É a única festa de cariz estritamente religioso que se realiza durante o Verão em Sintra. Há quem diga, também, que é a maior procissão desta zona! A Festa de Nossa Senhora da Praia, que decorreu na Praia das Maçãs, reuniu no passado Domingo, 26 de Agosto, milhares de pessoas que quiseram, desta forma, honrar Maria.
“É uma festa que não tem outra dimensão se não a do cariz religioso! É isto que me sensibiliza!”. O padre José António Rebelo da Silva está em Colares há seis anos e destaca ao Jornal VOZ DA VERDADE o sentido da Festa de Nossa Senhora da Praia, que esta paróquia da Vigararia de Sintra organiza no último Domingo de Agosto, em colaboração com a Irmandade de Nossa Senhora da Praia. “É muito interessante porque vamos em procissão pelas ruas, depois entramos na praia e grande parte das pessoas que lá estão naquele momento vêm acompanhar a procissão! No fundo, é um acolher Nossa Senhora, porque por de trás disto há uma grande devoção e uma grande fé à Mãe de Jesus. E assim, quando estamos à volta da Mãe de Jesus, obviamente que também chegamos a Jesus!”.
Além da padroeira das Maçãs, transportada por nadadores-salvadores num novo andor, em talha dourada do século XVIII, oferecido pela paróquia de Santa Isabel, em Lisboa, a procissão contou com mais oito andores, entre os quais o de Nossa Senhora dos Mares (da capela das Azenhas do Mar), Nossa Senhora do Carmo (padroeira dos surfistas da Praia das Maçãs) e São Marçal (padroeiro dos Bombeiros de Colares), acompanhados, a par da charanga da GNR, pelas bandas de Colares e do Mucifal. É, por isso, uma festa com características muito próprias. “Após um Tríduo de preparação, no dia da festa temos a Eucaristia, no adro da capelinha da Praia das Maçãs, e depois a procissão, que tem a particularidade de levar os andores até ao mar e em que depois têm de vir sete ondas! Ao mesmo tempo, passa também uma avioneta que lança flores sobre as imagens de Nossa Senhora”, conta o padre José António, salientando a forma como a procissão tem crescido nos últimos anos: “É uma festa que tem aumentado, de ano para ano, o número de participantes. Penso que terá um pouco a ver com as pessoas que vêm, gostam e vão passando a mensagem”.
O factor mar
A origem da devoção à Senhora da Praia remonta a Alfredo Keil, compositor de música, pintor, poeta, arqueólogo e coleccionador de arte português, conhecido por ser o autor da música do Hino Nacional. “Nos finais do século XIX, Alfredo Keil mandou construir, na Praia das Maçãs, uma capelinha e deu-lhe a invocação de Nossa Senhora da Villa Nova da Praia das Maçãs, baseando-se numa lenda de que teria sido encontrada uma imagem de Nossa Senhora junto às rochas desta praia”, refere ao Jornal VOZ DA VERDADE o vice-juiz da Irmandade de Nossa Senhora da Praia, Ricardo Hogan. “Nessa época foi então organizado um Círio, que partia de Colares, passava pela capela de São Lourenço das Azenhas do Mar e acabava na Praia das Maçãs com uma Missa no areal, numa festa que, dizem, chegou a ter cinco mil pessoas!”. Esta festa prolongou-se até aos anos 40, data em que terminou, vindo a ser restaurada quase meio século depois. “Quando a Praia das Maçãs cumpriu cem anos, em 1989, o pároco de Colares, padre Manuel Machado, juntamente com umas senhoras e a comissão de festas, decidiu reactivar a procissão. Com a ajuda da família Câmara Pereira, foi montada toda a festa, também com uma parte profana!”. No início do novo milénio houve um ano que não foi possível organizar a festa, mas no ano seguinte tudo foi preparado para a Eucaristia e, em 2003, para a Missa e a procissão. “Trata-se de uma procissão bonita, invulgar, que tem a componente do mar e que, de ano para ano, atrai cada vez mais gente, até porque as pessoas vão passando a palavra. Apesar da componente do mar, eu não tenho dúvidas de que as pessoas participam por devoção à Senhora da Praia! Além disso, sendo a única festa do concelho de Sintra que só tem uma componente religiosa, é talvez a que tem maior adesão popular!”, aponta Ricardo Hogan.
