Domingo |
À procura da Palavra
Tal qual uma castanha

DOMINGO XXXII COMUM Ano B

"Ela, na sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha,

tudo o que possuia para viver.”

Mc 12, 44

 

As voltas do calendário colocaram este ano o dia de São Martinho neste domingo em que os gestos de duas mulheres pobres da Bíblia são apontados como exemplo. A viúva de Sarepta que oferece tudo o que lhe restava de farinha e azeite ao profeta Elias, e aquela que Jesus vê colocar duas pequenas moedas no tesouro do Templo. Pessoas e gestos tão pequenos, como o de Martinho a cortar a capa para agasalhar um pobre, e que nos falam tanto de gratuidade, simplicidade e verdade. São os gestos com que Deus conta para mudar os nossos corações e até o mundo, os que falam mais do que mil discursos, e denunciam toda a religiosidade que não leva à descoberta da dignidade humana.

Como a castanha cuja casca se parte com o calor para oferecer o fruto saboroso e quente, o gesto de Martinho tornou-se paradigma de uma verdadeira caridade. Uma capa grande, por mais bonita e rica que seja, se puder abrigar dois, não deve pertencer só a um. Tirar consequências deste milagre da partilha não pode justificar preguiças ou inércias, mas conduz a uma justa redistribuição das riquezas. Como são corajosas as palavras de São Basílio (330-379): “"O pão que para ti sobra é o pão do faminto. A roupa que guardas mofando é a roupa de quem está nu. Os sapatos que não usas são os sapatos dos que andam descalços. O dinheiro que escondes é o dinheiro do pobre. As obras de caridade que não praticas são outras tantas injustiças que cometes. Quem acumula mais que o necessário pratica crime"! Porque, se existe a miséria da pobreza também existe o escândalo do excesso, se existe o drama de quem nada tem por não haver trabalho também existe a indignidade de quem tudo tem sem trabalhar. Ou então a trabalhar explorando outros, enriquecendo à custa de tantas misérias.

Já sabemos por onde se move Jesus. Nem fama, nem poder, nem ostentação o atraem. Fala da religião como serviço e denuncia o oportunismo dos seus dirigentes, “põe” Deus ao alcance de todos e apresenta uma viúva como modelo de entrega e confiança em Deus. Não deixou tratados de economia mas deu ao amor horizontes infinitos e concretos de realização. S. Martinho teve uma vida cheia de apostolado, fundou mosteiros, visitava as comunidades e atendia os pobres, e morreu aos oitenta e um anos a dizer: “Senhor, se o vosso povo precisa de mim, não vou fugir do trabalho.” Mas sempre o reconheceremos com a espada a cortar a sua bela capa e a dá-la a um pobre que morria de frio. De quantas fomes e frios padecem os homens e mulheres nossos irmãos? E não teremos uma capa que possa ser cortada ou um pouco de farinha na panela para fazer um pãozinho? Não resolveremos tudo, mas talvez seja esse o segredo: se cada um fizer o que pode, as grandes mudanças acontecem. Até um punhado de castanhas e um copito de vinho, partilhado com amizade, é um milagre inesperado!

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