos tempos de crise como os que atravessamos essa atitude é mais necessária do que nunca. Mais do que um luxo, a cultura é saber pôr a dignidade humana em primeiro lugar. Dizer que a pessoa é o centro da política, da economia e da sociedade. Como Bispo de Coimbra continuou, com irrepreensível coerência, o seu percurso de sempre. A sua discrição era proverbial e era um sinal, ao mesmo tempo, de coragem, de determinação e de diálogo. Há dias, lia um testemunho sobre Giorgio La Pira, o grande síndaco de Florença, e aí se dizia que o diálogo só funciona quando é biunívoco, quando significa dar e receber. Com D. Albino era exatamente assim que funcionava. Era direto, era generoso, era atento, era exigente. Estou a vê-lo, sempre com o olhar muito vivo, acompanhando tudo com a atenção necessária – e essa atenção era cuidado e era caridade, no sentido mais forte do termo. Não esquecemos essa disponibilidade de sempre!