Lisboa |
Paróquia de Linda-a-Velha
Ser escola de confiança
<<
1/
>>
Imagem

Pela primeira vez, enquanto paróquia, Linda-a-Velha recebeu o ‘Círio Saloio’ de Nossa Senhora do Cabo Espichel. Um momento que o pároco deseja que contribua para congregar a comunidade paroquial.

 

Foi a primeira vez que a comunidade de Nossa Senhora do Cabo de Linda-a-Velha, constituída enquanto paróquia, recebeu a imagem peregrina do ‘Círio Saloio’ de Nossa Senhora do Cabo Espichel. Aconteceu no passado fim-de-semana, numa iniciativa que só acontece de 26 em 26 anos. “Na última visita da veneranda imagem, Linda-a-Velha era ainda apenas vicariato de Carnaxide”, refere ao Jornal VOZ DA VERDADE o actual pároco, padre José Luís Costa, sublinhando que o ‘Giro dos Saloios’ de Nossa Senhora do Cabo Espichel percorre 26 freguesias da área norte de Lisboa (Sintra, Cascais, Oeiras, Loures, Odivelas, Mafra, Lisboa - Benfica e Ajuda), onde permanece um ano. “Esta é uma festa de índole rural, em que os camponeses, os criadores de gado, as pessoas que vivem da terra se encontram para celebrar, em situação de pós-colheita, o facto do dom, por intercessão de Nossa Senhora”.

Linda-a-Velha recebeu o ‘Círio Saloio’ vindo da paróquia de Alcabideche. “Fomos buscar Nossa Senhora a Alcabideche, como diz a tradição. À falta de cavalos em Linda-a-Velha, contactámos a Associação de Motards de Oeiras, que organizou uma concentração de motards em Alcabideche e Nossa Senhora veio à ‘boleia’ das motas, pela Marginal. Organizámos também autocarros para os paroquianos irem a Alcabideche; outros foram nos seus ‘cavalos’, vulgo automóveis, e na chegada à paróquia tivemos então os cavalos, a charanga da GNR e a banda de sopro da Escola de Música paroquial. Após a procissão, já na igreja, foi celebrada a Eucaristia”, conta o padre José Luís, garantindo: “No meio deste ‘festival’, o sentido desta festa é a alegria! Não criando ‘um produto’ que traga satisfação, mas trabalhando com a gratuidade”.

No entender do pároco de Linda-a-Velha, as festas com a imagem peregrina do ‘Círio Saloio’ de Nossa Senhora do Cabo Espichel são um momento de agregação. “Esta não é uma festa da paróquia. Esta é uma festa da comunidade e o que é importante é congregar o mais possível os elementos da comunidade! Porque a festa tem claramente um carácter cultural de agregação e encontro”.

As festas com a imagem peregrina do ‘Círio Saloio’ integraram as habituais Festas em Honra de Nossa Senhora do Cabo que, anualmente, identificam a comunidade paroquial e civil de Linda-a-Velha. “A junta de freguesia faz a sua festa profana e a Igreja faz a festa religiosa. No fundo, as festas são um ponto de encontro dos próprios paroquianos, onde percebemos muito da cultura remanescente de uma certa espiritualidade de carácter popular: a procissão, a pregação, o arranjar o andor, o levar o pendão… não devemos olhar para isto como uma infantilização da fé, mas como uma expressão própria, cultural, do ser-se português!”, frisa o padre José Luís Costa.

 

Estabilidade

Linda-a-Velha é uma freguesia do concelho de Oeiras que, segundo os censos de 2011, tem 19.999 habitantes. “Julgo que somos um pouco mais… porque eu tenho o registo de moradas e existem mais de 11 mil caixas de correio, ou seja, são mais de 11 mil agregados familiares. Mesmo sem saber a tipologia de todas as famílias, há casos de apenas um filho, mas também há muitas situações de dois, três, quatro filhos”, observa o pároco, de 40 anos, sublinhando que a realidade social compreende gente estabilizada financeiramente. “Até esta crise, a população é, genericamente, estável em termos económicos e financeiros. Na maior parte das situações, é gente com a ‘vida feita’ e que coincide com uma classe média já a entrar em situação de reforma e, portanto, envelhecida. Socialmente, é também uma população com alguma formação”. O padre José Luís deixa, contudo, um lamento: “É uma comunidade que reflecte também muito da situação da não identidade, ou do anonimato, muito característico de algumas zonas dos arredores de Lisboa”.

