DOMINGO XIII COMUM Ano B
"Quem tocou nas minhas vestes?"
Mc 5, 30
Quem poderá dizer se foi por termos sido modelados pelas mãos de Deus que sentimos a importância de tocar e de sermos tocados? Nascemos necessitados que nos toquem com carinho e cuidado e descobrimos com o tempo o toque da amizade e do amor. Até aprendemos a dizer que há coisas, experiências e pessoas que "nos tocam". No fundo, podíamos contar a nossa vida a partir daquilo que verdadeiramente "nos toca" e que, penetrando no íntimo do ser e do pensar, estrutura a pessoa única e bela que é cada um de nós. Para não falar de todos aqueles que tocamos, algumas vezes sem o cuidado devido, para quem somos mais importantes do que julgamos.
Viajar, descobrir outras paisagens, conhecer novas pessoas é romper as fronteiras do quotidiano e experimentar a riqueza de tocar e ser tocado. A beleza das terras da Nova Inglaterra e o acolhimento dos açorianos de Fall River encheram estes dias de descoberta do Novo Mundo, de imensas experiências. A fé vivida e testemunhada em experiência de comunidade, estruturada numa admirável partilha de responsabilidades, em que muitos se empenham para realizar uma festa extraordinária, foi algo que me tocou profundamente. E o trabalho dedicado daquele que é o seu pastor, incansável e inconformado no dinamismo que o evangelho reclama, na atenção aos sinais dos tempos (o "toque" do Vaticano II) foi orquestra mais me tocou.
Os Evangelhos estão repletos de narrações em que Jesus rompe as inúmeras barreiras religiosas que separavam as pessoas em puras e impuras, que proibiam e desaconselhavam o toque físico. Ele não se cansa de "tocar" com as mãos e com as palavras que saram feridas e até ressuscitam mortos. Com uma onda de ternura e bondade relembra que não somos espíritos descarnados, mortos-vivos ambulantes, e precisamos destes incontáveis "toques" que transmitem vida. O cristianismo vive e celebra-se em experiências sensoriais, eleva o corpo humano a lugar da manifestação do amor de Deus, e definha quando deixamos de "tocar" a vida e de levar a todos a maravilha de Deus nos "tocar". Ah, esterilidade de ideias e até de conceitos teológicos que não assumem a encarnação de Jesus em todas as consequências! Jesus toca porque se aproxima, sem defesas nem guarda-costas, toca porque ama, e toca para que o amor salve. Comunga a nossa existência e partilha connosco a sua essência. Dá a vida nova, pega-nos pela mão e levanta-nos. Não gasta tempo em discursos vazios ou condenações, em piedosas intenções ou a dizer mal da morte. Confirma a fé de quem lhe tocou nas vestes, e ressuscita a filha querida de Jairo.
Queremos tocar Jesus assim? Deixamos que Ele nos toque para nos ressuscitar destas mortes que atrofiam e matam devagarinho? Somos presença de Jesus a tocar o mundo? Neste domingo, nas ordenações de padres e diáconos em Lisboa, as mãos de bispos e padres vão tocar suavemente as cabeças dos que são ordenados. Pedindo que o Espírito Santo desça sobre eles. Que as suas mãos e as suas vidas saibam tocar como Jesus!
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