Domingo |
À procura da Palavra
Dureza de coração?

DOMINGO XXVII COMUM Ano B

"Foi por causa da dureza do vosso coração

que ele vos deixou essa lei."

Mc 10, 5

 

Hoje é um dos dias em que apetecia pegar só no final do evangelho: Jesus, rodeado das crianças que chamou para junto de si e a dizer que só pode entrar no céu quem acolher o Reino como uma criança. Com o encanto e o coração de uma criança! Aparentemente mais fácil do que a primeira parte do evangelho, que evoca as situações dolorosas das uniões e desuniões entre o homem e a mulher, os matrimónios e as separações. E sentindo-me muitas vezes pequeno diante de tantos testemunhos felizes e dolorosos, não posso deixar de partilhar algumas palavras sobre este tema delicado em que o ideal e o real tantas vezes se opõem.

Diante da cilada que lhe armam, Jesus lembra as palavras da criação e destrói a base do patriarcado na relação do casal. Ele exclui qualquer espécie de domínio do homem sobre a mulher. Entre o homem e a mulher não pode haver opressão ou subjugação de ninguém, porque Deus criou-nos homem e mulher. Ambos com a mesma dignidade, responsáveis pelo seu destino, chamados à felicidade. Nenhuma felicidade se faz subjugando alguém. O projecto matrimonial só pode ser a suprema expressão do amor humano, se nenhum fôr dono ou exercer domínio sobre o outro. As inúmeras situações de “violência doméstica”, da morte de mulheres às mãos dos maridos, e até de maus tratos entre namorados são gritos de alerta.  Quanto de cultural, de tradições desumanas, e até de práticas religiosas contrárias às palavras de Jesus, é preciso ainda evangelizar? O que existe ainda de controle, submissão e imposição do homem sobre a mulher no dia a dia, em instituições civis e religiosas? Que “nova evangelização” para a igual dignidade do homem e da mulher é pedida a nós, cristãos?

O horizonte de verdade e de compromisso em que Jesus coloca o amor de um casal é uma interpelação constante à nossa vida. Creio que já ninguém acredita no casamento como um “seguro-contra-todos-os-riscos”, e ainda bem, porque nunca o foi! Se é verdade que as relações são mais frágeis, também se ganhou em autenticidade, em coragem de dar nome ao que se pensa e se sente. Não percebemos melhor que o amor é um projecto, que tem crises e altos e baixos, e que vale a pena reacender o fogo que se apagou quando as rotinas gelam a relação? Alguém viu o filme “Terapia a Dois”, ainda nos cinemas? Sim, pouco ou nada fala de Deus, mas fala tanto de reconstruir o amor que imagino Jesus a sorrir com as nossas trapalhadas afectivas!

Mas o mais difícil é outra coisa. Os casamentos que acabaram (alguns nunca tinham começado!), as separações dolorosas, as culpas que se eternizam, a dor de sentir que Deus parece olhar de lado para quem “falhou” no casamento, a dificuldade de a Igreja acolher tantos que sofrem e reconhecer algo que verdadeiramente acabou, isso é que é difícil. Ah Jesus!, que ajuda nos pedes e nos dás para sermos verdadeiramente intérpretes da tua vontade em libertar e salvar o que estava perdido? Como podemos acolher o Reino como uma criança?

P. Vitor Gonçalves
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