Realidade social de contrastes
Colares é uma freguesia de Sintra, com cerca de 7600 habitantes, que o pároco considera viver uma realidade de contrastes. “Em Colares temos gente, digamos, privilegiada, que vive bem, e temos também algumas pessoas mais idosas, com dificuldades económicas; mas a maioria da população é de classe média, que trabalha fora da paróquia”. Colares é também o local de fim-de-semana e de férias para muitos. “Há muitas pessoas que se consideram paroquianas de Colares, mas que vivem cá apenas aos fins-de-semana e em tempo de Verão. E muitas vezes são essas pessoas que dão um impulso à paróquia, embora haja também uma comunidade local que faz o seu caminho”, sublinha o padre José António Rebelo da Silva.
A paróquia de Nossa Senhora da Assunção de Colares tem uma realidade geográfica dispersa. Lugares de culto e comunidades são oito: Colares, Mucifal e Almoçageme – “os três grandes centros da paróquia, devido à maior densidade populacional” – e também Penedo, Ulgeira, Azóia, Praia das Maçãs e Azenhas do Mar. A auxiliar o padre José António, a paróquia conta com os diáconos permanentes Anastácio Costa Saldanha e Luís Morais Ladeira Pinto.
Em tempo de Verão, tal como acontece em diversas paróquias do litoral da diocese, em especial as que estão junto a praias, há um aumento no número de fiéis nas Eucaristias. “No Verão, temos mais missas na paróquia do que no resto do ano”, assegura o pároco, exemplificando: “Na Praia das Maçãs e nas Azenhas do Mar, que normalmente só têm Missa rotativa de 15 em 15 dias, entre Julho e Setembro temos celebrações eucarísticas todos os fins-de-semana”. Por outro lado, a Casa de Retiros de Santo Inácio, conhecido como Rodízio e que fica no espaço geográfico da paróquia, tem Missa diária no mês de Agosto, enquanto durante o ano só tem ao fim-de-semana.
Prioridade à família
Sacerdote há 15 anos, o padre José António está em Colares há seis anos. Desde que chegou a esta paróquia sintrense tem procurado assumir para a paróquia o programa diocesano. “Fazemos sempre o nosso programa pastoral em comunhão com a Diocese de Lisboa”. Para melhor responder aos desafios, a paróquia criou diversos departamentos. “O departamento da evangelização abrange a catequese, a formação dos agentes pastorais, o escutismo; o departamento de animação comunitária foi criado com o intuito de animar as festas e convívios da comunidade; o departamento da pastoral social engloba o centro social paroquial, com as suas várias valências, e também a FAC – Fraterna Ajuda Cristã, que apoia mais de 200 famílias carenciadas, através do Banco Alimentar e da generosidade dos paroquianos”, salienta o pároco, lembrando que a paróquia celebra este ano, no dia 21 de Outubro, os 50 anos do centro social e paroquial, numa comemoração onde estará presente D. Joaquim Mendes, Bispo Auxiliar de Lisboa.
Ao mesmo tempo, a aposta passa pela pastoral familiar, segundo refere o padre José António. “Como sou também assistente diocesano do movimento Casais de Santa Maria, tenho procurado criar novas equipas de casais na paróquia. Temos uma equipa de sete casais já formada e está outra em embrião”, aponta este sacerdote, de 44 anos.
