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Padre Delmar Barreiros
“Servir a Deus com alegria”
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É um sacerdote nascido nas beiras mas que cumpriu grande parte da sua missão pelo mundo, enquanto capelão da Marinha, e depois na Diocese de Lisboa. Ao celebrar 50 anos de sacerdócio, o padre Delmar Barreiros testemunha ao Jornal VOZ DA VERDADE a alegria que é servir Deus e a Igreja.

  

Delmar Barreiros era criança quando ficou marcado pelas palavras escritas pelo Evangelista São João, repetidas à sua frente, por sua mãe, junto ao presépio da igreja da sua terra-Natal, Guilheiro, no concelho de Trancoso, Diocese da Guarda. “‘O Verbo Divino encarnou e habitou entre nós', disse a minha mãe enquanto colocava a imagem do Menino Jesus no presépio. Eu digo: 'Oh mãe, está a falar com o Menino Jesus mas Ele não respondeu! Diz-me ela: ‘Mas respondeste tu, porque tu também és o Menino Jesus para mim!’”, relembra, quase 70 anos depois o padre Delmar Barreiros.

Estas memórias, que ainda hoje levam este sacerdote 'beirão' a comover-se, são a génese de uma história vocacional que começou cedo na procura da resposta à vontade de Deus. Neste ano de 2012, o padre Delmar celebra 50 anos de sacerdócio.

Embora naquele momento em que sua mãe pronuncia aquelas palavras bíblicas o pequeno Delmar não tivesse entendido o que poderiam significar, com a ajuda do seu pároco e de outros sacerdotes de 'fama' reconhecida, as respostas começam a aparecer. “Não tinha percebido muito bem aquelas palavras, mas depois de uma conversa do meu pároco com a minha mãe, o padre José Soares Carvalheira começou a conversar comigo. Passado algum tempo visita a minha terra o padre Cruz, que já tinha a fama de santo, para benzer a imagem de Nossa Senhora de Fátima. Numa conversa com ele, perguntou-me o nome, ao que me respondeu não conhecer nenhum santo chamado Delmar, a não ser, diz ele, que eu viesse a ser o primeiro santo chamado Delmar”, conta ao Jornal VOZ DA VERDADE o padre Delmar Barreiros.

Aos 10 anos entra no Seminário do Fundão, e quando chega o momento de receber o Sacramento do Crisma, coloca-se diante do jovem Delmar a possibilidade de mudar de nome. Discernindo com a ajuda do seu padrinho de Crisma, o então reitor do Seminário da Guarda, Delmar chega a uma conclusão: “Poderei ser eu o primeiro santo chamado Delmar!”.

Do Seminário do Fundão chega à Guarda, onde os testemunhos de vida sacerdotal que colhe acabam por ser uma referência para a sua vida. “Marcou-me, essencialmente, o testemunho de determinados padres. O carinho com que os seminaristas eram tratados. Eu era um 'jovenzinho' mas era muito observador e verificava aqueles que mais incutiam um testemunho de Cristo”, observa o padre Delmar.

 

Lufada de ar fresco

Quando chega o momento de dar o 'sim' decisivo na sua ordenação sacerdotal (19 de Agosto de 1962), a Igreja estava às portas do Concílio Vaticano II, uma época que o padre Delmar afirma ter vivido com grande alegria. “Era o sentimento de uma lufada de ar fresco. A fragrância de uma Igreja rejuvenescida”, sublinha. “Nesse contexto lembrei-me de propor ao Bispo da Guarda que a ordenação fosse no meu concelho e portanto na cidade de Trancoso. Foi um momento que marcou todo o concelho, porque era raro que as ordenações tivessem uma visibilidade grande junto dos fiéis”, refere.

