Lisboa |
Cónego Serrazina recordado em livro
O “criativo e irrequieto” padrinho padre
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Na família era carinhosamente tratado por ‘padrinho padre’. Falecido em 2010, o cónego Serrazina foi homenageado em livro pela ‘sua’ paróquia da Benedita. Uma obra que, segundo o Patriarca de Lisboa, retrata um homem atento a dimensões que “são hoje cruciais na vida da Igreja”.

  

Um homem criativo, sempre disponível para ajudar, conciliador no seio da Igreja e um exemplo vivo de paz e serenidade, são algumas das características apontadas por quem conheceu e lidou de perto com o cónego José Mendes Serrazina. Sacerdote da Diocese de Lisboa, nascido na Moita do Gavião, Benedita, no dia 2 de Julho de 1924, o padre Serrazina ou ‘o padrinho padre’ – forma carinhosa como o tratavam os seus familiares –, faleceu a 12 de Maio de 2010, durante a visita do Papa Bento XVI a Portugal.

O cónego Serrazina provém de uma comunidade cristã que se caracteriza por ter “um dinamismo cristão muito forte”, e desde muito novo que sentiu “de forma determinada” a sua vocação sacerdotal, dizem os seus biógrafos. Dos seus 60 anos de ordenação sacerdotal deixou memórias escritas e outras que se vão escrevendo, testemunhando uma vida de entrega e dedicação. “Era uma pessoa com conhecimentos muito além do comum”, afirma o familiar António Serrazina. Numa sessão de homenagem promovida pela paróquia da Benedita, o lugar que viu nascer José Serrazina, este familiar testemunha a fé e a entrega constante do ‘padrinho padre’. “O padrinho padre sempre fora conhecido no seio da família como homem de fé e de entrega aos outros”, e “reservava sempre no seu coração e na sua actividade um espaço para a família”. Mas a família do padre Serrazina ia para além dos laços de sangue e, na sua vastidão, manifestava-se o seu sentido de missão. “Estava sempre disponível para ajudar e interessado pela vida de todas as pessoas com quem se cruzava. Para o cónego Serrazina todos eram iguais. Nunca o ouvimos levantar a voz para evidenciar a sua autoridade. Era amigo de todos”, observa António Serrazina.

 

Missão

Durante o seu ministério, o cónego Serrazina foi assumindo diversas missões na Igreja. Algumas mais difíceis do que outras, mas em todas colocava o que tinha de melhor. “Desempenhou um grande papel de conciliador no seio da Igreja; interessou-se por todas as áreas da sociedade, estudando-as, detectando falhas e apresentando soluções. Debruçou-se sobre assuntos que ainda hoje são actuais: desemprego, família, defesa da vida, deficiente formação de empresários e políticos...”, destaca António Serrazina. “Embora tenha convivido com o padrinho padre mais de 60 anos ainda não o conhecia, porque o padre Serrazina era muito mais do que aquele homem que nós conhecemos”, garante.

 

O formador

Há mais de 50 anos, o jovem seminarista José da Cruz Policarpo, natural do Pego, Alvorninha, lugar bem próximo da Benedita, também conheceu e conviveu, de perto, com o padre José Serrazina. “O cónego Serrazina ordenou-se em 1950. Eu tinha passado para o segundo ano do seminário. Tive-o como prefeito no Seminário de Santarém, onde ele me escolheu para colaborar com ele na prefeitura São João de Brito, como monitor. Os monitores eram os alunos mais velhos que punham ordem na rapaziada e ajudavam o prefeito. Foi uma experiência muito interessante”, conta, hoje, o Cardeal-Patriarca de Lisboa. “Começámos assim a nossa relação e acabámos, comigo a Patriarca de Lisboa, o seu bispo. Nesta mudança, quase radical, testemunho que ele guardou sempre a mesma amizade e o respeito que as novas situações, de certo modo, sugeriam. Tratou-me sempre por ‘tu’, mas sempre com um respeito muito grande”, refere D. José Policarpo.

No intervalo dos anos, a missão do padre José Serrazina ficou marcada por diversas intervenções na Igreja e na sociedade portuguesa. D. José Policarpo recorda, de modo particular, a sua passagem pelo Seminário dos Olivais. “Em 1968, com a grande crise do Seminário dos Olivais, de 180 seminaristas, o seminário passa a ter apenas 20 e depois 11. Nesse contexto, o Cardeal Cerejeira pede ao padre Serrazina para ir para o seminário. Foram três anos difíceis da sua vida. Mas era o lugar onde era importante o discernimento do futuro”, salienta. “Depois, mais tarde, assumimos os dois sozinhos a responsabilidade”, assinala destacando que “o padre Serrazina fez aquela missão com dedicação às pessoas e com amor à Igreja”.