A freguesia divide-se entre a zona de vivendas – “curiosamente, onde está situada a igreja…” – e o local dos bairros e prédios, “onde habitam pessoas que têm perdido capacidade económica”. Ao nível da imigração, destacam-se as comunidades brasileira, ucraniana, russa e búlgara. “Temos uma Comunidade Búlgara da Igreja Ortodoxa a residir em Linda-a-Velha, fruto de um protocolo com o Patriarcado de Lisboa, em que cedemos o espaço da capela de Nossa Senhora do Cabo a esta comunidade estrangeira. Tem sido uma realidade interessante e uma expressão de diferença eclesial e ecuménica também interessante, que a própria comunidade católica tem aproveitado. O bispo búlgaro, por exemplo, já visitou a comunidade paroquial por duas vezes e estimulou-nos a continuar este caminho”.

 

Conhecer as pessoas

A paróquia de Nossa Senhora do Cabo de Linda-a-Velha, na Vigararia de Oeiras, conta com três igrejas. A igreja de Nossa Senhora do Cabo “tem a particularidade de ter sido construída nos finais do século XVIII, a expensas de um sacerdote, por devoção à Senhora do Cabo Espichel, e é a gene desta paróquia”. Em 1996, é dedicada a igreja paroquial, para dar resposta ao “crescimento explosivo” da população. “‘Construída’ pelo padre Manuel Martins, a igreja paroquial responde a três grandes linhas: a necessidade celebrativa e evangelizadora, o complexo dirigido à acção social, com lar, e o apoio à infância e juventude com a construção da Escola de Música”. A terceira igreja foi a igreja de permeio entre estas duas. “Tivemos uma experiência muito suburbana, desde os anos 70 até aos anos 90, que foi recriar uma cave e rés-do-chão para dar resposta ao aumento da população”, aponta o actual pároco, referindo que chama a este templo igreja do Sagrado Coração de Jesus, “apesar de a comunidade ainda a tratar por igreja D. Pedro V, por estar situada nessa rua”.

Segundo este sacerdote, que antes de chegar a Linda-a-Velha trabalhou pastoralmente nas paróquias de Paço de Arcos, Caxias e Porto Salvo, o primeiro desafio quando chegou a esta paróquia em 2009 foi conhecer a comunidade. “O meu primeiro desafio foi perceber a comunidade. É muito importante olhar a realidade e olhá-la como o fruto da acção do Espírito Santo. Porque o pároco é chamado a rezar, a ver as pessoas que Deus lhe pôs à frente e saber o que fazer por elas e com elas”. Neste sentido, acrescenta o padre José Luís, “os dois primeiros anos foram dedicados a conhecer as pessoas, nos seus vários momentos, sejam de festa ou de crise”.

Ir ao encontro dos pais e das crianças tem sido também uma preocupação pastoral. “A Igreja tem de recriar respostas e ir ao encontro dos pais, não apenas pela componente religiosa. Porque claramente as pessoas ‘dão’ cada vez menos tempo à expressão religiosa. A não ser em situações muito concretas – de pessoas que por razões de vida descobrem a presença de Jesus de uma forma forte e centralizante –, o ‘normal’ do nosso crente não é esse: é aquele que cada vez menos tem tempo para estar na comunidade e, se calhar, só tem uma hora por semana”. Para o padre José Luís, “os pais, hoje, têm uma tremenda dificuldade em educar os filhos”. “Porque não educá-los na fé?”, questiona o pároco de Linda-a-Velha.

 

Catequese ‘dominical’

A catequese, “por estratégia da paróquia”, está ‘colada’ ao fim-de-semana, antes ou depois das celebrações eucarísticas. “Abdicámos da catequese semanal e ‘colámo-la’ ao fim-de-semana porque notávamos um abandono literal da prática dominical. Percebemos que os miúdos perderam, claramente, a linguagem ritual e que toda a celebração sacramental é para eles um ‘bloco’ incompreensivo”. Não escondendo que “tem sido um caminho duro, mesmo na própria relação com os pais”, o padre José Luís acredita que este novos horários farão as cerca de 400 crianças da catequese compreenderem a Eucaristia.

Na área da juventude, a paróquia aposta também no agrupamento de escuteiros, que tem por volta de 120 elementos. “Curiosamente, temos também bastantes dirigentes! São mais de trinta! Gente que conseguiu estabilizar a sua vida e que, com os filhos, participa no escutismo”.

A paróquia de Linda-a-Velha conta igualmente com um serviço paroquial de oração, intitulado ‘Oração das Horas’. “Todos os dias – durante a semana na capela da Senhora do Cabo, ao fim-de-semana na igreja paroquial – às 8 da manhã temos Laudes e às 8 da noite há oração de Vésperas. Criou-se um grupo muito ‘engraçado’, em que as pessoas se vão juntando diariamente para garantir que a oração acontece”.