Já padre, o Concílio Vaticano II vai marcar o início do seu ministério destacando a alegria como uma dimensão que, ainda hoje, serve de mote para a sua vida. “Vivi a euforia de ver que o Espírito de Deus, o Espírito Santo sopra na Igreja, está presente. E por isso mesmo, na alegria de começar o apostolado e ver que a Igreja é um testemunho de Cristo, de Deus presente no mundo, ver aquela lufada de ar fresco para mais nos entusiasmar e impulsionar a ser presença e testemunho de Cristo, foi uma revoada de boa disposição, uma explosão de alegria. Na minha vida procurei sempre anunciar a Palavra de Deus com alegria, e procuro sobrepor qualquer tristeza pela alegria de servir a Igreja e anunciar o Evangelho”, comenta ao Jornal VOZ DA VERDADE.

 

Construindo a Igreja

Após a ordenação, a sua primeira nomeação leva-o até ao Arciprestado do Sabugal, na Diocese da Guarda, onde vai descobrir a sua faceta de 'construtor' de igrejas. “Tinha 24 anos e fui pároco de Bismula, Badamalos e Aldeia da Dona. Lá estive quatro anos e aí construímos a igreja com a ajuda de toda a gente. Foi preciso deitar a igreja velha abaixo porque ameaçava ruínas, e passados três anos a igreja nova foi inaugurada”, conta.

Esta nova 'vocação' foi-lhe assinalada por outros membros da Igreja e viria a tornar-se uma missão ao longo dos seus 50 anos de sacerdócio. “Em determinado momento disse-me monsenhor Alves Brás, que fundou o Instituto Secular da Obra de Santa Zita: 'O padre Delmar vai construindo igrejas e assim vai construindo a Igreja'. Na construção desta Igreja a que se referia procurei nunca me descuidar e dediquei-me de alma e coração sempre àqueles que me foram confiados”, garante.

 

O apoio à juventude das Forças Armadas

Passados quatros anos no Arciprestado do Sabugal é chamado pelo seu bispo para três paróquias do concelho de Celorico da Beira. Uma nova missão que não vai durar muito. “Eram três paróquias. Mas foi uma passagem muito meteórica. Estive lá oito meses”, assinala referindo que em 1967 deixou a Diocese da Guarda porque foi chamado para as Forças Armadas como capelão na Marinha. “Fiz parte do primeiro grupo de formação de capelães militares que houve no país”, destaca. Aquilo que inicialmente pensava ser uma missão curta, acabou por marcar mais uma longa etapa da sua vida. “Passei 20 anos na Armada Portuguesa, mas não pensei que viesse a ficar tanto tempo. Nós íamos para estar dois anos que eram obrigatórios”, observa.

Sobre a presença de um sacerdote capelão nas forças militares o padre Delmar acentua o largo campo de evangelização que tinha diante de si. “Toda a juventude passava pelas Forças Armadas, porque naquela altura o serviço militar era obrigatório. Por vezes até alguns com deficiências físicas, mas era tudo recrutado para as Forças Armadas devido às dificuldades que se atravessavam no Ultramar. A juventude precisava de um apoio moral, que lhes indicasse um rumo. Sem este apoio, sem uma formação humana e religiosa a juventude ficaria desfasada das realidades. Por isso, em boa hora se criou o serviço de assistência religiosa às Forças Armadas”, frisa.

Depois de muito navegar nas embarcações militares, o padre Delmar Barreiros regressa a terra e termina a sua missão de capelão da Marinha, com grandes recordações. “Fiz algumas voltas ao mundo, não só na Sagres mas também noutros navios, como a fragata Comandante João Belo. Pela Marinha visitei 56 países. Foi um 'brindezinho' que recebi nas Forças Armadas”, comenta.

 

O pedido do Cardeal Ribeiro

Nos últimos quatro anos de 'carreira militar' foi adjunto do Capelão-Mor das Forças Armadas, acumulando com a missão de pastor das paróquias de Igreja Nova e Cheleiros, no Patriarcado de Lisboa. “Há um incêndio na igreja de Igreja Nova, em Mafra, e o Senhor Patriarca, D. António Ribeiro pede-me para ir para lá para construir a nova igreja”.

