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Caridade/amor
Caridade alienante ou alienação do bom senso?
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A palavra caridade tem ultimamente ocupado um lugar de destaque no discurso público. E não pelas melhores razões, a começar pela obnubilação do bom senso. Rejeitando maniqueísmos entendemos que os que a combatem o fazem na luta contra uma caricatura por eles identificada como alienação e hipocrisia; e se é isso que vêm, compreende-se; mas já não é o mesmo confundir a caricatura com a imagem.

 

A mais bela palavra
Caridade é para os cristãos uma palavra da Escritura que conduz ao coração da própria fé mediando a imagem d’Aquele que, sendo inefável e invisível, se apresenta a nós como “agape”, termo grego traduzido em latim por “caritas” e em português por “caridade/amor”; exprime a atitude de Alguém que gosta de nós gratuitamente, sem nos tirar a liberdade de O rejeitarmos. A mesma nos ensina que não se pode olhar para Deus sem olhar para o próximo e que na hora da avaliação final o critério será o da partilha: “Estava com fome e destes-me de comer…” Ou ainda: “Se alguém diz que ama a Deus, mas sem amar o seu irmão, é mentiroso”. Isso faz parte da matriz cristã. Logo no início da Igreja se regista que os crentes eram assíduos “à união fraterna… vendiam terras e bens e distribuíam…”. Esse ideal de uma comunhão comprometida, que nunca estará totalmente concretizado, tem constituído ao longo dos séculos uma força que orienta os crentes para esse iniludível ponto de referência. Daí surgiram princípios e critérios com um impacto forte na conduta das pessoas; quando, por exemplo, falamos de conceitos como “bem comum” ou “destino universal dos bens” não estamos a inventar; já S. Basílio escrevia no século IV que “o pão que para ti sobra é o pão do faminto… O dinheiro que escondes é o dinheiro do pobre. As obras de caridade que não praticas são outras tantas injustiças que cometes”.

 

A palavra que conduz à ação
Esta visão leva o crente, como cidadão/membro da polis, a tomar posição crítica perante o que a todos diz respeito, discernindo as injustiças que geram a pobreza. A fraca intervenção política (não é o mesmo que partidária) dá aos críticos alguma razão.   A nossa pobreza estrutural abona a seu favor. No entanto, ser alérgico para com ela, também pode expressar miopia. Se na Igreja se tem insistido muito na partilha, tem havido também por parte de entidades, grupos e individualidades intervenções “políticas” interpelando a governação. Há poucos dias a Conferência Episcopal referia que uma “asfixiante austeridade” envolvia a população e que era necessário dar “mais explicação” das medidas tomadas. O recado é claro: abram os olhos, vejam como as pessoas estão a sofrer e não as tratem como números; não ignorem o direito que a Constituição atribui ao cidadão “de ser esclarecido objetivamente sobre atos do Estado e demais entidades públicas (Artº 48º)”. Nisto vemos espaço para tudo o que tem vindo ao de cima no debate sobre a crise:  as causas, os causadores, saber para onde foi o dinheiro que a todos pertence, por que é que os cumpridores são os primeiros e os maiores sacrificados; como vai a corrução, as influências, os negócios público-privados. Quando há tempos um dos nossos Bispos, de uma forma direta apontava o dedo para coisas de que todos falam, quase caia o Carmo e a Trindade, pois que estava a meter-se na política. Mas vejamos mais alguns exemplos: os Movimentos Operários Cristãos de Portugal e de Espanha tornaram pública a sua adesão à jornada de ação e de solidariedade do passado dia 14 de Novembro. A Comissão Nacional Justiça e Paz na Conferência de 2 de Novembro sobre “O país que queremos” abriu um espaço de debate, onde se proferiram expressões como “selva de natureza social”; a mesma publicou nos começos de Outubro o documento “Os números e as pessoas”, criticando a ”subserviência do Governo perante os ditames da troika” e o seu “discurso determinista e fatalista”. A Caritas Portuguesa tem continuamente interpelado a sociedade e os governantes para a gravidade da situação, como também tem gerido muito do serviço concreto de apoio aos que não querem só palavras, mas também um pouco de pão, não como esmola que humilha, mas como algo que também lhes pertence… enquanto não ultrapassarmos as injustificáveis injustiças.

 

Calma e bom senso no meio da tempestade
E se olharmos para a campanha despoletada por uma afirmação (descontextualizada) da Presidente do Banco Alimentar Contra a Fome, dizendo o que é óbvio (que é insustentável o consumismo e o desperdício do mundo rico), concluímos que a crise também chegou ao bom senso, a não ser que haja outras razões menos claras a motivar tanta alergia à caridade.

texto por P. Valentim Gonçalves, CJP-CIRP; fotos por Banco Alimentar
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