Missão decisiva dos leigos
A formação bíblica e os grupos de reflexão para adultos são também desafios pastorais da paróquia de Colares. “As pessoas têm um pouco o estigma de que são adultas e por isso já não precisam de ir à catequese. Como tal, criámos estes grupos de aprofundamento da fé”, observa. Na catequese estão mais de 300 crianças, para cerca de 20 catequistas. A paróquia conta também com o Externato Paroquial de Colares, com as aulas do 1º Ciclo, os escuteiros, com cerca de 60 elementos e uma dezena de dirigentes, e o grupo de jovens, que envolve muita juventude que estuda em Lisboa e que só está na paróquia ao fim-de-semana. “Procuramos transmitir aos jovens uma formação para os valores da dimensão da fé, numa caminhada que pretende a integração na vida da paróquia”, assegura o pároco de Colares, apontando ainda para a importância do grupo de animação vocacional, que “todas as primeiras quintas-feiras do mês reúne em oração e reflecte sobre diversos assuntos, estando atento aos sinais de vocação que possam aparecer”. Este sacerdote sublinha, também, o grupo de animação espiritual da paróquia de Colares: “Todos os meses, numa associação das Azenhas do Mar que tem uma sala com um grande ecrã, vemos um filme de temática espiritual, que depois debatemos”. Para este novo ano pastoral, a aposta passa pela transmissão de filmes com temas de fé, “uma vez que vamos viver o Ano da Fé, convocado pelo Papa”.
O padre José António Rebelo da Silva destaca o espírito de missão que se vive nesta paróquia da Vigararia de Sintra. “O papel dos leigos em Colares é decisivo e determinante para a concretização da missão da paróquia! As pessoas assumiram a sua missão e a verdade é que temos vários grupos de voluntários, com gente de todas as idades, que são de uma generosidade e de uma entrega total e que fazem a diferença”, refere, satisfeito, o pároco de Colares.
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Agosto é sinónimo de festa, em Colares
Em Agosto, a paróquia de Colares tem três grandes festas. Logo no dia 10 decorre a Festa de São Lourenço das Azenhas do Mar. “É uma festa de grande tradição que há na paróquia, com a animação musical, a Eucaristia e a procissão com a bênção do mar que recorda a tradição de um grupo de pescadores que, estando desorientados, evocaram a intercessão de Nossa Senhora”, conta o pároco de Colares, padre José António Rebelo da Silva.
Por altura do 15 de Agosto, a paróquia de Nossa Senhora da Assunção celebra a festa da padroeira. “Este ano a festa decorreu de 14 a 19 e logo no primeiro dia à noite realizou-se a procissão dos Oragos, com os padroeiros de todas as comunidades que constituem a paróquia. Saímos da Várzea de Colares em direcção à igreja paroquial, pretendendo que a festa da padroeira Nossa Senhora da Assunção seja uma expressão do sentido de comunhão que deve existir entre todos. Esta comunhão pretende-se que seja manifestada entre todas as pessoas da paróquia e também com aqueles que estão connosco em tempo de férias e descanso, para que sintam que também fazem parte da paróquia. Este ano apostámos também em artistas da paróquia, como o organista Rui Paiva, o Salvador Seixas, que participou no programa da RTP ‘A Voz de Portugal’, Ana Stilwell, que irá lançar brevemente um CD e que o veio apresentar à comunidade, e no último dia tivemos a presença do Nuno da Câmara Pereira, que é também paroquiano”.
As festas de Agosto na paróquia de Colares, em Sintra, culminam no último Domingo do mês, com a Festa de Nossa Senhora da Praia. “Era uma festa que se realizava em Setembro, mas que antecipámos para que as pessoas que estão de férias ainda possam aproveitar”, salienta o pároco.
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Irmandade de Nossa Senhora da Praia
A Festa de Nossa Senhora da Praia é organizada pela Irmandade de Nossa Senhora da Praia, em estreita colaboração com a paróquia de Colares. Aprovada pelo Patriarcado de Lisboa em Maio de 2011, esta irmandade reúne actualmente 61 irmãos e brevemente irá contar com mais quatro pessoas que durante a festa deste ano manifestaram a intenção de entrar para a irmandade. “Infelizmente, não há muita adesão das pessoas da terra à Irmandade de Nossa Senhora da Praia, que é constituída praticamente apenas por veraneantes…”, lamenta o vice-juiz desta irmandade, Ricardo Hogan, sublinhando que, “todos os primeiros sábados do mês, a irmandade organiza, na capela da Praia das Maçãs, uma oração mariana, seguida de Missa”.
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