Domingo |
À procura da Palavra
Nada começa por cima

DOMINGO XXIV COMUM Ano B

"Renuncie a si mesmo,

tome a sua cruz e siga-Me."

Mc 8, 34

 

Pode não ser um dado universal mas é frequente descobrir que as grandes empresas nasceram e cresceram a partir de fundadores que vieram do nada. No meio de sacrifícios e valorizando o trabalho foram crescendo a pulso. Numa mesma semana dois grandes empresários portugueses contavam, em entrevistas, como a lembrança das origens marcou o estilo das suas empresas. Os altos quadros que contratam têm de passar pelos serviços mais básicos, têm de contactar com as pessoas e saber fazer o que fazem, saber sofrer como eles.  Se não ficam fechados em gabinetes. Soares dos Santos, um dos entrevistados, chega a utilizar a imagem para falar da lentidão de reforma da Igreja: "Porque é que a Cúria Romana é constituída por uns tipos que têm 80 anos, que não sabem nada da vida, que estão ali fechados?" (Público 2, 2.09.2012)

A empresa do evangelho estava na sua curva ascendente. As multidões cresciam à volta de Jesus. Dizia palavras cheias de vida que espalhavam esperança de uma vida melhor. Fazia milagres como as escrituras anunciavam. De tudo isto a uma aclamação nacional para enfrentar os poderes políticos e religiosos faltava pouco. Por isso os discípulos devem ter ficado hesitantes com aquela sondagem: quem se dizia que Ele era? Pedro assume responder em nome de todos: És o Messias! E talvez tenha pensado: vamos lá ver a estratégia para tomar o poder! Ou não, e simplesmente falou com o encanto de ver em Jesus esse mundo novo e feliz que Deus quer para todos. Mas o que deve ter baralhado o grupo foram as palavras seguintes de Jesus. A expectativa de sucesso mergulhou num abismo escuro. Sofrimento, morte, ressurreição? Que maneira de animar os discípulos para a etapa seguinte! Pedro irá tentar dizer a Jesus que não é assim que se triunfa neste mundo. Mas é preciso um longo caminho para compreender as coisas de Deus!

Revejo-me na mesma dificuldade de Pedro. Era tão bom ficar na primeira etapa de Jesus. Palavras admiráveis e milagres que entusiasmavam as multidões. Gerir o estatuto religioso adquirido sem a marca da cruz, sem ser preciso mesmo dar a vida! E quando isso significa conversão, ouvir o que outros pensam, abrir-se ao diálogo e à procura, reconhecer erros, acreditar na mudança, "dar o melhor", não perceberemos que se trata de Deus a chamar-nos? Terão os discípulos entendido que a escolha de Jesus recaiu neles porque vinham "de baixo"? Conheciam as dificuldades da vida de quem é pobre, sabiam o valor do trabalho e estavam disponíveis para amar como Jesus. Amar como quem serve, como quem se curva para lavar os pés, como quem se deixa conduzir pelo Espírito.

Onde é o "baixo" por onde se começa? É pela verdade. Do que somos e do que os outros são. De onde estamos e do que está à nossa volta. Essa verdade que se chama realidade e que tantas vezes não queremos ver nem ouvir. Este mundo que Deus ama, pois só com amor se pode transformar. Levantando o que está caído!

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