Em 1987, quando deixa a Marinha e estava de malas feitas para voltar à Guarda, o Cardeal-Patriarca, D. António Ribeiro nomeia o padre Delmar, pároco de Rio de Mouro para substituir o padre Alberto Neto que havia falecido. “Senti esta nomeação como um peso que estava a cair em cima de mim. Porque sabia a responsabilidade de substituir aquele homem e aquele sacerdote. Eu não me sentia o indicado para enfrentar determinadas responsabilidades, e tinha também a responsabilidade de construir uma nova igreja, numa paróquia que tinha cerca de 50 mil pessoas. Mas quando fui confrontado com a vontade do Senhor Patriarca, eu apenas disse: 'Se o Senhor Patriarca quer, eu só tenho uma coisa a fazer: querer também!’”, conta ao Jornal VOZ DA VERDADE.

 

Mobilidade

Segundo o padre Delmar Barreiros, a sua preocupação estava na continuação da missão dos seus antecessores, mas o seu lema sobrepunha-se. “Servir a Deus com alegria”. Para isso, toma uma atitude muito concreta: “Continuar a servir a Deus com alegria”.

Em 1992 é inaugurada a nova igreja de Rio de Mouro, e em 1995 é convidado a acompanhar, na Diocese de Lisboa, os imigrantes que começavam a chegar a Portugal à procura de uma solução económica. É criado o Serviço Diocesano de Pastoral das Migrações e Turismo, que vem a tornar-se num outro organismo denominado Pastoral da Mobilidade. “Engloba a Pastoral do Turismo, o Apostolado do Mar e todas as minorias étnicas”, salienta o padre Delmar Barreiros.

Para além das 14 comunidades estrangeiras que acompanha, assume as paróquias de Alfama, São Miguel, São Tiago e Santa Cruz do Castelo, em Lisboa, onde ainda hoje é pároco e com quem vai vivendo o seu ministério sacerdotal numa afirmação de fé diária. “Espero que a minha vida seja sempre uma celebração do meu sacerdócio. O ser sacerdote ministerial afirma-se em cada dia. Para mim, resta-me fazer um exame de consciência, perguntando o que poderia fazer mais, e dar graças a Deus pelo que fiz. Desde pequenino que vi que Deus não me largava, e eu também não O quero largar. Vi que Ele me seduziu e eu deixo-me seduzir por Ele. É essa a força que eu peço a Deus”, garante.

 

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Igreja portuguesa foi pioneira no acolhimento aos imigrantes

O Patriarcado de Lisboa acolhe mais de metade dos estrangeiros de todo o país, e o acolhimento que desde o final dos anos 90 foi dado a estas novas comunidades foi referência a nível internacional. Segundo o padre Delmar Barreiros, que desde 1995 tem a responsabilidade, na Diocese de Lisboa, de acompanhar 14 comunidades migrantes, “Portugal foi considerado o primeiro país, em todo o mundo, no acolhimento aos imigrantes”. Segundo conta ao Jornal VOZ DA VERDADE, este responsável pela pastoral da Mobilidade no Patriarcado de Lisboa, o 'boom' da imigração em Portugal aconteceu entre os anos 1999 e 2003, e “o acolhimento cristão, olhando para quem chegava como um irmão, foi dado pela Igreja portuguesa”.

Ucrânia, Cabo Verde e Brasil, “eram os países com maior número de presenças em Portugal”. A partir de 2006-2007 “muitos destes que vieram, foram saindo porque já tinham conseguido realizar o seu ‘pé-de-meia’ necessário para sustentar a família, e outros mudaram-se para outros países”, observa. “Tivemos cerca de 120 mil ucranianos em Portugal, hoje temos cerca de metade. Mas a maioria, mais de metade está em Lisboa”.

Segundo refere o padre Delmar Barreiros, actualmente “não há já grandes fluxos de estrangeiros para Portugal”, estando a situação “estabilizada”. Na totalidade serão “cerca de 500 mil estrangeiros em Portugal, em comparação com os cerca de 5 milhões de portugueses no estrangeiro”, aponta referindo que “muitos dos imigrantes dão um contributo grande para o desenvolvimento do nosso país”.

texto por Nuno Rosário Fernandes; fotos por Diogo Paiva Brandão
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