 

Homem irrequieto

A sua criatividade e o olhar pastoral sobre o futuro levaram o cónego Serrazina a deixar determinadas marcas no seu ministério, apontando para realidades que ainda hoje são actuais. “Era um criativo, era um irrequieto!”, refere D. José Policarpo. “Sempre que via um problema, não estava quieto e avançava! Era um homem cheio de iniciativas. Ele criava soluções pastorais em todos os sectores por onde andou, com a excepção de alguns. Mas criava, inventava caminhos. Não se limitava em repetir soluções já encontradas”.

A missão do padre José Serrazina destacou-se, segundo refere o Patriarca de Lisboa, na acção junto do laicado, na Acção Católica, na família e na pastoral social. Dimensões que “são hoje cruciais na vida da Igreja”, garante. “Por exemplo, no caso da família ele fundou as Equipas de Casais de Santa Maria. Nessa altura eu era seminarista e questionava-me sobre o porquê de fundar uma coisa nova quando já existiam as Equipas de Casais de Nossa Senhora. Não lhe perguntei! Mas um dia, ele convidou-me e fomos a uma reunião de uma equipa de casais. Entrei no seu carro, e fui levado, num serão, do Seminário dos Olivais para os arredores de Évora. Com o passar dos anos fui percebendo que o padre Serrazina percebeu que era preciso pôr o assento na família, na comunidade familiar. Porque uma espiritualidade conjugal não pode ser só esponsal. Este é apenas um exemplo da sua criatividade”, conta.

 

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Benedita: livro homenageia filho da terra

Histórias como estas que aqui contamos e outros testemunhos sobre a vida do cónego Serrazina são narradas por diversas pessoas num livro apresentado no passado Domingo, 8 de Julho, na Benedita. Na sessão de homenagem que a paróquia da Benedita promoveu, o pároco, padre Armindo Reis, explicou que aquela paróquia “decidiu perpetuar a memória do cónego Serrazina, num livro, por ser natural da terra e por tudo o que fez por ela e pela beleza da sua vida ao serviço da Igreja”.

Neste livro, com a chancela da Editorial Cáritas, que assinala, assim, a reactivação de uma marca, estão registados testemunhos de quem conheceu, lidou, trabalhou e foi marcado por este sacerdote que ao longo da sua vida teve “uma variedade de missões”. A sua missão e “os escritos que deixou dispersos em muitos lugares” levaram a paróquia a organizar uma homenagem ao padre Serrazina, através de uma exposição que estava programada para o ano 2010. Mas, dois meses antes do evento, falecia o padre homenageado. “A exposição realizou-se, mas da constatação da enorme quantidade de escritos que deixou, surgiu a ideia de publicar este livro”, explicou o padre Armindo Reis.

A obra contém uma súmula biográfica, depoimentos da família, curriculum vitae e uma listagem de textos elaborados pelo padre Serrazina, alguns publicados e outros não, e “reúne cerca de 50 testemunhos de pessoas com vidas marcantes e experiências bastantes diversificadas”, refere Acácio Catarino, que orientou a recolha de depoimentos e a selecção dos escritos agora publicados.

No prefácio, assinado por D. José Policarpo, é lembrado que “o cónego Serrazina foi dos membros mais notáveis do presbitério de Lisboa na segunda metade do século XX”. Segundo o Cardeal-Patriarca de Lisboa, “a disponibilidade, é a principal qualidade de um sacerdote diocesano”. Para D. José Policarpo, a variedade de responsabilidades pastorais que foram atribuídas ao cónego Serrazina – prefeito e formador nos seminários de Santarém e Olivais, vice-reitor do Seminário dos Olivais, secretário-geral da Cúria Patriarcal e pároco – “mostram a sua total disponibilidade para aceitar as missões que lhe foram entregues pelo seu Bispo”.

 

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Cáritas Portuguesa retoma publicações

Com a publicação do livro ‘Cónego José M. Serrazina’, a Cáritas Portuguesa retoma a sua chancela, Editorial Cáritas. Presente nesta sessão de homenagem, o presidente da Cáritas Portuguesa, Eugénio da Fonseca, declarou ter sido a tarde do passado dia 8 de Julho, “o dia oficial do relançamento da Editorial Cáritas”, e revelou que no próximo trimestre vai reaparecer também a Revista Cáritas. “Vamos fazer reaparecer a ‘menina do olhos’ do cónego Serrazina, que tanto contributo deu à sociedade portuguesa e tão credível era”.

Segundo Eugénio da Fonseca, a publicação do livro de homenagem ao antigo assistente nacional da Cáritas Portuguesa “tem um significado importante” por ter sido o cónego Serrazina “o impulsionador e o grande animador desta editorial”.

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