O Renovamento Carismático, a LIAM – Liga Intensificadora da Acção Missionária, o Apostolado da Oração, as Equipas de Casais de Nossa Senhora, com seis equipas, ou o grupo de jovens, com uma espiritualidade muito ligada a Taizé, são outros movimentos presentes nesta paróquia dos arredores da cidade de Lisboa.

Como grupo de serviço de apoio aos necessitados, a paróquia de Linda-a-Velha tem a Conferência de São Vicente de Paulo, o grupo de visitadores de doentes e a ‘Arca de São Martinho’, de distribuição de roupa.

 

Encruzilhada? Confiança!

Em Setembro de 2010, o Jornal VOZ DA VERDADE dava a conhecer [pode ler a reportagem em www.alturl.com/cf3wi] o projecto ‘Encruzilhada’, que pretendia ajudar as pessoas a conseguir um emprego. Passados dois anos, nas palavras do pároco, o balanço é positivo mas precisa de renovação. “O projecto cresceu muito, demais, e vamos ter agora de o reorganizar para o tornar num serviço permanente e consistente. É muito curioso, porque quem toma conta do projecto tem criado emprego ou arranjado emprego. A ideia agora passaria por arranjar interlocutores, mantendo o cunho de ser uma realidade eclesial”.

Para o padre José Luís Costa, “a fé resulta sempre numa confiança com o próximo”. Neste sentido, “as comunidades paroquiais têm um potencial que é o de gerar momentos de confiança” com as pessoas. “Espero que o Ano da Fé seja um desafio para aprendermos a confiar em Deus, para depois confiarmos nos Homens. Há um desafio muito grande para este ano, que é o das paróquias serem escolas de confiança”.

 

________________


Escola de Música Nossa Senhora do Cabo e o ‘sonho’ da música sacra

A Escola de Música Nossa Senhora do Cabo é, actualmente, a segunda maior escola particular de música do país, recebendo crianças desde os 4, 5 anos até ao ensino superior. “Neste momento, matriculamos perto de 700 miúdos todos os anos, para ensino básico e médio de música”, salienta o pároco de Linda-a-Velha. A escola nasceu no seio da paróquia, nos anos 80, com um objectivo muito definido: “Ocupar os miúdos para que eles não andassem na rua”.

O desejo futuro passa por uma colaboração com a Escola Diocesana de Música Sacra. “A ideia é aproveitar algum potencial que temos na nossa escola, de qualidade, de certificação, de equipamentos, e podermos reconstruir um Curso de Música Sacra dirigido às comunidades paroquiais”, observa o pároco, padre José Luís Costa. 

 

________________


Uma creche com um projecto cristão

Neste novo ano, a paróquia de Linda-a-Velha ensaiou uma nova resposta social: a creche. “É um projecto que envolve alguns receios. Como tínhamos uma sub-ocupação das salas da catequese, em reunião com os paroquianos decidimos aproveitar este espaço e ‘reconstrui-lo’ para que, diariamente, pudéssemos receber cerca de 70 crianças: 42 na creche e 25 no pré-escolar”, refere o pároco. Na opinião do padre José Luís Costa, esta nova creche da paróquia de Linda-a-Velha distingue-se pelo projecto educativo. “Temos um projecto cristão na formação dos miúdos e, portanto, os educadores estão conscientes de que é esse o projecto!”. Por ser uma resposta social “que não tem qualquer tipo de apoios”, as mensalidades “têm de cobrir as despesas”.

A nova creche da paróquia de Nossa Senhora do Cabo tem permitido “a interacção entre os idosos do lar e as crianças” e a “renovação da estrutura da rede paroquial”.

texto por Diogo Paiva Brandão; fotos por Junta de Freguesia de Linda-a-Velha
A OPINIÃO DE
Guilherme d'Oliveira Martins
Quando Jean Lacroix fala da força e das fraquezas da família alerta-nos para a necessidade de não considerar...
ver [+]

Tony Neves
É um título para encher os olhos e provocar apetite de leitura! Mas é verdade. Depois de ver do ar parte do Congo verde, aterrei em Brazzaville.
ver [+]

Tony Neves
O Gabão acolheu-me de braços e coração abertos, numa visita que foi estreia absoluta neste país da África central.
ver [+]

Pedro Vaz Patto
Impressiona como foi festejada a aprovação, por larga e transversal maioria de deputados e senadores,...
ver [+]

Visite a página online
do Patriarcado de Lisboa
EDIÇÕES ANTERIORES